A anexação da Crimeia foi a "maior violação do direito internacional da europa desde a II Guerra Mundial", afirmou o ministro português, numa palestra na Universidade Fundação Armando Álvares Penteado, perante alunos de economia e relações internacionais, que assinalou o fim da sua visita de quatro dias ao Brasil.
"Estou mais otimista em relação à [recuperação económica] Europa" do que em relação ao "conflito congelado" que existe na Ucrânia, que "limita muito a ação da União Europeia fazer ao resto do mundo", afirmou Machete.
No seu entender, a leste, não há um risco de uma nova Guerra Fria porque "não há uma questão ideológica" mas sim "questões nacionais", que são "mais difíceis de resolver".
Já a sul, a Europa apresenta vários problemas relacionados com o "terrorismo 'jihadista'". No caso da Líbia "não há um Estado falhado, não há é simplesmente Estado", exemplificou Rui Machete que, sobre Portugal, insistiu que o país está num processo de recuperação, semelhante à Irlanda, Espanha ou Itália.
Num discurso informal perante os alunos, Machete também se mostrou confiante na superação das dificuldades na Grécia, agora que "parece que [os governantes gregos] ganharam juízo" nas negociações com a União Europeia.
Machete duvida de acordo rápido
Rui Machete manifestou-se ainda cético em relação a um acordo rápido no Tratado Transatlântico de Livre Comércio e Investimento (TTIP, em inglês) entre a União Europeia e os Estados Unidos.
O chefe da diplomacia portuguesa reconheceu que o acordo comercial entre o Mercosul (América Latina) e a Europa não é tão prioritário porque Bruxelas está a fazer um esforço para fazer passar o novo tratado no Atlântico Norte ainda durante o mandato do Presidente dos Estados Unidos Barack Obama.
"Na hierarquia europeia, o TTIP tem primazia" para tentar obter um acordo ainda durante o atual mandato de Obama, mas Machete disse estar "bastante cético" que isso aconteça porque existem várias questões pendentes como a energia e as negociações estão muito atrasadas.
Por outro lado, nas prioridades norte-americanas está o acordo de livre-comércio no Pacífico, com a Ásia, algo que pode ainda prejudicar a expetativa dos governantes europeus.
"É difícil e eu gostaria, mas não é muito provável que, tendo o TTIP ainda de resolver problemas económicos, as coias andem depressa", disse o ministro português.
Além disso, o número de interlocutores dos dois lados e as implicações para os vários estados norte-americanos, que têm legislação fiscal autónoma em muitas matérias, também prejudica a negociação, acrescentou.
"Discutir a 28 de um lado e depois a América do outro, é muito difícil", resumiu Rui Machete.
O acordo, que visa eliminar barreiras alfandegárias e regulamentares entre os Estados Unidos e a União Europeia, está a ser negociado desde 2013 entre as duas partes, e as negociações têm conclusão prevista até ao final deste ano.