Os negócios entre o Governo e os grupos económicos - TVI

Os negócios entre o Governo e os grupos económicos

Pacheco Pereira

É uma tendência «muito perigosa, que se acentuou com este Executivo, e que favorece a corrupção», alerta Pacheco Pereira, que desvenda a nova estratégia de comunicação e de actuação do PSD

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Os «negócios entre o Governo e os grupos económicos» marcaram o jantar-conferência de Pacheco Pereira na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide. Depois de ter desvendado a nova estratégia de comunicação social-democrata, que passará a marcar a política «laranja» já a partir da rentrée, o professor do ISCTE e militante de base - como faz questão de se apresentar - falou aos jovens, este sábado à noite, sobre uma «tendência muito perigosa»: «Um caldo de cultura que favorece a corrupção», garante.

«A negociação entre os gabinetes ministeriais e os grupos económicos, que não tem rasto de papel nem responde perante o Parlamento», é «uma tendência que se acentuou com este Governo: trazem para dentro dos gabinetes a negociação», afirmou.

«Eu não quero que o Governo se torne uma plataforma de discussão de negócios», muito menos «sem o escrutínio da Assembleia da República».

Com as grandes obras públicas prometidas pelo Governo como pano de fundo, Pacheco Pereira endureceu o discurso: «Quando um ministro diz que [a obra] é a custo zero, eu desconfio». Assim como desconfia que «subitamente os privados queiram fazer tudo a custo zero. Tudo o que, antes, saía do Orçamento de Estado. Têm de existir contrapartidas».

Pacheco Pereira desconfia ainda dos anúncios do Governo que, antes do lançamento do concurso público, já sabe que «os privados querem fazer a obra».

«Deslumbramento tecnológico»

«Está deslumbrado com a tecnologia», diz Pacheco Pereira de José Sócrates. E «convencido de que com gadgets moderniza o país». «Onde está o ViaCTT?», interrogou, recordando a iniciativa do Governo que prometia um e-mail para cada português. «Vários milhões foram deitados ao lixo com gadgets como a ViaCTT», acusa, apontando a necessidade de «desconstruir» as medidas anunciadas pelo Governo: «O senhor primeiro-ministro mente muito nas declarações em que apresenta as coisas, e os seus ministros também», apontando como exemplo o lançamento do computador «Magalhães».

O chip do carro: «a intromissão total»

A aula de Pacheco Pereira focou ainda o problema das cidades, da liberdade e passou pelo impasse europeu. Aos 100 jovens, que desde segunda-feira frequentam a Universidade de Verão do PSD, o historiador falou da «contínua erosão da liberdade pessoal»: «A nossa vida pode ser reconstruída por via electrónica. Estamos a aceitar a intromissão total; o chip do carro, com o argumento da eficácia, é um princípio que não pode ser aceite».

Os problemas das cidades

Já sobre os problemas que afectam as cidades, Pacheco Pereira deu o exemplo da «jovem mãe que sai do Barreiro às 5 ou 6 da manhã, para deixar os filhos no infantário, e depois tem de apanhar um barco e um autocarro para chegar ao seu emprego: até pode ganhar bem, mas vive mal». Por isso, é preciso reflectir sobre os problemas urbanos: porque os «mecanismos de exclusão não só são económicos».

Este domingo a Universidade de Verão encerra com o muito aguardado discurso da líder do PSD Manuela Ferreira, que tem sido acusada de estar em «silêncio» há demasiado tempo, faltando à festa do Pontal, no Algarve, e à do Chão da Lagoa, na Madeira. Pacheco Pereira tem entendimento diferente e garante que «a líder do partido deve falar por excepção e não por regra». «Temos de descansar desse palavreado todo e dos enormes estragos que isso fez à credibilidade do PSD», garantiu, acrescentando ainda que «nem sempre tem de ser o líder a falar».

Serão essas que, após análise e «desconstrução» dos anúncios do Governo, irão fiscalizar o Executivo «quase em tempo real»: será a nova estratégia com efeitos a curto-prazo. «Vamos medir, a partir de agora, a relação entre o silêncio e as falas».
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