Sócrates-Jerónimo: ideias impedem coligação - TVI

Sócrates-Jerónimo: ideias impedem coligação

PS e PCP vivem em mundos muito diferentes. Debate entre Jerónimo de Sousa e José Sócrates serviu para definir eleitorado. Sócrates não sabia que não existe versão em português de memorando de entendimento com a troika

José Sócrates enfrentou Jerónimo de Sousa na SIC, naquele que foi o último debate do secretário-geral do PCP antes das eleições de 5 de Junho. Jerónimo esteve melhor do que noutras ocasiões, mas deixou a sensação de não ter gasto todos os cartuxos, que deverá reservar para a campanha. O candidato do Partido Socialista manteve-se interventivo, interrompendo muitas vezes e lançando farpas ao PSD.

No final, ficou também o embaraço do ex-primeiro-ministro quando questionado sobre a não existência de uma versão em português do memorando de entendimento com a troika. Sócrates pensava que o Ministério das Finanças tinha disponibilizado o documento. Antes, já tinha dito que «quem vencer tem de formar Governo».

Os dois JS (as siglas dos nomes são iguais, José Sócrates e Jerónimo Sousa) surgiram também idênticos na aparência visual: fato escuro, camisa branca e gravata em tons de azul. Mas as semelhanças terão terminado aí. Jerónimo passou ao ataque, esclarecendo que a sugestão de coligação pós-eleitoral é pouco provável, pois «os três partidos que assinaram o memorando têm mais em comum».

Sócrates, que tinha começado o debate, tentou vincar diferenças para o PSD, considerando que se trata de «um erro de análise» equipará-los. Jerónimo não seguiu a deixa e preferiu criticar as políticas do Governo nos últimos anos, vincando a pergunta: «Para onde foi o dinheiro?».

As diferenças eram evidentes e o candidato socialista tentou o número que já tinha feito com Paulo Portas e Francisco Louça, criticando o programa do PCP. «Ser o mesmo de 2009 é uma falta de respeito pelos eleitores, porque aconteceu muita coisa no último ano e meio», frisou, criticando a vontade dos comunistas em renegociar a dívida, sair do euro e nacionalizar várias empresas.

Jerónimo não respondeu a tudo, mas lá foi dizendo que «a Grécia já está a renegociar condições», sugerindo que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer a Portugal. E, a propósito das nacionalizações foi buscar um exemplo: «Apanheio-o. Se foi tão lesto em nacionalizar o BPN, agora tem a disposição de privatizar o BPN para os prejuízos ficarem com os portugueses».

Irritações

Sócrates tentava controlar a mensagem, Jerónimo acalmava - «Não se zangue, não se zangue». As interrupções eram constantes. Introduz-se o argumento do salário mínimo, das reformas mais baixas e da aposta nas exportações.

«Estava previsto o aumento do salário mínimo», diz Sócrates. «É dar com uma mão e tirar com a outra», responde Jerónimo, que lembra que os idosos vão pagar mais taxas moderadoras e transportes.

A moderadora, Clara de Sousa, decide intervir e lançar incerteza. Sócrates é questionado sobre a razão de não tradução do memorando de entendimento com a troika. O candidato do PS julga que «existe uma versão no site do Ministério das Finanças». Mas a verdade é que não está. Há uma versão em inglês e o trabalho da tradução para português foi feito pelo blog Aventar.

Seguindo em frente, Sócrates defendeu que «todas as medidas constantes no memorando são as do PEC 4». Jerónimo ouve e responde: «Isto é pura demagogia». E ri-se. Fala-se de empresas, o candidato do PS dá o exemplo da «Ikea e da fábrica de baterias da Nissan». O comunista reage e ataca o capital, o «privilégio» às empresas. Sócrates suspira e diz «ai meu deus».

E o afastamento é cada vez maior. Jerónimo defende fixação de preços nos combustíveis para defender os consumidores. Sócrates discorda e diz que «só se deve dar murros na mesa quando estes têm efeitos práticos». E não quer seguir as ideias de Zapatero, que reduziu o preço dos combustíveis e a velocidade máxima nas auto-estradas.

Uma última questão, sobre a possibilidade do Presidente da República empossar um Governo entre PSD e CDS, mesmo que o PS fique em primeiro lugar. Sócrates parece querer fugir à questão, mas acaba por dizer: «Não vejo isso como uma solução. Quem ganha é que vai governar».
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