Para quem conhece a postura de André Ventura quer em debates, quer, por exemplo, nas intervenções no Parlamento, talvez tenha ficado surpreendido com um momento que marcou a reta final do frente a frente com Vitorino Silva, na RTP3.
O deputado único e presidente do Chega tem sempre resposta para todas as perguntas, acusações e indiretas. Mas no debate desta segunda-feira, houve uma questão que o deixou em silêncio absoluto: seria mais fácil o Chega entender-se com o PSD se fosse Pedro Passos Coelho o presidente, ao invés de Rui Rio?
Ao final de seis segundos Ventura reagiu: "não vou fazer comentários sobre isso".
Esta observação surgiu depois de ter sido questionado se via Donald Trump como uma referência, tendo respondido que não e que as suas referências "são homens como Sá Carneiro, como o Papa João Paulo II".
"Eu acredito que numas próximas eleições o Chega vai ter um papel decisivo"
André Ventura admitiu que não tem como objetivo uma candidatura às próximas legislativas e que o programa do partido que fundou é "presidencialista". Ainda assim, não deixa de ter como propósito a alteração da Constituição.
Eu acredito que numas próximas eleições, embora legislativas, o Chega vai ter um papel decisivo. Se me disser: vai ganhar as eleições imediatamente e constituir Governo sozinho? Não. Mas eu acredito que, em breve, o Chega será fundamental ou para um Governo, ous erá capaz de eleger um Presidente da República e isso levará à transformação do regime".
Sobre o facto de ter saído do PSD e ultimamente só conseguir alguns apoios junto de Rui Rio, Ventura disse que não se vai aliar ao PS, nem ao Bloco de Esquerda, nem ao PCP para constitui Governo.
À direita já toda a gente percebeu que sem o Chega e sem o PSD não haverá maiorias de direita em Portugal. As sondagens mostram isso. (...) O Chega e o PSD serão os pontos fundamentais da direita em Portugal e terão, de alguma forma, de criar condições para haver um Governo".
Voltando à corrida às presidenciais, mas sem sair da questão da direita em Portugal, o presidente do Chega disse que se ficar atrás de Ana Gomes significa que fez "um mau trabalho e tenho que assumir isso como político", realçando que a principal meta é ir a uma segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo está completamente desacreditado à direita e isso favorece muito. Se o povo da direita sair para votar, como eu espero, no dia 24, eu acredito que o André Ventura estará numa segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa".
Vitorino: "Há muita coisa que eu concordo com o André"
Vitorino Silva começou por dizer que teve mais votos que o Chega e o Iniciativa Liberal nas presidenciais há cinco anos, mas que existem vários ideias de André Ventura das quais partilha da mesma visão.
Há muita coisa que eu concordo com o André. (...) quando diz que devia haver menos deputados, eu também concordo. Não devia haver 230 deputados e eu acho que os deputados (...) e depois se os deputados faltassem, e tivessem dez faltas, ficavam 229, 210 e éramos capazes de chegar ao final do mandato e teríamos 115 deputados".
O candidato presidencial mais conhecido como Tino de Rans criticou os candidatos "de elite" que não dão voz ao povo e aqui surge mais um momento de concordância.
Eu concordo com o que disse o Vitorino quando diz que, de facto, há candidatos que representam as elites e temos nestas eleições alguns. Desde o atual Presidente (...) à candidata Ana Gomes", afirmou André Ventura.
"Um olho no burro e outro no burro. Os ciganos não são burros, são pessoas
No entanto, nem sempre foi assim. Houve pelo menos dois momentos em que Vitorino discordou de Ventura: o corte dos apoios sociais aos ciganos e o papel do Presidente da República na demissão de ministros.
André Ventura voltou a bater-se na ideia de cortar apoios aos cidadãos de etnia cigana que vivem de rendimentos e de aumentar a fiscalização nesse sentido.
A fiscalização tem de ser efetiva. Não pode ser a brincadeira que temos, de Mercedes à porta e a receber rendimentos".
Com outro ponto de vista, Vitorino disse que não se deve ir contra as pessoas, mas sim apostar na fiscalização.
O povo costuma dizer: um olho no burro e outro no burro. Os ciganos não são burros, são pessoas e eu gosto de falar não de etnias, mas de pessoas".
O candidato relembrou que existem imensos cidadãos de etnia cigana que não têm emprego porque não lhes é dada oportunidade para isso: "é preciso nivelar". Aproveitou ainda para garantir que vai ser o Presidente dos portugueses e não de etnias.
Relativamente à instabilidade do governo, mais concretamente sobre se interviria numa eventual demissão da atual ministra da justiça, Vitorino Silva assumiu uma postura diferente da de Ventura e empurrou a responsabilidade para o primeiro-ministro.
Eu acho que cada macaco no seu galho. Eu não sou candidato para mandar nenhum ministro, entre aspas, para o desemprego. Eu acho que quem tem responsabilidades é o António Costa".