Camarate, tráfico de armas e Adelino Amaro da Costa - TVI

Camarate, tráfico de armas e Adelino Amaro da Costa

Sá Fernandes

Ricardo Sá Fernandes defendeu a tese que considera mais credível na 9ª comissão de inquérito parlamentar sobre a queda do avião em que seguia o primeiro-ministro da altura, Francisco Sá Carneiro

Última actualização às 20:50

O advogado Ricardo Sá Fernandes defendeu esta terça-feira como «tese mais plausível» para a explicação da queda do avião que transportava Francisco Sá Carneiro, em Camarate, a 4 de Dezembro de 1980, a intenção de liquidar o então ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa. Tudo por causa da posição que o governante tinha sobre o tráfico de armas. O advogado considerou ainda que, para a história, ficará a posição das comissões parlamentares de inquérito, que apontam para a existência de um atentado.

Para Sá Fernandes, que representa a família das vítimas, «a hipótese que vale a pena explorar e seguir», e que descreveu como a única «credível», de que dispõe dados, é que «o principal visado por este acto de sabotagem seria Adelino Amaro da Costa e teve a ver com a investigação acerca de tráfico de armas, de que Portugal era um expoente à época». Foi esta a tese que o advogado disse ter pedido que se investigasse no requerimento que interpôs para a reabertura do processo.

Ricardo Sá Fernandes sustentou esta tese no que descreveu como «uma sequência de factos arrepiante». O advogado começou por recordar uma série de questões publicadas a 11 de Novembro de 1980 pelo diário «Portugal Hoje» sobre se o Governo havia autorizado a venda de armas ao Irão. Depois, que no dia seguinte, o ministério emitiu um comunicado assegurando que tal não aconteceu. A 2 de Dezembro, Adelino Amaro da Costa questionou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas sobre esta matéria. Dois dias depois aconteceu o atentado. «No dia 9 o armamento seguiu para o Irão.

«Como cidadão aquilo que gostaria de ver apurado é se esta sequência de factos tem ou não a ver com aquilo que aconteceu em Camarate», apontou, salientando que «o tráfico de armas é um dos negócios mais difíceis de investigar».

Durante a audição, o advogado recordou ainda a posição do Estado português junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que se colocou ao lado das conclusões das comissões parlamentares de inquérito - «opostas às que os tribunais chegaram» -, que apontam «com toda a probabilidade» para a existência de «sabotagem» com objectivo de «liquidar» os ocupantes da aeronave.

«Ficará para história o trabalho das comissões parlamentares de inquérito e não as conclusões das autoridades judiciais», apontou.

O advogado recordou ainda a forma como foi tratado este caso. «Durante 20 anos, desde o dia em que o avião caiu até Junho de 2000, a posição das autoridades portuguesas de investigação aeroportuárias e criminais, foi que o avião tinha caído devido a acidente derivado à falta de gasolina», disse.

Só em Junho de 2000, lembrou, é que o Tribunal da Relação de Lisboa apontou que «não se pode concluir que o avião caiu por acidente, mas que também não se pode concluir que caiu devido a acção criminosa».

Para Ricardo Sá Fernandes, o que levou a que não se investigasse devidamente este caso durante os primeiros 20 anos foi uma «razão de Estado». «Todos os grandes crimes políticos do séc. XX não tiveram resposta», afirmou. «As autorias morais de todos estes crimes nunca foram julgadas». No caso de Camarate, Sá Fernandes admite que a situação política de Portugal na altura tenha feito pensar que se poderia correr o risco da eclosão de uma guerra civil, caso de concluísse que se tratava de um atentado.

Além de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, seguiam a bordo outras quatro pessoas: a esposa do primeiro-ministro Snu Abecassis, o chefe de gabinete António Patrício Gouveia e os dois pilotos do aparelho. Ninguém sobreviveu.
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