Bloco Central? A partir de agora, o tango vai ser outro - TVI

Bloco Central? A partir de agora, o tango vai ser outro

Passos Coelho deixou vários avisos ao Governo de José Sócrates na sua própria visão do estado da Nação

Que ninguém ouse falar em Bloco Central, porque Passos Coelho não está para aí virado. É tempo de «separar as águas», segundo o presidente do PSD, pelo que se adivinha que agora o tango vai ser outro.

«No dia em que quiserem mudar de Governo, mudam mesmo; no dia em que quiserem um PM que não seja socialista, têm um aqui. Não precisam de se angustiar, juntando-nos todos no Governo. Nós dizemos não ao Bloco Central. Não queremos ser nós a fazer as leis do PS, ou dizer ao Governo como tem de governar», disse.

Passos quer ser primeiro-ministro, claro, mas só quando os portugueses o «escolherem». Para já, vai avisando José Sócrates que vai ter de mudar para conseguir o apoio do PSD já no próximo Orçamento de Estado.

«Não contarão connosco para mais ataques à classe média em nome de problemas externos», avisou, referindo-se ao «aumento encapotado dos impostos em 2011», através da diminuição das deduções fiscais na Saúde e na Educação. «Esse não é o nosso caminho, por isso não podem contar com o nosso voto. Arranjem alternativas», reforçou.

Os sociais-democratas estão «prontos para as responsabilidades governativas», mas não querem «usurpar» o Governo. «Continuaremos a construir uma alternativa, independentemente dos humores do Governo e do PS», garantiu.

O estado da Nação, segundo Passos Coelho

Sem assento parlamentar, Passos Coelho estará ausente do debate do estado da Nação, na próxima quinta-feira. Por isso, deu já hoje o seu «contributo».

«O primeiro problema é a degradação das funções de soberania, quer na justiça, quer na segurança. O Estado não tem estado com a isenção que é necessária», disse.

O «desemprego estrutural» é o segundo problema que o líder do PSD identifica. Na sua opinião, os milhares de desempregados são «um custo social», «uma vergonha», e representam «o falhanço do Estado social que nos tem governado». As razões? «A falha nas políticas de qualificação, a falta de flexibilidade no sistema económico, as políticas de mau investimento público e fraco investimento privado e de baixo retorno.»

Terceiro problema: a «pobreza endémica», que «envergonha a nossa realização social», resultado da «perversidade das políticas existencialistas e igualitárias e da política de subsidiação».

O líder laranja identificou também «a dívida pública e externa no limiar da insustentabilidade, que resulta de uma espécie de esperteza saloia», onde se gasta dinheiro «sem limite e responsabilidade». E, por último, «a falta de consistência estratégica nas apostas externas», que decorre dos «óculos a curto prazo» que os governantes usam. «Quem tem muitas prioridades a curto prazo não tem nenhuma prioridade estratégica», afirmou.

A altura de pedir responsabilidades

Não há mais desculpas. Para o PSD, a crise global não justifica tudo e são as «tendências» dos últimos 15 anos que agravam a situação. E, se «há uns tempos» Passos Coelho admitia que era necessário «acorrer à imagem externa do país», agora chegou a hora de «pedir responsabilidades». «Para que não pensem que podemos eternamente ajudar o país sem explicar o porquê dessas dificuldades», avisou.

Daí que seja necessário «uma mudança ampla». Mesmo que Passos acredite que o fim do ano vá chegar com menos défice público e mais crescimento económico.

«Bastaram os resultados das políticas que adoptámos para ouvirmos responsáveis do Governo a regressarem há nove meses atrás. Eis que agora já não precisam de ninguém, nem de Bruxelas, nem dos outros países da UE, nem do PSD», lamentou.

Resumindo: há que baixar o desemprego e a dívida externa, tornar o Estado isento e combater a pobreza. «Isto é que é estratégico e não as participações de empresas», concluiu, uma «alfinetada» ao negócio da Vivo.
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