Ainda não há acordo sobre Lei da Nacionalidade - TVI

Ainda não há acordo sobre Lei da Nacionalidade

Assembleia da República

Propostas do PSD e Bloco para alterar o diploma, debatidas esta quinta-feira na Assembleia da República, vão baixar à comissão sem votação

As propostas do PSD e do Bloco de Esquerda para alterar a Lei da Nacionalidade, hoje debatidas na Assembleia da República, vão ser discutidas em sede de especialidade, baixando à comissão sem votação, disseram fontes parlamentares.

A baixa das propostas à comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias (primeira comissão) foi pedida pelas duas bancadas proponentes, durante o debate no Parlamento, esta tarde.

Em causa está um projeto de lei do PSD que defende a atribuição da nacionalidade portuguesa aos netos de emigrantes nascidos no estrangeiro sem ser necessário comprovar a "efetiva ligação à comunidade" e uma iniciativa do Bloco de Esquerda que propõem que os filhos de estrangeiros nascidos em Portugal tenham automaticamente nacionalidade portuguesa.

Ambas as propostas mereceram críticas dos grupos parlamentares do PS, PCP e CDS-PP, apesar de, em alguns aspetos, haver abertura dos partidos para aprofundar o debate, que será agora feito na primeira comissão.

Fonte oficial do Ministério da Justiça adiantou à Lusa que "o Governo já concluiu a proposta de regulamentação" da lei, aprovada em 2015, e esta será agora sujeita a "audições das entidades envolvidas".

Quanto à proposta do PSD sobre os netos, o deputado Carlos Páscoa, eleito pelo círculo de fora da Europa, afirmou que os netos dos emigrantes é que "defendem Portugal e são verdadeiros embaixadores".

"A ministra da Justiça está há um ano com o projeto na gaveta e não o resolve. Isto é simplesmente para corrigir essa falha", disse, referindo-se à regulamentação, por fazer, da lei, aprovada em maio de 2015 no parlamento.

O antigo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Cesário (PSD) alegou que a proposta social-democrata procura simplificar um processo que é "absolutamente dramático e desesperante, moroso e com extrema burocracia", além de ter custos elevados, no caso dos cônjuges de portugueses, e que, para os netos, a nacionalidade não deve ser "condicionada por obstáculos burocráticos incompreensíveis e dificilmente demonstráveis com objetividade, como a ligação ao território nacional".

Sobre a proposta relativa aos netos, o deputado do PCP António Filipe salientou estarem em causa "cidadãos que são portugueses, emigraram, tiveram filhos e não lhes atribuíram nacionalidade portuguesa, porque os pais preferiram atribuir-lhes outra nacionalidade, e agora que têm netos e que Portugal é um país da União Europeia, vem todo o patriotismo ao de cima".

Uma posição partilhada pelo CDS, com o deputado Telmo Correia a recordar que, quando a lei foi alterada em 2015, o parlamento - sob proposta do PS - concordou na necessidade de que essa atribuição dependesse da demonstração da ligação a Portugal.

"O que poderíamos fazer era regulamentar a demonstração dessa efetiva ligação, pelo domínio da língua ou a visita ao território nacional", sustentou o deputado centrista.

Também o PS, pela voz de Pedro Delgado Alves, considerou que a lei da nacionalidade "não pode depender apenas da vontade pontual" e defendeu que a solução atualmente consagrada na lei é equilibrada.

Já quanto à dispensa de oposição do Ministério Público no caso de cônjuges de portugueses que queiram adquirir a nacionalidade - outra proposta do PSD -, os socialistas admitem aprofundar o debate, mas admitem dúvidas "quanto ao modelo" em que tal poderia ocorrer.

O CDS também aceita debater este ponto, apesar de considerar que não se trata de uma mudança importante.

O deputado do BE José Manuel Pureza afirmou que, "do outro lado do Atlântico, chegam sinais grotescos de um tempo em que a nacionalidade está a ser usada para privar cidadãos de direitos básicos e pata produzir políticas de terror xenófobo" e a proposta bloquista quer que a nacionalidade portuguesa "exprima uma estima efetiva pela riqueza das sociedades plurais".

António Filipe admitiu que o princípio é "generoso", mas sustentou que "qualquer cidadão que nasça em Portugal, mesmo que por acidente, ter nacionalidade portuguesa originária, é ir longe de mais".

Pedro Delgado Alves avisou que a proposta pode "acarretar riscos significativos", originando "migrações impulsionadas pela vontade de nascer num determinado território".

Já o CDS recordou palavras do antigo ministro e deputado socialista Pedro Silva Pereira, que defendeu, no passado, que tal iniciativa seria "um convite à imigração ilegal e clandestina".

Quanto à proposta do Bloco para equiparar os custos dos processos aos dos pedidos de emissão do cartão do cidadão, o PS mostrou-se disponível para ponderar esta matéria.

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