As cábulas de Montenegro e o elefante vermelho - TVI

As cábulas de Montenegro e o elefante vermelho

Os discursos finais das bancadas da direita já não versaram sobre o programa do Governo, que tinha a morte anunciada com os acordos da esquerda assinados durante o almoço e as moções de rejeição já entregues. PSD e CDS atacaram António Costa

O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, assumiu, esta terça-feira, a defesa do XX Governo Constitucional no Parlamento. Montenegro não levou o programa de governo da coligação Portugal à Frente para a tribuna. Não valia a pena. As quatro moções de rejeição já entregues na Assembleia da República pela esquerda seriam a crónica da morte anunciada do Governo PSD/CDS. Por isso, Luís Montenegro resolveu levar, nas cábulas, citações de António Costa ao longo dos últimos meses.

Luís Montenegro começou por recordar as palavras de António Costa a 26 de maio de 2014: ‘Nas legislativas, o PS não pode ter uma vitória que sabe a pouco. O PS tem de crescer muito’”, disse o líder parlamentar do PSD, concluindo que “um ano e meio depois, o PS não teve uma vitória que soube a pouco, perdeu. Não ganhou por um voto, perdeu por mais de 340 mil votos. Não cresceu muito, cresceu 1% neste período. Onde está a coerência do Dr. António Costa?”

A ironia de Luís Montegro terminou com a expressão de Costa dita naquela mesma tribuna, pouco antes: ‘Palavra dada é palavra honrada’.


Luís Montenegro arrancou palmas das bancadas à direita e a expressão de António Costa seria repetida tantas vezes quantas aquelas em que o deputado do PSD puxou das notas e citou frases de Costa.  

“Nove de setembro de 2014: ‘Eu não quero ser desagradável, mas há um equívoco na leitura que fazes do resultado das eleições europeias’”. Luís Montenegro recordou as palavras de António Costa para com o antigo líder socialista, António José Seguro. E, recorrendo uma vez mais à ironia, o deputado social-democrata por Aveiro disse:

“Eu também não quero ser desagradável, mas veja o ridículo do seu equívoco agora. Toda a gente percebeu que o povo votou e o PS perdeu mesmo”.


Mostrando que tinha a matéria estudada, Luís Montenegro recordou as palavras de Costa a 29 de março de 2015, em que terá dito “[quando o PS apela a uma maioria] não o faz pela mesquinha vontade de ter mais deputados do que os outros, fá-lo porque quer que o governo seja formado por decisão dos portugueses e não por jogos políticos na Assembleia da República”.

Do lado direito do hemiciclo não se disfarçaram os risos.

“Palavra dada, palavra honrada. Que pérola da incoerência política”, rematou Luís Montenegro, deixando a pergunta: “É esta a sua credibilidade?”


António Costa, sentado na bancada do PS, mostrava um ar sereno e ligeiramente sorridente perante a intervenção de Luís Montenegro, que começou o seu discurso por criticar o silêncio de Costa durante os dois dias de debate.


“Finalmente ouvimos o Dr António Costa, mas, quero começar por lhe dizer que fugiu à maior nobreza do debate democrático, o contraditório, a salutar confrontação democrática”.


“Este era não um debate qualquer”, apontou Luís Montenegro, acusando Costa de “preferir as reuniões secretas com os seus camaradas”. Montenegro acrescentou: “Preferiu cozinhar nas costas do povo e ao arrepio da vontade dos portugueses uma nova hipótese de governo”.

E Luís Montenegro continuou, citando uma frase de 9 de abril de 2015 atribuída a António Costa: “Não podemos deixar nem aos jogos partidários nem à vontade do Presidente a escolha do novo governo . No país de Abril, quem vota e quem escolhe os governos é o povo e vai ser o povo a escolher o próximo governo”.

“Elementar, meu caro Costa”, constatou um Luís Montenegro na pele de um Sherlock Holmes que desvendou o passado do líder do PS.


A investigação de Montenegro aos discursos proferidos por Costa não podia terminar sem a palavra, segundo o deputado do PSD, “a mais costista das palavras, a palavra poucochinho”, para recordar que, em 19 de setembro de 2015, António Costa terá dito: “Para que haja estabilidade é necessário que não ganhemos por poucochinho. Quem ganha por poucochinho só pode fazer poucochinho. Precisamos de vitória clara, inequívoca, que nos dê uma maioria“.

Ao que Luís Montenegro perguntou, ou melhor, “o país pergunta: quem perde por muito, o que é que pode fazer?”

Luís Montenegro afirmou que “António Costa lá apareceu e está cá hoje. Falou para explicar o inexplicável, falou para defender o indefensável, falou para assumir um acordo mínimo e a irresponsabilidade máxima”.
 
Uma irresponsabilidade que Luís Montenegro atribuiu aos “arranjinhos à la carte” com os “novos camaradas de viagem”, os mesmos de quem Costa teria afirmado,  em setembro: “Quem ouvir o PCP e o BE percebe que os dois partidos só têm um objetivo, combater o PS. São meros partidos de protesto. Querem estar nas manifestações, mas não no governo a resolver os problemas das pessoas".

E Luís Montenegro repetiu :”Palavra dada, palavra honrada”.

O líder da bancada do PSD foi aplaudido de pé pelas bancadas do PSD e do CDS.
 

O elefante vermelho no meio da sala


O companheiro de coligação do PSD também começou por criticar a atitude de António Costa neste debate. “Dizer que este debate é uma perda de tempo, como disse ontem o Dr António Costa, é um desrespeito por esta câmara, mas é, sobretudo, um desrespeito pelo voto dos portugueses”, disse Telmo Correia, que assumiu as despesas do discurso final pelo CDS.

Telmo Correia quis passar a ideia de que nem sempre é a melhor equipa em campo que ganha o jogo e que, apesar de já se saber que o programa iria ser rejeitado, disse que “a primeira conclusão é que a coligação PaF, que já tinha ganho a campanha eleitoral e que ganhou as eleições de 4 de outubro, voltou hoje e ontem a ganhar este debate”.

“Não ignoramos que desde o início pairou sempre sobre este debate, qual gigantesco elefante vermelho sentado no meio da sala, o espetro das moções de rejeição previamente anunciadas. Não o ignoramos, esteve sempre no meio da sala, ainda que o principal responsável desse facto, o secretário-geral do Partido Socialista, tenha comentado nos corredores, não tendo até este momento vindo a esta tribuna assumir as suas responsabilidades como era sua obrigação perante a câmara e perante a democracia”.

Num derradeiro golpe no ringue de boxe, Telmo Correia afirmou: “Ficou claro que existe uma maioria e um governo, que têm um rumo para Portugal, como ficou igualmente claríssimo que em Portugal só há um político preparado para liderar esse governo e esse político é o primeiro-ministro e chama-se Pedro Passos Coelho. Exatamente aquele que os portugueses escolheram e escolheram bem e não se enganaram”. 
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