Endesa sai do mercado liberalizado de energia - TVI

Endesa sai do mercado liberalizado de energia

Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal

O presidente da Endesa Portugal adiantou esta segunda-feira, que face às dificuldades, vão sair do mercado liberalizado em Portugal.

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Nuno Ribeiro da Silva afirmou, à margem de um seminário «Mercado Ibérico de Electricidade: Os Próximos 5 anos» que «a empresa está a perder milhões todos os dias» por não ter condições para comprar electricidade no mercado vizinho a bons preços.

Um constrangimento que, segundo o mesmo, se deve ao congestionamento das interligações entre os dois mercados da Península Ibérica que piorou, com a entrada em vigor a 1 de Julho passado, das novas regras do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL).

O facto é que, segundo o mesmo responsável, as novas regras, só favoreceram a EDP. «Actualmente, a interligação dá-nos ¿bochechos¿ de 2 horas e um quarto, com capacidade para irmos buscar 100 MegaWatts, quando eu preciso para aí de uns 500» para fazer face aos contratos da empresa em Portugal. «Antes, pelo menos, conseguia trazer energia de Espanha» através da casa-mãe.

E mesmo nessas alturas, diz Nuno Ribeiro da Silva, é a EDP quem açambarca tudo. «No período em que há interligação a EDP é quem mais a utiliza. Vai a Espanha comprar electricidade mais barata e depois revende-a em Portugal mais cara», indigna-se.

Questionado sobre o porquê desta «preferência», explicou que se trata do «market spliting», que dá prioridade no acesso às linhas de transporte de energia consoante o peso que um distribuidor tem no mercado. E a EDP é a que lidera.

«Há um triângulo assassino» no sector

E com estas condições, Nuno Ribeiro da Silva, diz que a Sodesa (distribuidora de electricidade detida pela Endesa e Sonae) não tem como abastecer os seus clientes. «Começámos já a falar com os clientes, para explicar que não vamos renovar contratos, à medida que forem expirando. E até já aceleramos alguns processos para enviar clientes para a tarifa regulada. É assim, vão pagar mais», garantiu.

A Sodesa tem, de acordo com o seu presidente, 3.200 pontos de entrega em Portugal, num total de 4 Gigawatts/hora, o que representa, segundo o último relatório da ERSE, 54% do mercado liberalizado nacional.

Nuno Ribeiro da Silva definiu ainda as actuais condições do sector como um «triângulo assassino». «Uma triologia que está a matar o mercado com a distorção de preços, o monopólio da produção e a deficiência nas interligações».

Críticas ao Governo

O presidente da Endesa Portugal, e Sodesa, apontou ainda algumas críticas ao Governo, pelo facto do Executivo não ter dado ouvidos aos avisos antes da entrada em vigor das novas regras. «Há um conjunto de situações extremamente complexas que nos levam a este ponto. Nós, um mês antes, tivemos reuniões com os técnicos, com a REN, a ERSE e com o Ministério da Economia, para alertar para todas estas situações que se iam criar.

Mas vai mais longe. Ribeiro da Silva lembrou que ainda há pouco tempo, o Executivo teve a oportunidade de quebrar alguns constrangimentos, nomeadamente diminuindo o poder da EDP no monopólio da produção de energia, e não o fez. «Ainda entregaram mais barragens à EDP e à Galp», constatou, fazendo alusão às barragens do Alqueva e do Baixo Sabor.

«Nestas condições acabará por ficar só um comercializador, que é a EDP», garante.

As acções da eléctrica portuguesa fecharam a ganhar 0,49% para os 4,12 euros.
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