Sócrates demite-se: «A derrota é minha» - TVI

Sócrates demite-se: «A derrota é minha»

Líder do PS pede convocação de congresso extraordinário. «Vou deixar de ocupar qualquer lugar político»

José Sócrates demitiu-se esta noite do cargo de secretário-geral do PS e anunciou que se retira da política. «Não me escondo atrás das circunstâncias, esta derrota eleitoral é minha e quero assumi-la por inteiro», admitiu. E não deixou margem para dúvidas: «Não vou exercer nem tenho intenção de exercer nenhum cargo público. A minha vida não vai ser pública» deixando antever que não irá ocupar o lugar de deputado no Parlamento.

Na sala do Hotel Altis, que esta noite serviu de quartel-general do PS, alguns militantes ficaram surpreendidos com a saída do secretário-geral. «Não! Não!», exclamaram algumas vozes. Mas Sócrates conseguiu acalmar os ânimos de imediato: «Não tornem isto mais difícil do que já é...»

Na política há 23 anos, conforme lembrou, José Sócrates também não disse que ficaria para sempre fora da política - «Quem assume a condição de cidadão estará sempre na vida política». Mas talvez não para já: «Regresso por isso, com orgulho, à honrosa condição de militante-base do Partido Socialista».

Sócrates anunciou que pediu ao presidente do Partido Socialista para que seja marcado um congresso extraordinário, de forma a que possa ser preparada uma «alternativa consistente». «Quero dar espaço ao partido socialista para discutir o seu futuro», disse neste discurso com recurso a teleponto.

Momentos antes da sua declaração aos jornalistas, Vieira da Silva admitia, muito entristecido, a alguns jornalistas, que em três semanas se poderia proceder à votação de um novo secretário-geral via eleições directas. Face a esta declaração de José Sócrates, a escolha do novo líder deverá ser um pouco mais demorada.

Num discurso marcado por um sentimento positivo em relação ao futuro, José Sócrates anunciou logo no início da sua declaração que saudou por telefone Pedro Passos Coelho pela sua vitória. «O que desejo ao dr. Passos Coelho é todo o melhor, desejo sinceramente o que desejaria para mim mesmo», declarou.

Antes de anunciar a saída da liderança dos socialistas, José Sócrates reafirmou «a disponibilidade do PS para realizar entendimentos e superar esta crise. Os votos do PS estarão, como sempre, ao serviço de Portugal». Sócrates disse ainda que «o PS teve um resultado que dignifica o PS e que dignifica o seu papel na História de Portugal».

O ainda líder socialista disse estar agradecido aos eleitores pela oportunidade que lhe deram de governar Portugal. «Estou profundamente grato aos portugueses por me terem dado a oportunidade e a honra de ter servido os portugueses». Admitindo que se é verdade que todas as lideranças políticas cometem erros «Eu certamente terei cometido alguns» - , José Sócrates também quis deixar bem claro que ficou até ao fim: «Não cometi o erro de fugir e virar a cara às pessoas».

«Ocorrem-me, naturalmente, algumas coisas que, porventura, poderia ter feito melhor aqui e ali. O tempo é o melhor juiz da obra realizada (...) Mas não me ocorre nada que os socialistas pudeseem ter feito melhor ao serviço de Portugal»
, considerou. «Podemos ter perdido hoje estas eleições, mas não devemos recear o julgamento da história».

José Sócrates admitiu também não saber o que poderia ter feito melhor para vencer estas legislativas: «Não sei o que mais poderia ter feito para ganhar as eleições». Mas garantiu também que não vai perder tempo a pensar no assunto - «Cada minuto é um minuto perdido a pensar nisso».

«Termino este mandato com o sentimento de serenidade. Não perderei um tempo que seja sobre o que poderia ter feito e não fiz (...) E também não levo ressentimentos nem amarguras, não são esses os sentimentos que quero», referindo-se ao futuro que o aguarda como «dias felizes». Apesar de nunca ter surgido com a família nesta campanha e nestes anos de governação José Sócrates deixou-lhes agora uma palavra. «Espero agora poder compensá-los com o amor de sempre», disse.
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