«É extremamente difícil imaginar a Galp como alternativa à EDP» - TVI

«É extremamente difícil imaginar a Galp como alternativa à EDP»

Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal

O presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, em entrevista à «Agência Financeira», faz um balanço sobre a política energético que o Governo de José Sócrates tem posto em prática. O responsável faz elogios ao Executivo no tempo que tem dedicado ao tema da energia, mas aponta que tem havido pouca prática.

Para além disso, duvida que a Galp se consiga tornar uma alternativa à EDP na comercialização de electricidade e incita Portugal a fazer coisas novas no âmbito das energias renováveis.

Qual é o balanço que faz da política energética deste Governo?

Numa primeira fase, o Governo foi surpreendido pelo peso das questões energéticas no que imaginava ser a alocação de tempo e de preocupação pelos domínios do ministério da Economia. Depois de um choque inicial, de perceber que o fardo era bastante mais pesado, começou a haver uma preocupação em dar atenção a uma série de aspectos de reorganização empresarial e alterações administrativas que vinham distorcidas do Governo anterior que levou à adopção da Resolução de Conselho de Ministros da estratégia nacional para a energia. Tem bastantes pontos positivos, mas há um aspecto sobretudo duvidoso que estará no desígnio de tentar que um segundo operador nacional apareça com uma posição relevante no sector eléctrico. É extremamente difícil imaginar que a Galp, do zero no domínio da electricidade, como está expresso na resolução, apareça como alternativa à EDP. Ainda por cima tendo a Galp que se focar e investir no seu core bussiness. É uma primeira fase do Governo, que começou a tentar corrigir os erros anteriores e de certa maneira estabeleceu um marco e situou-se.

Daí para cá, tem havido bastante voluntarismo com a tomada de um conjunto de medidas. Relevava como pontos positivos os aspectos relacionados com uma certa clarificação da estrutura empresarial onde o Governo tem uma palavra como accionistas e alguns passos dados com o IPO (Initial Public Offer) da Galp e agora com a REN (Rede Eléctrica Nacional). O Estado diminuiu a sua participação, pelo menos enquanto accionista, nesses operadores relevantes de mercado nacional. O Governo também tem tido bastante mérito na abertura para promover o aproveitamento dos recursos endógenos e em tentar associar esse aproveitamento à endogeneização tecnológica e industrial em novos segmentos no país.

No plano negativo, o Governo tem perdido a oportunidade na acção concertada e ambiciosa na frente do uso racional de energia. Há alguns normativos feitos, mas ainda por regulamentar. Havia que dar um cimento em torno de uma fiscalidade coerente e política de preços para dar um quadro para que catalize os agentes económicos e cidadãos se preocuparem no uso eficiente de energia.Nos domínios em que tem havido mais ambiguidade é entre o discurso de liberalização do sector, de promoção de concorrência no mercado e algumas medidas práticas e actuações. Há um ponto específico no programa do governo que diz, por exemplo, que vai apresentar um programa de acção no seu património que seja exemplar no ponto de vista da racionalização de energia. Não conheço plano nenhum.

E como avalia a actuação deste Governo na vertente ambiental?

Esse é um dos aspectos em que é evidente uma clara

limitação deste Governo em termos de administração pública. Há um défice numa renovação e reestruturação e esforço no aparelho administrativo do Estado no domínio da energia desde a DGGE (Direcção-Geral de Geologia e Energia), mas também do lado do ambiente. É a face da mesma moeda.

Relativamente às metas da União Europeia para as renováveis, qual é a sua opinião?

Diria que em geral são metas ambiciosas, mas a Comissão Europeia fez bem em por a fasquia alta. Falamos muito sobre a dependência energética de Portugal, mas sob o ponto de vista qualitativo a Europa está toda no mesmo barco. É legítimo que a Europa se proponha ser pioneira e particularmente ambiciosa no aproveitamento dos seus recursos energéticos endógenos. Para Portugal, é particularmente interessante e uma boa oportunidade pelo que possa permitir endogeneizar na economia nacional algo mais do que acontece. As renováveis estão a emergir e todos estão a aprender, pelo que também é uma oportunidade para fazer coisas novas.

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