Marcelo de volta a Moçambique: visita de Estado e de afetos - TVI

Marcelo de volta a Moçambique: visita de Estado e de afetos

Presidente da República termina hoje uma visita a Roma, onde se vai encontrar com a Comunidade de Santo Egídio, e segue para Moçambique, 50 anos depois da primeira vez

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, termina esta segunda-feira uma visita a Roma, onde se vai encontrar com a Comunidade de Santo Egídio, para falar sobre Moçambique, e com o seu homólogo italiano, Sergio Mattarella.

O encontro com a Comunidade de Santo Egídio não consta da agenda oficial, mas o padre Angelo Romano, daquela organização católica, disse à Lusa que visa procurar “um caminho para o diálogo" que ponha fim à crise político-militar em Moçambique.

Trata-se do segundo encontro do Presidente da República com a Comunidade de Santo Egídio em menos de dois meses, depois de uma reunião a 16 de março, durante uma visita ao Vaticano.

A Comunidade de Santo Egídio teve um papel considerado fundamental nas negociações do acordo de paz entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), assinado em Roma, a 4 outubro de 1992, após 16 anos de guerra civil.

Um dos principais mediadores desse acordo, o italiano Mario Raffaeli, reuniu-se recentemente com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

A Renamo tem estado envolvida em confrontos com as forças de defesa e segurança no centro de Moçambique e ameaçou tomar o poder em seis províncias (de um total de 11) onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

Na semana passada, camponeses denunciaram à Lusa a existência de uma vala com uma centena de corpos na região da Gorongosa (centro), tendo a polícia anunciado a abertura de uma investigação.

O agravamento da crise levou recentemente Filipe Nyusi a convidar o líder da Renamo para o diálogo, mas Afonso Dhlakama condicionou as conversações à mediação do Governo da África do Sul, Igreja Católica e União Europeia.

O segundo e último dia da deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa a Roma inicia-se com uma visita a uma exposição na residência do Presidente italiano, onde depois se reunirá com Sergio Mattarella.

Fonte oficial da Presidência disse que Marcelo Rebelo de Sousa aproveitará o encontro para promover a candidatura do antigo primeiro-ministro António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas.

Será também manifestada a Sergio Mattarella solidariedade devido à crise dos refugiados e o desejo de uma relação de proximidade entre dois países, tendo em conta a dimensão da Itália e o que tem defendido em termos de políticas económicas e financeiras, acrescentou a fonte oficial.

Nesta visita a Itália, o chefe de Estado português está acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e pela secretária de Estado Adjunta e dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro - nascida em Moçambique, que foi quem anunciou a visita do Presidente a este país.

Marcelo Rebelo de Sousa deixará Roma esta tarde, seguindo para Moçambique após uma escala de apenas meia hora em Lisboa.

Mocambique: meio século de relação

O Presidente português chega a Moçambique na terça-feira de manhã e tem uma agenda intensa até sexta-feira à noite, circunscrita a Maputo e arredores da capital moçambicana, da qual não constam encontros com a oposição.

No entanto, o programa desta visita de Estado inclui quatro intervalos designados "períodos privados", onde podem caber conversações políticas e diplomáticas sem presença de jornalistas.

Esta será a sua primeira grande visita de Estado a Moçambique, país a que chama a sua "segunda pátria" e com o qual tem uma história de praticamente meio século.

Marcelo Rebelo de Sousa, 67 anos, conheceu Moçambique entre os 19 e os 20 anos, em temporadas de férias dos estudos na Faculdade de Direito de Lisboa, durante o mandato do seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, como governador-geral (1968-1970) da então província ultramarina, em plena guerra colonial.

Nesse período, nasceu a sua amizade com o pintor e poeta Malangatana, cujos quadros encheriam a sua casa em Cascais.

Recordar como o conheci e como ficámos irmãos é recordar 1968 e o primeiro quadro, comprado com a minha mesada de estudante do 2º. ano da universidade. Mais os encontros em 1969 e 1970, em Lourenço Marques [atual Maputo] e em Matalana", escreveu, quando soube da sua morte, em janeiro de 2011.

Duas décadas depois do 25 de Abril de 1974 e da independência de Moçambique em 1975, Marcelo Rebelo de Sousa visitou o país em funções políticas, como presidente do PSD, ativo na defesa de uma política externa que desse primazia à relação com os países de língua portuguesa, em detrimento da Europa.

Nessa altura, outubro de 1996, cumpriam-se seis anos sobre a assinatura do Acordo Geral de Paz entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e dois anos sobre as primeiras eleições livres neste país africano. Marcelo Rebelo de Sousa quis "dar o abraço do PSD a Moçambique" e celebrar "o tempo de democracia".

Em Maputo, foi recebido por Joaquim Chissano, à época Presidente da República, mas também se reuniu com Afonso Dhlakama - que passados estes 20 anos ainda lidera a Renamo - e anunciou "memorandos de entendimento" para a cooperação do PSD com os dois partidos moçambicanos.

Marcelo Rebelo de Sousa afastou-se da vida partidária, mas continuou a deslocar-se frequentemente a Moçambique, sobretudo para conferências e ações de intercâmbio académico, na qualidade de professor universitário de Direito. Chegou a fazer emissões dos seus programas de comentário televisivo a partir de Maputo.

A última visita que fez foi há apenas cinco meses, em dezembro de 2015, já como candidato a Presidente da República de Portugal, para participar no primeiro Fórum Social e Económico de Moçambique.

"Quaisquer que sejam as funções que assumirei no futuro, está presente em Moçambique um tratamento privilegiado, um carinho especial e um entendimento natural que passa por muita gente moçambicana, muita dela responsável, e pelo estreitamento de relações entre países, instituições, economias, culturas e universidades", declarou em entrevista à Lusa, na altura.

Referindo-se à situação de crise político-militar entre o Governo da Frelimo e a oposição da Renamo, o então candidato presidencial acrescentou: "É importante numa situação como aquela que se vive haver amigos de Moçambique - e eu conto-me entre os amigos de Moçambique - que podem, com o seu conhecimento da terra e da gente, contribuir para um clima fundamental para que haja democracia, desenvolvimento e paz".

Marcelo recebe líderes parlamentares em privado

O Presidente português vai receber durante a visita de Estado a Moçambique, em privado, os líderes parlamentares da Frelimo, no poder, e dos partidos da oposição Renamo e MDM, confirmou à Lusa uma fonte de Belém.

A notícia de que Marcelo Rebelo de Sousa vai ter encontros com representantes dos três maiores partidos moçambicanos foi avançada pelo semanário Expresso, no sábado.

O chefe de Estado português receberá, em três encontros, as líderes parlamentares da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), Margarida Talapa, e da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Ivone Soares - que é sobrinha do presidente deste partido, Afonso Dhlakama -, e o líder parlamentar do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), Lutero Simango.

De acordo com fonte da Presidência, que não adiantou a hora nem o local dos encontros, estes foram pedidos pelos representantes daquelas forças políticas moçambicanas com assento parlamentar.

O chefe de Estado português vai ser recebido pela presidente da Assembleia da República de Moçambique, Verónica Macamo, na quinta-feira de manhã.

Neste período, não decorrem sessões no Parlamento moçambicano.

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