Caça à corrupção sem dinheiro para avançar - TVI

Caça à corrupção sem dinheiro para avançar

Polícia Judiciária investigou, só em 2002, 250 processos por corrupção activa

Os objectivos de combate aos crimes de corrupção, tráfico de influências ou peculato podem estar comprometidos.

O alerta é dado por Cândida Almeida, procuradora-geral Adjunta, que denuncia a falta de condições do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e a redução do orçamento para a investigação.

Com 300 processos em investigação, a grande maioria dos quais relacionados com o crime económico e financeiro, o DCIAP vive à beira da ruptura; «as investigações não estão em risco porque as pessoas passam lá os dias e as noites a trabalhar, sem receberem mais um tostão por isso. Funcionários, magistrados, órgãos de polícia criminal e peritos do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) trabalham até às cinco da manhã, vão a casa tomar um duche e regressam», afirmou a Procuradora ao CM.

Embora recuse a hipótese de deixar prescrever algum dos crimes em investigação, Cândida Almeida receia pelos resultados conseguidos: «O que pode acontecer é não se alcançarem os objectivos da investigação. Não se descobrir aquilo que se pretende. Isso é gravíssimo, e por isso é que os processos demoram».

«É preciso recorrer a peritagens e a traduções que são essenciais neste tipo de criminalidade, é preciso dinheiro para que as coisas sejam feitas. São necessários carros em condições e, sobretudo, mais funcionários», diz a directora do DCIAP, acrescentando, «não estamos a falar de um serviço administrativo qualquer. Estamos a falar de criminalidade sofisticada e altamente organizada. Não se pode reduzir o orçamento na investigação. Se tivéssemos terroristas, como é que fazíamos? Andávamos atrás deles a pé ou de mota?»

Conhecer o perfil do corruptor

O DCIAP patrocinou um estudo sobre corrupção em Portugal que se encontra quase pronto. «Nasceu da preocupação de fazer o perfil do corruptor activo e do corrupto passivo. Se é homem ou mulher, que idade tem e onde trabalha, se é no poder central ou local», afirmou ao CM, Cândida Almeida. A procuradora-geral Adjunta referiu também que o documento vai abordar «a percentagem de arquivamentos e de acusação e, nos casos que chegam a Tribunal, vai analisar a percentagem de condenações conseguidas».

A informação que constará no estudo foi recolhida através de um inquérito realizado a jornalistas e magistrados, «pretendemos agora fazer um inquérito aos cidadãos anónimos, mas não há dinheiro. Temos feito tudo com a boa vontade dos que trabalham», acrescenta Cândida Almeida.

O estudo incide sobre as investigações realizadas de 1999 a 2001 e «revela uma grande discrepância sobre as chamadas «cifras negras» e a criminalidade efectivamente registada», conclui a procuradora.
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