Empresas de marca acusam hipermercados de causar desemprego - TVI

Empresas de marca acusam hipermercados de causar desemprego

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Produtos dos hipermercados roubam quota aos outros

A Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca (CentroMarca) diz que o crescimento das vendas dos produtos das cadeias de distribuição, que estão a roubar terreno aos produtos de marca, está a causar dificuldades às empresas e até desemprego.



O presidente da associação, Duarte Raposo Magalhães, disse à Agência Financeira que «actualmente, 75% dos produtos das marcas de distribuição são importados, o que está a criar desemprego entre centenas de produtores».



Contactada também pela Agência Financeira, a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), refuta estes dados. O secretário-geral, José António Rousseau, garante que a distribuição não está a causar a deslocalização dos produtores nacionais para o estrangeiro e diz mesmo que «é impossível saber que percentagem dos produtos de marca própria está a ser produzida no estrangeiro. As empresas não revelam a quem entregam a produção dos seus produtos, até por questões de concorrência entre elas», assegura.



De acordo com a CentroMarca, 20% das marcas produzem para a distribuição. «São obrigadas a fazê-lo para ocupar as linhas de produção. Os restantes 80% não o fazem e até se demarcam disso. Muitos começam a incluir nos anúncios de publicidade alertas aos consumidores, dizendo que não produzem para outras marcas, para que os consumidores não se confundam», revela Duarte Raposo Magalhães.



As marcas próprias da distribuição venderam mais 21% durante o ano passado, e representam já um terço das vendas totais da distribuição moderna. Nos frescos, a percentagem é ainda maior, de acordo com os últimos estudos revelados sobre o sector.



Produtores de lacticínios entre os mais penalizados



A distribuição entrou em força em segmentos como os frescos, os produtos lácteos, os congelados e até nos sumos. A Agência Financeira falou com alguns produtores e descobriu que afectados estão também a ser os vinhos, o arroz, o azeite, a carne e o leite.



Também o presidente da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL), Pedro Pimentel, diz que «há um claro ganho de quota de mercado dos produtos das marcas da distribuição, que representam já 40% do total, e que têm passado a produção de fábricas portuguesas para o estrangeiro».



A juntar ao terreno perdido para a distribuição, o sector enfrenta outro problema: «Passámos de uma situação de escassez de matéria-prima para um excesso, em que há um grave problema de escoamento. Deu-se uma queda abrupta do preço em apenas um ano. E prova disso é que o leite em pó, uma coisa que só se produz em último caso, está a registar um nível de produção nunca antes visto».



Tudo somado, «a situação está bastante complicada, as empresas estão a reduzir a produção, a corda está no limite e os stocks também. Ainda não há desemprego no sector, mas a situação é dramática, muitas empresas estão a aproveitar os períodos em que os trabalhadores não têm serviço para os porem a fazer lavagens, estão a ser combinadas férias fora dos períodos normais. Se não se chegar a uma solução em poucas semanas, os custos fixos vão tornar-se demasiado elevados».



A ANIL lembra que estas empresas são uma gota de água num oceano a nível nacional, mas que as mesmas estão sobretudo concentradas fora dos centros urbanos e têm uma grande importância nas economias locais. «Se começam a despedir, criam-se verdadeiros dramas sociais a nível local», concluiu Pedro Pimentel.



Na resposta, a APED lembra que tem protocolos de cooperação com a confederação dos agricultores (CAP) e a da indústria (CIP), que inclui um programa de apoio aos pequenos produtores, e que existe uma comissão de acompanhamento da relação entre a distribuição e os produtores, sendo que a mesma, nos últimos três anos, não recebeu qualquer queixa por parte dos produtores.
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