“Nem todos os processos de reforço de capitalização implicam injeção de dinheiro vivo. Há varias opções para reforçar os capitais da TAP, mas o Governo nunca tentou nenhuma.”
A privatização da companhia área esteve em discussão esta quinta-feira no programa "Política Mesmo" da TVI24. No dia em que o Governo anunciou, em Conselho de Ministros, que o consórcio formado pela Azul e pela Barraqueiro venceu a corrida à privatização de 61% da TAP, João Galamba, do PS, Bruno Dias, do PCP, e Hélder Amaral, do CDS, foram os convidados do programa e os protagonistas de um debate aceso sobre a matéria, moderado pelo jornalista Paulo Magalhães.
Para João Galamba, a operação de reforço de capitalização que envolve o consórcio privado liderado por David Neelman, poderia ter sido feita pelo próprio Estado que, na sua opinião, teria maior capacidade para o efeito.
“Se é válida para os privados não consigo perceber porque o Estado não a podia fazer, até porque tinha maior capacidade para a fazer. [...] É irónico que isto acabe com um privado a dizer que também vai dispersar o capital em bolsa.”
Bruno Dias classificou o encaixe do Estado com o negócio, de cerca de 10 milhões de euros, como uma “gorjeta”, sublinhando que só um avião A330 custa cerca de 202 milhões e a TAP possui 14 na sua frota.
“Isto é uma gorjeta. Não há um preço bom para vender a TAP, da mesma forma que não há um preço bom para ver vender o país, mas 10 milhões de euros?! A TAP tem 14 modelos A330. Cada um custa 202 milhões.”
Contudo, para Hélder Amaral, a entrada de capitais privados foi a melhor solução encontrada pelo Governo para garantir "o presente" e a manutenção da empresa num mercado concorrencial.
“Para garantir o presente, para estar num mercado concorrencial, para não perder oportunidades, a melhor maneira é a entrada de capitais privados na TAP.”
Por isso, o deputado do CDS afirmou que o objetivo do Governo foi encontrar um bom parceiro que potenciasse o valor da companhia, também na sua vertente estratégica, o que acontece com “qualquer comprador da América Latina.” Um comentário que mereceu uma reação imediata de Bruno Dias, que aproveitou para ironizar, fazendo referência a um falecido traficante de droga colombiano.
“Nem que fosse Pablo Escobar! Qualquer latino-americano? É esse o critério?”, questionou
O Governo tem sido severamente criticado pela oposição por efetuar o negócio a poucos meses das eleições e sem um consenso político alargado. Mas Hélder Amaral garantiu que “não há pressa nenhuma” na venda da empresa, destacando que o Governo tomou esta decisão “em pleno exercício das suas funções”. O deputado do CDS aproveitou ainda para acusar os socialistas de sempre terem defendido a privatização quando estavam no Governo, mas de terem mudado de ideias na oposição.
Por sua vez, João Galamba deixou uma farpa ao deputado do CDS, sugerindo o envolvimento de operações num quadro de "engenharia financeira".
"Engenharia financeira não é só uma coisa de bancos. Existe muito nestas operações. Vou gravar a frase do Governo 'garantir que é dinheiro fresco'. Vamos ver que tipo de operações é que estão envolvidas."