Parco em palavras aos jornalistas à chegada, Mário Soares deixou críticas duras à saída da cadeia de Évora, depois de ter estado reunido com José Sócrates durante uma hora sensivelmente.
«Toda a gente acredita na inocência» de José Sócrates. «Esta campanha contra ele é uma infâmia», disse o antigo Chefe de Estado.
«É tudo uma malandrice» de «uns tipos que estão sempre a lixar».
Questionado sobre quem são esses «tipos», Mário Soares afirmou que são a «comunicação social e os tipos por trás dela». Mas, as críticas não foram apenas para os media. A Justiça também foi duramente visada.
«Afinal, o que é que ele fez?», perguntou Mário Soares, para acrescentar que «primeiro tinha que ser julgado» e «se for julgado é absolvido». Sem mencionar o nome do juiz Carlos Alexandre, Mário Soares mandou um recado ao magistrado que decretou a prisão preventiva de José Sócrates: «Diga a esse juiz que é muito estranho. Também sou jurista».
Mário Soares afirmou e reafirmou que José Sócrates é um homem «digno». Disse ainda que José Sócrates «foi um primeiro-ministro exemplar».
«Todo o PS está contra esta bandalheira», disse ainda Mário Soares. A poucos dias do PS se reunir em congresso com António Costa pela primeira vez como líder, o fundador descarta que a detenção de Sócrates venha a assombrar os trabalhos porque «isto não tem nada a ver com o PS, tem a ver com os malandros».
O antigo Presidente foi levar a José Sócrates «mais do que um abraço» e revelou que encontrou Sócrates com uma «moral fantástica» e que ambos «ficaram «emocionados», porque são «grandes amigos».
O histórico socialista chegou por volta das 10:30 desta quarta-feira à cadeia de Évora e teve que aguardar alguns minutos até abrirem a porta do estabelecimento prisional. À quarta-feira não estão previstas visitas na cadeia de Évora, mas estas podem, eventualmente, ser autorizadas. Foi o que aconteceu. Soares explicou que o diretor da cadeia, «muito simpático», permitiu que antecipasse a sua visita já que «amanhã não podia» porque vai lançar um livro.
Num artigo de opinião publicado na imprensa na terça-feira, Mário Soares já havia criticado a forma como o processo da detenção de José Sócrates tinha sido conduzido.
«O que foi feito a um ex-primeiro-ministro, com um anormal aparato, fortemente lesivo do segredo de Justiça, não pode passar em vão. Independentemente do que está em causa e da separação de poderes entre a política e a justiça».
José Sócrates, indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais , foi detido na sexta-feira, no desembarque do avião que o transportou de Paris até Lisboa, encontrando-se em prisão preventiva no Estabelecimento prisional de Évora desde a madrugada de terça-feira, depois de ter sido interrogado pelo juiz Carlos Alexandre.
O advogado de José Sócrates, João Araújo, confirmou ao «Diário Económico» que o juiz Carlos Alexandre fundamentou a decisão de colocar o antigo chefe de Governo em prisão preventiva com os três motivos previstos na lei: risco de fuga, receios de perturbação do inquérito e de continuação da actividade criminosa.
Para além de Mário Soares, José Sócrates recebeu na terça-feira, a visita da ex-mulher e do antigo ministro, Capoulas Santos.
A cronologia dos acontecimentos desde a detenção de Sócrates