Novo ministro da Agricultura e Pescas em 144 caracteres

Até esta quinta-feira à tarde maior parte dos portugueses provavelmente não tinha ouvido falar do novo ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. António Serrano, de 44 anos, é o mais novo elemento do Executivo, ocupa cargo de presidente do Conselho de Administração do Hospital do Espírito Santo, em Évora, e tem uma conta no Twitter.

Até às 20:45, já algumas horas depois de se saber que constava da lista que José Sócrates levou ao Palácio de Belém, a conta do novo governante contava apenas com 69 internautas a segui-lo e seguia 22, através da popular rede social que permite a publicação de mensagens de 144 caracteres de cada vez.

A primeira das 107 que colocou em linha foi publicada a 7 de Fevereiro. «Anos após se ter iniciado o projecto de criação de um centro oncológico, para tratamento do Cancro, a Unidade de Radioterapia já avançou...», lê-se na página do Twitter de António Serrano.

Na última entrada, que tem a data de 29 de Setembro, escrevia a Ascenso Simões, secretário de Estado da Administração Interna do último Governo, uma mensagem crítica para com Cavaco Silva, no dia em que o chefe de Estado revelou, numa declaração ao país, haver «vulnerabilidades» no sistema informático de Belém: «@AscensoSimoes O PR acabou de vulgarizar a instituição Presidencia. O seu sentido de estado eclipsou-se para sempre!».

Meia hora antes já tinha publicado uma outra, do mesmo teor, com o director do «Público», José Manuel Fernandes, entre os destinatários. «@mlaranja @anleite @czorrinho @JMF1957 Hoje senti um enorme desalento: não temos um Presidente a altura dos desafios futuros.»

Uma leitura da página pessoal do novo ministro permite ainda saber que António Serrano gosta da gastronomia popular - «Estou na feira de S. Joao em Evora. As sardinhas estão magníficas. Vale a pena vir a feira de Evora.», escreveu a 23 de Junho -, mas também se interessa pela crise mundial, não fosse doutorado em Gestão de Empresas.

«Vou reler o livro "Falso Amanhecer" de John Gray que em 1998 falava da falência do neoliberalismo. Recomendo a quem ainda não leu!», lê-se num twitt de 1 de Março. Alguns dias depois atira: «Contradições da Crise: Bancos aumentam os lucros no 1º Trimestre; idém para a PT, EDP,GALP. Estranho, não é? E nós, Portugueses e Europeus?».

Se na leitura da página se percebe uma proximidade ideológica à esquerda, o novo titular da agricultura e das pescas não deixa de criticar o partido que o convidou para fazer parte do próximo Executivo, com fez a 3 de Junho: «Estamos sem Provedor da Justiça. O PS e o PSD não deveriam ter esticado a corda. A Democracia está mais pobre graças às birras dos líderes».

Os indicadores de Pinho

António Serrano também não deixou de se referir ao episódio que levou à demissão do ministro Manuel Pinho, por causa de uma utilização menos nobre dos deds indicadores em plena Assembleia da República. «O pessoal político precisa de ir para ferias. O q se viu hoje no Parlamento foi mau de mais. Portugal merece melhor», escreveu a 2 de Julho.

Um dia depois escreveria sobre o mesmo debate, em que se discutiu o Estado da Nação: «Sócrates ganhou o debate. Foi eclipsado por um mau momento de um homem descontraido e esforçado.»

Segunda-feira, António Serrano deverá tomar posse como um dos 16 homens fortes de José Sócrates. Mas, curiosamente, em nenhuma das 107 mensagens que publicou, depois de uma breve pesquisa pelas palavras que dão nome ao seu novo cargo, surgem as palavras «rural», «agricultura» ou «pesca».