PSD antevê «mais agruras» para os gregos - TVI

PSD antevê «mais agruras» para os gregos

Teresa Leal Coelho demite-se da vice-presidência da bancada (Lusa)

Partido defende que Portugal virou a página no quadro europeu, ao contrário da Grécia

A dirigente e deputada do PSD Teresa Leal Coelho diferenciou, esta quarta-feira, o contexto nacional da situação da Grécia, defendendo que Portugal virou a página no quadro europeu, e antevendo «mais agruras» para os gregos.

«Com total respeito pela decisão eleitoral dos nossos concidadãos gregos, quero aqui afirmar que o que nos separa das circunstâncias da Grécia é o facto de não termos feito o que o PS queria para Portugal», afirmou a vice-presidente do PSD, numa declaração política em plenário, acrescentando: «Foi por isso que virámos a página, e virámos a página no quadro europeu».

Teresa Leal Coelho sustentou que, após três anos e meio de governação PSD/CDS-PP, Portugal é «um país completamente distinto», com o défice público controlado, recuperação da economia e do emprego e devolução de rendimentos aos portugueses. Quanto aos gregos, considerou: «Sofrem, porque vão ter de passar por mais agruras, precisamente por não terem cumprido os resultados».

O deputado do PS Eduardo Cabrita contestou o retrato do país traçado por Teresa Leal Coelho. «Não diria um conto de crianças, mas foi um estilo de fábula», comentou o socialista, pegando na expressão «conto de crianças» que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, utilizou ao falar da vitória do Syriza nas eleições de domingo na Grécia.

Eduardo Cabrita contrapôs que Portugal e o projeto europeu têm vivido um «filme de terror», destacou o aumento da dívida pública e acusou o Governo chefiado por Passos Coelho de estar «do lado errado da história».

Em seguida, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, disse que esperava que a deputada do PSD «corrigisse a mão do primeiro-ministro» relativamente à vitória do Syriza e ao novo Governo grego.

Na terça-feira, Passos Coelho apelidou de "conto de crianças" a ideia de que "é possível um que um país, por exemplo, não queira assumir os seus compromissos, não pagar as suas dívidas, querer aumentar os salários, baixar os impostos e ainda ter a obrigação de, nos seus parceiros, garantir o financiamento sem contrapartidas".

O primeiro-ministro considerou que o programa do Syriza é dificilmente conciliável com as regras europeias, mas disse esperar que o novo Governo grego as cumpra e possa manter-se na zona euro e na União Europeia.

Esta quarta-feira, em plenário, Teresa Leal Coelho não deu resposta às referências da oposição às palavras do primeiro-ministro.

Face às críticas de Eduardo Cabrita, a deputada do PSD retorquiu que «os anos de tragédia foram há três anos» e que os socialistas esconderam parte da dívida pública «para debaixo do tapete».

Assim como o PS, o deputado do PCP Paulo Sá assinalou o aumento da dívida pública nos últimos anos, argumentou que o défice foi reduzido à custa do empobrecimento dos portugueses, e apontou a Teresa Leal Coelho «um tom de campanha eleitoral».

A social-democrata contou com o apoio do deputado do CDS-PP Hélder Amaral à sua intervenção sobre o estado do país. «Estamos bem melhor do que estávamos em 2011», declarou o centrista. Os dois representantes da maioria insistiram que é preciso cumprir as regras europeias.

PS exige que Passos lute por acesso pleno a mecanismos de flexibilidade da UE

O PS considerou que o primeiro-ministro tem a «obrigação patriótica» de lutar para que Portugal tenha pleno acesso aos mecanismos de flexibilidade para efeitos de cálculo do défice projetados pela Comissão Europeia.

Este desafio foi feito pelo vice-presidente da bancada socialista Vieira da Silva, numa intervenção em plenário, na Assembleia da República.

Na sua intervenção, Vieira da Silva evidenciou a decisão da Comissão Europeia no sentido de «flexibilizar as condicionalidades da política económica para os Estados-membros, permitindo que alguma despesa pública não seja incluída no cálculo do défice para efeitos de avaliação dos limites do PEC» (Pacto de Estabilidade e Crescimento).

Para o ex-ministro socialista, «todos temos a obrigação patriótica de lutar para que Portugal tenha acesso pleno à flexibilidade agora aprovada».

«É agora que Portugal mais precisa de estímulos para a recuperação económica e é agora que a voz do Governo de Portugal se devia claramente ouvir», justificou.

Em relação ao primeiro-ministro, Vieira da Silva criticou-o por ter feito «inúmeras intervenções a desvalorizar e a criticar» as medidas de flexibilização para efeitos de cálculo do défice e de também ter estado «no lado errado da História» ao «opor-se à intervenção do Banco Central Europeu nos mercados das dívidas soberanas».

Na reação a este discurso, o deputado do PSD Hugo Soares contrapôs que quem esteve no lado errado da História foi o anterior Governo socialista «que quase levou o país à bancarrota, que aumentou ao défice e a dívida de forma exponencial, o que motivou a intervenção externa».

Hugo Soares defendeu também a existência de grandes diferenças entre Portugal e a Grécia, não só em termos de indicadores macroeconómicos, mas também ao nível político.

«Basta olhar para o Syriza português, o Bloco de Esquerda, que tem cada vez menor força eleitoral», afirmou o ex-líder da JSD.

Já a deputada do Bloco de Esquerda Cecília Honório desafiou Vieira da Silva a esclarecer em definitivo a posição do PS em matéria de renegociação da dívida, considerando que o atual líder dos socialistas, António Costa, nada tem dito em concreto sobre esta matéria.

Vieira da Silva respondeu que o PS defende soluções de compromisso na União Europeia e que «dá uma atenção particular ao quanto custa hoje o pagamento de juros da dívida em Portugal».

«Portugal paga mais juros em percentagem do PIB do que a Grécia. Essa é uma diferença entre os dois países», apontou o ex-ministro da Economia do segundo executivo liderado por José Sócrates.

Pela parte do PCP, a deputada Paula Santos acusou também o PS de estar numa posição de indefinição, mas considerou «um mau augúrio» o apoio que deu à decisão do BCE de comprar dívida pública.

«Uma operação que mais não serve do que injetar dinheiro no sistema financeiro», sustentou Paula Santos.
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