Demissão de Robles gera reações para todos os gostos - TVI

Demissão de Robles gera reações para todos os gostos

  • Atualizada às 20:31
  • 30 jul 2018, 16:59

Rio acha que saída foi atitude correta e sensata. Jerónimo de Sousa diz-se de “consciência tranquila”. CDS questiona acordo PS-Bloco em Lisboa. Verdes dizem que "é um problema do Bloco de Esquerda”

O presidente do PSD aplaudiu esta segunda-feira a demissão do vereador do Bloco de Esquerda (BE) na autarquia de Lisboa, Ricardo Robles, argumentando que foi uma atitude correta e sensata.

Tive oportunidade de ler a argumentação dele, acho que ele esteve bem, teve uma atitude correta, sensata, uma boa argumentação", disse Rui Rio aos jornalistas, em Cantanhede, à margem de uma visita à feira Expofacic.

Uma atitude tanto mais difícil de tomar quanto é contra aquilo que era a vontade da própria direção do seu partido, que achava que não havia aqui nada de grave e que ele devia continuar", argumentou o líder do PSD.

Rui Rio considerou também que Ricardo Robles "presta um serviço à democracia", notando que elementos de outros partidos, que não nomeou, "que às vezes têm casos semelhantes ou piores, não tomam esta atitude".

Portanto, não é por ele ser de um partido diferente que vou deixar de relevar a atitude que ele teve", frisou o presidente do PSD.

Rio admitiu que a demissão de Ricardo Robles vai ao encontro do pedido nesse sentido feito pelo PSD de Lisboa mas notou a argumentação "muito correta e séria" usada pelo autarca do BE, afirmando que a demissão seria "muito mais fácil" quando decidida em "comunhão de ideias" com o Bloco de Esquerda "o que não é aqui o caso".

A coordenação nacional do Bloco de Esquerda queria que ele continuasse e não via aqui a contradição e a forte incoerência em que estavam a cair", sustentou Rui Rio.

É portanto mais difícil a atitude do Ricardo Robles e mais será de sublinhar. Para mim, o que interessa é o que as pessoas fazem, não é de que partido são", reafirmou.

“Consciência tranquila"

O líder do PCP afirmou-se de “consciência tranquila” com a sua forma de fazer política, sem se servir a si próprio, ao comentar os riscos de casos como o do bloquista Ricardo Robles.

Tenho esta tranquilidade imensa de continuar a fazer política da forma como aprendi: procurar resgatar o que de mais nobre tem a política, que é servir os interesses dos trabalhadores e do povo e não me servir a mim próprio”, afirmou Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista, após uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa.

Num primeiro momento, Jerónimo recusou-se a falar sobre a demissão de Ricardo Robles de vereador do BE na Câmara de Lisboa, devido à polémica com a compra de um prédio em Alfama, dizendo que não foi esse o tema da audiência com Marcelo e até se afastoiu ligeiramente do microfone.

Mas depois, questionado sobre os riscos “sistémicos” de o PCP também ser afetado pelo caso, o secretário-geral do PCP respondeu com ar grave e rematou com a frase: “Eu tenho a consciência perfeitamente tranquila.”

Antes, o vereador comunista na Câmara de Lisboa, João Ferreira, afirmou esta segunda-feira ser relevante para o PCP, não a demissão do vereador do Bloco, Ricardo Robles, mas o combate à dinâmica de especulação imobiliária em Lisboa.

A demissão "é uma decisão que decorre de uma escolha feita pelo próprio, uma decisão determinada por uma escolha, que resulta de uma avaliação que o próprio fez e da qual teria resultado a conclusão de que não teria condições para continuar em funções”, afirmou.

Para nós, a questão relevante não é o caso individual, mas é o facto de este caso evidenciar, tal como muitos outros, a dinâmica de especulação em que a cidade está mergulhada. É uma realidade que este caso deixou evidente, como muitos outros - sublinho -, e é esta realidade que torna necessárias medidas para combater esta dinâmica de especulação", acrescentou o vereador comunista.

João Ferreira sublinhou que o tema tem estado entre as preocupações do PCP nos últimos anos, levando o partido "a apresentar um conjunto de iniciativas, quer na Câmara de Lisboa quer no parlamento".

É esta realidade que nos preocupa, que tem justificado a nossa iniciativa. Quanto ao resto, não vou destacar este ou aquele exemplo, muito menos fazer julgamento sobre condutas individuais", acrescentou.

"Enorme incoerência"

À direita, o vereador do CDS-PP na Câmara Municipal de Lisboa, João Gonçalves Pereira, considera que a renúncia do bloquista Ricardo Robles deixa em aberto se o acordo de governação da cidade firmado entre PS e BE se mantém.

Esta saída de Ricardo Robles vem confirmar, vem demonstrar e confirmar, a enorme incoerência em que todo este processo político foi conduzido, foi gerido”, disse João Gonçalves Pereira, em declarações à agência Lusa.

Na opinião do centrista, “o Bloco de Esquerda fica aqui condicionado para o futuro a falar de matérias de habitação”.

Mas, para o vereador do CDS-PP, importa agora “que Fernando Medina venha clarificar se o acordo coligatório que tinha com o Bloco de Esquerda sempre se vai manter ou não".

Era importante essa clarificação aos lisboetas” por parte do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e deve ser feita “tão rápido quanto possível”, afirmou.

Apontando que durante todo este processo “não se ouviu uma palavra” por parte de Medina, João Gonçalves Pereira salientou que faz também parte da equação “saber se o Bloco de Esquerda quer manter esse acordo” daqui para a frente.

Gonçalves Pereira lembrou que “houve de Fernando Medina uma opção quando chegou à Câmara, que foi falar com todos os partidos à exceção do CDS”, tendo chegado depois a um acordo de governação da cidade com o BE, que atribuiu a Ricardo Robles os pelouros da Educação e Direitos Sociais, e permitiu que o executivo tivesse maioria.

A líder do CDS e vereadora da Câmara de Lisboa, Assunção Cristas, foi recebida pelo Presidente da República e à saída não quis comentar a demissão do autarca lisboeta do BE Ricardo Robles.

Seria uma grande deselegância institucional da minha parte para com o senhor Presidente da República”, afirmou Cristas aos jornalistas, à saída da reunião na Presidência da República, quando questionada sobre o caso da casa que levou à demissão de Robles, hoje anunciada.

“Sanar contradições graves”

Já o PAN, partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), evitou comentar o caso de Ricardo Robles, mas assinalou que a demissão do vereador da câmara de Lisboa é uma forma de “sanar contradições graves” e foi uma opção diferente de outros partidos.

A posição do PAN foi expressa pelo deputado André Silva, no final de uma rápida audiência de menos de 15 minutos com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa, destinada a avaliar o próximo ano político, após as férias.

Por três vezes, André Silva afirmou que o PAN não comentava nem fazia “uma avaliação política” deste caso que levou à demissão de Ricardo Robles, mas anotou que foi uma opção diferente “de outros partidos”.

Há várias formas de sanar contradições graves ou patentes ou que causam bastante incómodo social. O BE entendeu reagir desta forma, ao contrário do que outros partidos fazem”, assinalou.

"Problema do BE"

Poucas palavras dedicou também o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) sobre a demissão do vereador do BE na câmara de Lisboa, Ricardo Robles, afirmando que “esse é um problema do Bloco de Esquerda”.

Não nos pronunciamos. Isso não é um problema dos Verdes. É um problema do Bloco de Esquerda. Os Verdes continuam empenhados no combate à especulação imobiliária”, afirmou a deputada Heloísa Apolónia no final de um encontro com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa.

Ricardo Robles anunciou esta segunda-feira a sua renúncia como vereador do BE da Câmara de Lisboa, afirmando ser "uma decisão pessoal" com o "objetivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade".

Em causa está uma notícia avançada na edição de sexta-feira do Jornal Económico, que dá conta que em 2014 o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017 avaliado em 5,7 milhões de euros.

Continue a ler esta notícia