Os ativistas, considerados presos de consciência pela Amnistia Internacional, estão desde final de 2015 em regime de prisão domiciliária, tendo permanecido quase meio ano nas prisões de Luanda, sem acesso a notícias.
“Ao longo dos seis meses em regime fechado, não nos foi permitido (pelo menos eu e os seis companheiros que estiveram comigo na prisão Calomboloca) assistir, ler e ouvir órgãos de informação - exceto ler o Jornal de Angola, caixa-de-ressonância do Governo”, acusa Sedrick de Carvalho, que escreve em nome pessoal, apesar de notar que a “gratidão é coletiva”.
“Digo isto para realçar que só em casa, agora em prisão domiciliária, está a ser possível perceber a gigantesca onda de solidariedade proveniente de Portugal, inclusive ao nível político”, refere.
Na mensagem de "agradecimento" ao Bloco de Esquerda (BE), datada de 24 de janeiro que a Lusa teve acesso, o jornalista angolano Sedrick de Carvalho refere-se ao "empenhamento" do partido português no caso dos ativistas que foram presos em junho de 2015, em Luanda, e acusados de tentativa de rebelião contra o presidente José Eduardo dos Santos.
Os 17 ativistas - entre os quais duas jovens que aguardam em liberdade e os 15 que estiveram em prisão preventiva entre junho e dezembro - estão acusados, em coautoria, de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, entre outros crimes menores, incorrendo numa pena de três anos de cadeia.
O caso, de acordo com a acusação deduzida pelo Ministério Público, remonta a 16 de maio de 2015, quando se realizou a primeira sessão de um "curso de formação para formadores de ativistas", em Luanda.
Na mensagem dirigida no domingo ao Bloco de Esquerda, Sedrick sublinha que o regime angolano se mantém desde 1975 acrescentando que “infelizmente” é um dos “presos políticos” do processo de rebelião.
“Digo ‘infelizmente’, pelo facto de existir tal ‘categoria’ de preso no meu país – Angola - o que demonstra, e muito bem, a inexistência de democracia nesta parcela do mundo. Não há dúvidas disso!”, escreve.
Na missiva, o jovem angolano pede ao BE para continuar empenhado no sentido da libertação de todo o grupo e na “esperança de ver os direitos humanos respeitados e a democracia implementada” em Angola.
“Enquanto nos chegavam relatos de esforços ‘titânicos’ pedindo ‘Liberdade Já’, passou a ser indispensável a realização de uma conferência de imprensa conjunta para agradecermos pelo apoio interno e externo. Mas, por enquanto, não é possível”, conclui Sedrick de Carvalho, demonstrando agradecimento pelas manifestações de solidariedade ao longo dos últimos meses.
No dia 3 de julho de 2015, o BE e o deputado socialista Pedro Delgado Alves ficaram sozinhos, no parlamento, na condenação da "repressão política em Angola" e no apelo ao fim da detenção do grupo de jovens opositores do regime.
O voto de condenação pela "repressão em Angola" teve a oposição do PSD, PS, CDS, PCP e Partido Ecologista "Os Verdes", o que motivou, na altura, reações de indignação por parte dos deputados bloquistas.
Entretanto, no passado dia 08 de janeiro, o PSD, CDS-PP e PCP rejeitaram um novo voto de condenação apresentado pelo Bloco de Esquerda sobre "repressão em Angola" e que continha um apelo à libertação dos "ativistas detidos", iniciativa que teve a abstenção do PS.
Este voto do Bloco de Esquerda, porém, contou ainda com o apoio de seis deputados socialistas (Alexandre Quintanilha, Isabel Moreira, Inês de Medeiros, Isabel Santos, Pedro Delgado Alves e Wanda Guimarães), além do representante do PAN (Pessoas Animais e Natureza).