Dívida da Grécia e de Portugal é "impagável" - TVI

Dívida da Grécia e de Portugal é "impagável"

Atenas entrou formalmente em incumprimento. TVI24 convidou três especialistas que deixaram várias advertências sobre a porta de rutura que está a ser aberta na Europa e a necessidade de reestruturar as dívidas

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O relógio marcava as 23:00 de Lisboa, 00:00 em Bruxelas, o momento exato da entrada em incumprimento por parte da Grécia. Na TVI24, a essa hora, um debate especial com três especialistas concluiu que a Europa está a ir "contra a parede" e que tanto a dívida da Grécia como a de Portugal são "impagáveis". 

O professor universitário Ricardo Paes Mamede foi o primeiro a levantar o problema da dívida para explicar o caos em que a Europa entrou: 

"É impossível, seja a Grécia, seja Portugal, chegar a um saldo orçamental de 3,5% em 2018. Isso seria prolongar austeridade muito para lá daquilo que temos. Não há solução para isto. A solução é a reestruturação das dívidas. Estamos todos a ir contra uma parede"


O economista tinha citado o "documento secreto do FMI", hoje divulgado, para ilustrar. "Estou desconfiado que foi o Fundo que pôs cá fora - [e que dizia que] a dívida grega seria impagável. Está a transmitir mensagem muito grande: não há problema nenhum na Grécia que possa ser resolvido sem pensar na reestruturação da dívida e sem pensar o problema da austeridade", afirmou, defendendo a "sensatez" do ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis. 

"Não encontro sinais de loucura em Varoufakis. Encontro sinais de sensatez"


O também professor universitário Paulo Sande concordou com o problema da dívida, mas discordou da atuação do governo grego, liderado por Alexis Tsipras.  

"Obviamente que não há nenhuns sinais de loucura. Pelo contrário: os gregos são extremamente hábeis neste tipo de negociação" e, lembrou, a Grécia voltou ao crescimento no final de 2014, mas tudo foi por água abaixo já com o atual Governo.  E, recordou também, a reestruturação da dívida teve uma janela de oportunidade logo quando o Syriza venceu as eleições.

"Em janeiro, havia uma enorme oportunidade. E o governo grego disse coisas sensatas. Todos já percebemos que dívidas não são pagáveis no estado em que estão. Estava em cima da mesa em janeiro e a possibilidade não apenas na Grécia, mas também em Portugal", atirou.

O embaixador Francisco Seixas da Costa, também presente no debate, defende que "não é tarde" para que o problema da dívida seja posto em cima da mesa. Mas... 

"O Ricardo tem razão quando diz que não há nenhuma solução plausível de crescimento numa economia como a nossa que nos permita pagar a dívida. Muito menos os gregos. O debate não pode incidir apenas sobre o caso grego, mas globalmente. O caso grego rompe com arquitetura em funcionamento e acaba por limitar a introdução da reestruturação da dívida neste momento", explicou. 


Cofres cheios de dívida


Naturalmente, a comparação com o caso português. O embaixador remeteu, depois, para a expressão utilizada pela ministra das Finanças portuguesa, sobre os cofres cheios que o país terá atualmente, criticando:

 "Temos os cofres cheios de dívida. O BCE, ao fazer baixar profundamente as taxas de juro, abriu momento de bonança na Europa".


Se o primeiro-ministro, Passos Coelho, diz que o país está "prevenido" para o embate que a situação na Grécia já está a causar nos mercados, Francisco Seixas da Costa advertiu que "essa almofada esgota-se muito rapidamente". "Está protegido nas próximas horas, nos próximos dias, até às eleições", vaticinou.

O embaixador e Paulo Sande quiseram frisar que a Europa precisa de uma solução, não querendo certamente empurrar a Grécia para fora do euro. "Não está nada um contra 18", disse Paulo Sande. A UE "precisa de uma solução". 
 

Varinha mágica


Francisco Seixas da Costa assinalou que este "é um momento trágico". "É a primeira vez que se rompe o equilíbrio europeu", dando uma "imagem extremamente fragilizante e de profunda incapacidade política" dos seus líderes, com uma "espécie de subsidiaridade que passam para os ministros das finanças como se eles tivessem uma varinha mágica".

Ricardo Paes Mamede contou no final do debate que se encontrou com Alexis Tsipras há três anos, em Lisboa.

"Perguntei-lhe com ar de gozo o que ia fazer se Merkel batesse com a porta, um dia que fosse primeiro-ministro. Com a maior serenidade, disse-me que isto nunca foi tentado, nunca ninguém tentou negociar. E que foi eleito para não tirar a Grécia do euro".


Se o "não" no referendo vencer, será ele a bater com a porta. 
 
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