Socialistas querem «mais informação» sobre prisão de Sócrates - TVI

Socialistas querem «mais informação» sobre prisão de Sócrates

Maria de Belém admite «estranheza» com falta de esclarecimento sobre os fundamentos da prisão preventiva. Vitalino Canas lamenta as informações «pouco esclarecedoras». José Junqueiro apela ao «contraditório». Ferro Rodrigues repete palavras de António Costa. Gabriela Canavilhas exige saber o fundamento da medida de coação. Dentro do PS, o tom é baixo e triste

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Choque, consternação, incredulidade. São estas algumas das palavras utilizadas por deputados do PS que esta terça-feira se encontram no Parlamento para a votação final global do Orçamento do Estado para 2015. O assunto é outro: a prisão preventiva de José Sócrates.

«A nível pessoal, sinto consternação, mas nada deve desviar o PS da afirmação dos seus ideais e da necessidade de se apresentar e reforçar como alternativa para país», afirmou a presidente cessante do PS, Maria de Belém.


No entanto, a socialista admitiu que desconhece os «fundamentos» para a prisão preventiva de Sócrates, considerando «estranho» que não se saiba mais.

«A informação disponível é pouca, o que para mim é estranho. Gostaria de saber mais, gostaria de não ter sido surpreendida como fui em relação a algumas fugas do segredo de justiça».


Maria de Belém reforçou que muitos socialistas «estarão tristes e incomodados», mas que o congresso deste fim de semana «tem a sua própria agenda». «Algumas coisas são muito importantes, temos de trabalhar, independentemente daquilo que se passa connosco», disse, visivelmente emocionada.

A presidente cessante do PS prometeu «deixar que a justiça faça o seu caminho», apelando aos «recursos» que José Sócrates pode utilizar e não admitindo que o partido fique ligado a esta situação.

«Pode haver a enorme tentação de fazer manchar instituições através de pessoas, mas devemos preservar o bom nome dos partidos políticos», concluiu.


Já o deputado Vitalino Canas sublinhou «alguma incredulidade e preocupação» e também «alguma ansiedade para perceber o que se passa».

«Temos muitas informações, mas pouco esclarecedoras, vamos ver. Posso manifestar o meu choque, mas é a justiça a funcionar. Sou amigo de Sócrates. Do ponto de vista pessoal, gostava de ter mais informação sobre o que se está a passar. Não posso deixar de dizer que fiquei chocado, mas é natural».


O socialista começou por dizer que esta situação terá um «impacto pequeno» para o partido, que terá «as suas redes de proteção». No entanto, admitiu que «todos estes casos têm sempre impacto ao nível opinião pública».

«A situação afeta mais as pessoas que estiveram e estarão próximas de José Sócrates (…) O PS, como grande instituição que é, suportará bem esta situação», prometeu.

O ex-ministro da Justiça socialista Vera Jardim já tinha declarado à Renascença estar convicto da inocência de Sócrates, mas reconheceu que o caso «é um embaraço» para o PS.

Também o ex-Presidente da República Mário Soares criticou o «anormal aparato fortemente lesivo do segredo de Justiça» na detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, considerando que o que aconteceu «não pode passar em vão».

No Facebook, o deputado socialista João Soares considerou injusta a medida de coação de prisão preventiva aplicada a José Sócrates, salientando estar preocupado com a «promiscuidade entre política e os negócios e entre a Justiça e a comunicação social».

No Parlamento, José Junqueiro optou por destacar a «enorme estima» que tem por José Sócrates e o «grande constrangimento pessoal» que a situação lhe provoca.

«Desejo que ele possa demonstrar o contrário dos indícios que pesam sobre ele (…) Foi um orgulho ter participado no Governo dele e quero desejar que no futuro se possa fazer o contraditório de uma acusação que ainda não existe».


O deputado socialista admitiu o «custo» pessoal da situação, mas sublinhou que o partido está «estável» e «concentrado em ser uma alternativa de governo para o país».

«Há o custo de haver uma pessoa de que nos habituámos a gostar numa situação muito difícil, mas há a clareza do secretário-geral [António Costa] de dizer que uma coisa é a nossa vida afetiva e os sentimentos, outra é a realidade política». 


Já o líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, aproveitou para, «do ponto de vista pessoal» e «em termos afetuosos», enviar «um abraço» à família de Sócrates, reforçando apenas as palavras de Costa no sábado.

«O secretário-geral pediu que distinguissem os sentimentos de amizade pessoal da necessidade do PS continuar a desenvolver as suas políticas de oposição ao Governo. E é o que hoje se passará e também no congresso do PS. As responsabilidades do PS no futuro do país são enormes e queremos honrá-las».


A ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas também pediu para ser conhecido o fundamento da aplicação da medida máxima de coação a José Sócrates.

«Seria interessante saber qual é a fundamentação da medida de coação. É isto que nos incomoda, gostávamos de compreender a razão desta medida máxima. A própria lei outorga este esclarecimento».


A deputada socialista deixou ainda elogios ao ex-primeiro-ministro e prometeu que a amizade se mantém «incólume».

«Eu aprendi a conhecer um homem lutador, que pensava no país em primeiro lugar e é essa esperança que eu mantenho relativamente ao desfecho deste processo».
 


Já deputado socialista João Galamba afirmou que «a detenção de José Sócrates faz parte de um processo judicial e é assim que se deve manter» e que separar a política da Justiça é uma responsabilidade de todos.

«O que estou a dizer é que a detenção de José Sócrates faz parte de um processo judicial e é assim que se deve manter, é só isso que estou a dizer, não estou a dizer mais», afirmou João Galamba.


O parlamentar socialista respondia aos jornalistas na Assembleia da República, depois de questionado se considera que a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro na segunda-feira à noite pode ter subjacentes motivações políticas.

«O importante aqui é garantir que nós não juntamos o que deve estar separado, e é só isso, temos de garantir que a separação da Justiça e da política não é apenas uma frase, é uma prática e uma prática de todos nós, é isso que se espera», afirmou o deputado do PS.


O socialista confessou ser «amigo de José Sócrates» e que «obviamente este é um momento difícil a título pessoal», mas frisou querer «viver este momento difícil como uma questão pessoal».

«Acho que é assim que devemos viver», declarou Galamba, que considerou que este é «um momento de enorme responsabilidade para todos, para a Justiça portuguesa, para o jornalismo português e para a política portuguesa».

O deputado do PS assinalou que «as instituições vivem dessa separação e a democracia portuguesa vive dessa separação» e que cabe a todos «assegurar que ela é garantida»: «Peço a todos vós, da maneira que o exijo a mim mesmo, que essa separação é mantida».

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