A concertação social é uma "feira de gado"? Ministro Santos Silva explica-se - TVI

A concertação social é uma "feira de gado"? Ministro Santos Silva explica-se

Polémica surge na sequência de uma crónica do jornalista da TVI Victor Moura-Pinto, Seis por Meia Dúzia, onde o MNE é filmado a comparar a negociação na concertação social para o aumento do salário mínimo a uma "feira de gado"

O ministro Augusto Santos Silva viu-se obrigado a explicar-se e a pedir desculpa depois de ter sido filmado pela TVI a comparar a concertação social a uma “feira de gado”. As imagens foram divulgadas na crónica do jornalista Victor Moura-Pinto, Seis Por Meia Dúzia, emitida no dia de Natal. A comparação feita pelo governante não caiu bem no meio político, nem aos parceiros sociais.

“Não comparei a concertação a uma feira de gado, o que comparei foi a negociação que é habitual fazer-se em feiras portuguesas”, explicou à TVI24 o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Santos Silva começou por justificar-se assim: “Quem as conheça [as feiras de gado] sabe bem quão dura pode ser a negociação, quão complexa pode ser a transação, que é caracterizada pela honradez das partes. Um acordo celebrado com a palavra ou com um aperto de mão vale mais do que um contrato assinado em cartório de notariado”.

 

A seguir, pediu desculpa pela comparação: "Essa conversa particular, em tom de brincadeira, é tornada pública, as palavras assumem outro significado. E, evidentemente, eu não quero que haja nenhuma espécie de dúvida. Portanto, primeiro, se algum parceiro social se sente desconfortável ou melindrado com as minhas palavras que foram tornadas públicas, a minha obrigação é dar esta explicação, esclarecer este sentido e pedir desculpa pela liberdade de linguagem que me permiti utilizar numa conversa privada entre amigos".

O motivo para o perdão

O momento era de descontração e também celebração. No jantar de Natal do PS, o ministro do Trabalho, Vieira das Silva, foi o centro das atenções por ter conseguido fechar, horas antes, o acordo para o aumento do salário mínimo entre patrões e trabalhadores (exceto CGTP).

As negociações entre patronato e sindicatos foram feitas debaixo do chapéu do ministro Vieira da Silva e o feito, ou seja, o dito acordo, foi comentado da seguinte forma pelo ministro Santos Silva:

Ali o Vieira conseguiu mais um acordo, pá”, comentou o ministro Santos Silva para com o seu colega socialista Eduardo Santos Silva, presidente da Assembleia da República. “Oh Zé António, és o maior… negociante! Grande negociante, era como uma feira de gado! Mas foram todos, menos a CGTP, hã…”.

Nos últimos dias, as declarações ganharam eco nas redes sociais e choveram críticas, desde logo pelos parceiros sociais.

As reações dos parceiros sociais

Em declarações à TVI, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, considerou que as declarações "não foram adequadas" e que se exigia "mais diplomacia a um ministro dos Negócios Estrangeiros".

“Não foram adequadas. Para ministro dos Negócios Estrangeiros exigia-se mais diplomacia nas expressões”  vincou António Saraiva. 

Já o presidente da Confederação dos Agricultores (CAP), João Machado, disse que ouviu as palavras de Santos Silva com surpresa e que estas foram "inapropriadas".

“Ouvi com surpresa obviamente porque me parece que as declarações foram inapropriadas. O acordo deu muito trabalho a um colega do senhor ministro, ao ministro Vieira da Silva", frisou João Machado.

Os parceiros consideram que o pedido de desculpas era inevitável e querem agora dar o caso como encerrado.

“O pedido de desculpas vem sanar a situação. Julgo que é um assunto arrumado", disse João Machado.

“Foi importante um pedido de desculpas. Uma frase infeliz, independentemente do contexto em que foi tida, só podia ter da parte do ministro esta humildade. Acabou por tê-la e registamos com apreço o sinal que foi dado", destacou António Saraiva.

A TVI também contactou o líder da UGT, Carlos Silva, que está ausente do país. Carlos Silva disse que a situação “foi infeliz, um erro”, mas que as desculpas estão aceites e prefere valorizar o acordo alcançado.  

Quanto à CGTP, Arménio Carlos disse que "as palavras responsabilizam quem as profere" e que "a notícia fala por si".

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