Entrevista ACAP: «Tributamos automóveis como se não tivéssemos indústria» - TVI

Entrevista ACAP: «Tributamos automóveis como se não tivéssemos indústria»

  • Sónia Peres Pinto
  • 31 mar 2008, 12:00
Hélder Pedro

Para o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, os despedimentos que temos assistido nos EUA afectam todo o sector automóvel e a própria Europa. No entanto, acredita que Portugal não será atingido por esta crise. O responsável em entrevista à Agência Financeira reconhece ainda que o mercado nacional vive assombrado pela ameaça de deslocalização com a integração dos países do Leste na União Europeia.

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Temos vindo a assistir a um grande número de despedimentos na indústria automóvel, principalmente nos EUA. Como vê esta redução dos postos de trabalho?

Sendo a indústria automóvel um sector onde existe um conceito de economia global e onde as empresas são multinacionais, tudo o que se passa nos EUA afecta todo o sector e a própria Europa. Será desejável que os construtores que estão em dificuldades as ultrapassem rapidamente. São ciclos, actualmente temos várias marcas a passar por reestruturações, era bom que estas mudanças sejam feitas rapidamente e que a economia continue saudável.

Estes despedimentos já eram previsíveis?

Isso está relacionado com a reestruturação que cada empresa faz e quando isso acontece é de certeza para melhorar o seu futuro, logo para melhorar o futuro da indústria automóvel de uma forma global.

O que é certo é que essas reestruturações têm efeitos imediatos em todo o sector?

Mas isso sempre aconteceu, há um ciclo de vida de produção que leva a que um ou outro «player» tenha necessidade de fazer uma reestruturação, maior ou menor, num local ou outro, na Europa, América, Japão, etc. Quando isso acontece é feito em prol de um saneamento momentâneo que torna depois mais saudável a empresa.

Grande parte destas marcas tem fábricas em Portugal. Esta reestruturação poderá pode afectar-nos?

Penso que não. É sempre difícil fazer uma previsão mas penso que nestes casos concretos não há nenhuma correlação directa com a indústria automóvel nacional.

Políticas governamentais de costas voltadas

Portugal vive, ao mesmo tempo, assombrado pela ameaça de deslocalização das indústrias?

Sim, porque a Europa mudou. Começámos a ter indústria automóvel a sério nos anos 60 com a lei da montagem, onde se instalaram as fábricas. Nessa altura, em termos geopolíticos, a Europa não tem nada a ver com o que é hoje. Com o alargamento a Leste houve uma nova centralização da Europa, ou seja, aquilo que era o centro da Europa já não é hoje. Por outro lado, entraram na União Europeia países com uma fortíssima tradição na indústria automóvel e com produção própria. Portugal, estando no extremo da Europa, não deixou de se ressentir com isso.

Quando entrámos para a União Europeia, em 1986, éramos considerados os membros da UE com salários mais baixos e com um nível de vida inferior, neste momento com a nova centralização isso já não acontece. Aquilo que eram vantagens competitivas deixou de o ser. Mas acredito que Portugal continua a ter condições para ter indústria automóvel, aliás este é um dos sectores estratégicos para a economia e tem um grande peso no PIB. Além disso, por termos indústria automóvel há várias décadas, temos mão-de-obra qualificada. Por outro lado, continuamos a tributar automóveis como países que não têm indústria. Andam aqui duas políticas governamentais de costas voltadas. Queremos atrair e manter investimento na indústria automóvel e depois mantemos uma carga fiscal pesadíssima sobre o próprio automóvel à saída dessa fábrica. É um contra censo.

O anúncio da vinda de mais um modelo para a Autoeuropa é uma boa notícia para o sector?

Certamente. Tudo o que são notícias de novos modelos e de novos investimentos nas unidades industriais é uma boa notícia para o sector e também para o país.
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