BE quer ensino de língua gestual para todos os alunos - TVI

BE quer ensino de língua gestual para todos os alunos

Catarina Martins

Coordenadora Catarina Martins diz que se trata de dar um pequeno passo para haver comunidades escolares com mais capacidade de comunicação umas com as outras

O Bloco de Esquerda (BE) defendeu esta quinta-feira o ensino da língua gestual portuguesa para todos os alunos surdos e ouvintes nas escolas de referência e incluído nas atividades de enriquecimento curricular (AEC).

Em declarações esta quinta-feira à agência Lusa, à margem de uma visita ao Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira, em Lisboa, a coordenadora do BE, Catarina Martins, explicou que a intenção é reforçar o ensino da língua gestual portuguesa, tornando-a acessível a todos.

“Nós amanhã [sexta-feira], no Parlamento, vamos debater projetos de lei que fazem com que a língua gestual portuguesa esteja acessível a mais pessoas e também que os profissionais que trabalham com a língua sejam mais respeitados”, salientou Catarina Martins.

A coordenadora do BE contou que há atualmente no país várias escolas de referência para alunos surdos, que são contudo os únicos a aprender a língua gestual.

“Os outros colegas [ouvintes] não aprendem. As crianças e jovens podem e devem comunicar no recreio e devem conhecer a língua gestual”, frisou.

Catarina Martins lembrou que a língua gestual é oficial e a terceira no nosso país, em conjunto com português e o mirandês.

“O que vai ser aprovado amanhã no Parlamento (...) é darmos um pequeno passo para que os alunos que quiserem, nas escolas de referência e que não são surdos, possam aprender a língua gestual para assim termos comunidades escolares com mais capacidade de comunicação umas com as outras”, disse.

O projeto de lei do BE propõe que, em diálogo com as escolas de referência atualmente existentes, se estude e implemente no ano letivo 2017/18 um modelo de ensino de língua gestual portuguesa que permita que os alunos ouvintes das escolas de referência possam aprendê-la.

O BE quer também que seja feita uma análise à possibilidade das escolas de referência para a educação bilingue de alunos surdos disponibilizem aulas de língua gestual à comunidade em geral.

“Temos também outros projetos para alargar ainda mais a aprendizagem da língua gestual e também do estatuto dos intérpretes e dos docentes, porque temos um problema claro de respeito pelas carreiras profissionais dos docentes que estão nas escolas”, sublinhou Catarina Martins.

O BE vai propor também que a Assembleia da República recomende ao Governo a elaboração do conteúdo programático de língua gestual para as atividades de enriquecimento curricular de forma que sejam feitos esforços para, no ano letivo 2017/18, as AEC possam ser disponibilizadas nos agrupamentos escolares que assim o pretendam.

No entender da coordenadora do BE, “não é aceitável que as crianças surdas tenham de viver numa espécie de gueto em que não podem comunicar com o resto do país, que não tenham o respeito que merecem”.

“Se amanhã dermos este passo de mais crianças poderem aprender língua gestual portuguesa, estamos a dar mais um passo em direção da democracia e da cidadania no nosso país”, disse.

Sobre o Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira, vocacionado para a educação e ensino de crianças e jovens surdos, Catarina Martins salientou que este é um espaço de referência.

“É um espaço de referência, que já ensina há bastante tempo, que tem turmas com crianças surdas e ouvintes e todas as crianças aprendem a língua gestual portuguesa. (…) Aqui há experiência, aqui tem-se construído conhecimento científico que nos permite a todos a avançar e é com exemplos como este que o país pode ser mais justo”, concluiu.

Catarina Martins disse ainda esperar que este esforço se estenda depois à forma como as pessoas acedem a outros serviços, como por exemplo os centros de saúde, a Segurança Social ou as Finanças.

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