Açores recorda sismo de há 25 anos na Ilha Terceira - TVI

Açores recorda sismo de há 25 anos na Ilha Terceira

Açores

Vinte e cinco anos depois, a ilha Terceira recorda sábado o sismo de 1 de Janeiro de 1980, um "dia cheio sol" transformado num pesadelo que matou 61 pessoas e desalojou 21 mil.

O abalo atingiu o grau 7 na escala de Richter e deixou um rasto de destruição em três ilhas açorianas - Terceira, São Jorge e Graciosa.

Os onze segundos fatais, que danificaram 16.530 habitações e cerca de 90 por cento das igrejas, "empurraram" os sinistrados para alojamentos temporários em quartéis, edifícios públicos, aldeamentos de módulos metálicos e tendas cedidas pela ajuda internacional, nomeadamente a Cruz Vermelha.

Um quarto de século depois, o responsável do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA) afirmou à agência Lusa que o abalo de 1980 constituiu um dos eventos sísmicos mais importantes dos últimos séculos, a que se seguiu um maremoto que atingiu a baía de Angra do Heroísmo.

Com uma velocidade de 250 quilómetros/hora, a onda gerada pelo terramoto atingiu apenas uma altura de 60 centímetros, um "pequeno maremoto" cuja dimensão se explica com as características irregulares do fundo do mar dos Açores, que absorveram a sua energia, disse Victor Hugo Forjaz.

Segundo o professor da Universidade dos Açores, esta não foi a primeira vez que o arquipélago foi atingido por um maremoto, havendo, por exemplo, o antecedente de 1755 que gerou uma onda com consequências muito mais gravosas para Angra do Heroísmo.

Apesar destes registos históricos, os maremotos nas ilhas "não são muito vulgares", realçou o responsável do OVGA, para quem este fenómeno numa área de grande actividade sísmica se justifica com o elevado número de fracturas nas placas tectónicas que fazem dissipar a energia.

"Não tenho receio de grandes maremotos nos Açores", admitiu o investigador, que salientou ser possível detectar este tipo de fenómeno natural por vários sistemas, alguns dos quais instalados no Havai, uma das zonas críticas do Mundo.

Desde bóias ancoradas a longa distância da costa que emitem um sinal de aviso quando detectam uma movimentação de água anormal, até sistemas informáticos de alerta em rede, existem várias formas de detectar os maremotos, garantiu o especialista.

Naquele primeiro dia de 1980, "Angra do Heroísmo ficou em cacos", recordou ainda Victor Hugo Forjaz, que admitiu que a população teve a "sorte" do sismo ter acontecido durante um dia feriado "cheio de sol", exactamente às 15:43 locais.

Se o abalo fosse de madrugada, com as pessoas nas suas residências, o número de vítimas poderia ter chegado aos "14 mil", afirmou o investigador açoriano.

Após o terramoto, a população da ilha Terceira iniciou de imediato a recuperação dos estragos, respondendo ao apelo do então presidente do Governo Regional, Mota Amaral: é preciso "enxugar as lágrimas e arregaçar as mangas".

O presidente do Instituto Açoriano de Cultura, um terceirense que viveu a catástrofe, assegurou à Lusa que o terramoto "transformou a sociedade" da ilha Terceira e, em particular, da cidade de Angra do Heroísmo, hoje classificada pela UNESCO como Património Mundial.

A cidade "está melhor" com um "parque habitacional do melhor que há nos Açores" ao nível do seu valor arquitectónico e da segurança sísmica, adiantou Jorge Bruno.

As pessoas "aperceberam-se o que é a casa ter caído", salientou o responsável do IAC, para quem o sismo de 1980 gerou "um dinamismo económico" invulgar numa ilha com cerca de 55 mil habitantes.

Ao contrário do que aconteceu com outras catástrofes naturais, caso da erupção vulcânica dos Capelinhos no Faial, a população não deixou a ilha, que assistiu, ainda, à chegada de trabalhadores de construção civil, muitos dos quais acabaram por se fixar na Terceira.

Apesar de realçar que "não têm preço" as vidas que se perderam na catástrofe, o historiador considerou, também, que a recuperação do património imóvel constituiu um dos "aspectos mais visíveis" do último quarto de século na ilha.
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