Manoel de Oliveira é condecorado sexta-feira pelo Governo francês - TVI

Manoel de Oliveira é condecorado sexta-feira pelo Governo francês

Manuel de Oliveira

O cineasta Manoel de Oliveira, que aos 96 anos é o realizador mais idoso do mundo ainda activo, recebe sexta- feira, em Paris, as insígnias de comendador da Legião de Honra do presidente da República Francesa, noticia a agência «Lusa».

Jacques Chirac irá condecorar o cineasta português no Palácio do Eliseu, numa cerimónia que deverá decorrer ao fim da manhã.

Patriarca do cinema português, Manoel de Oliveira continua a realizar uma média de um filme por ano, preparando actualmente a longa-metragem «Espelho Mágico», a partir do romance «A Alma dos Ricos», de Agustina Bessa-Luís.

Quando era jovem sonhou ser actor, mas viria a tornar-se no realizador português mais consagrado no estrangeiro. Elogiada por uns e criticada por outros, a obra de Manoel de Oliveira é um símbolo indiscutível da história do cinema nacional.

Os portugueses reconhecem-lhe o génio, apesar de não ser o grande público quem vê os seus filmes. às críticas, Manoel de Oliveira tem vindo a responder em entrevistas que lhe bastam algumas dezenas de pessoas que amem os seus filmes para se sentir gratificado e prosseguir.

Fazer filmes, para o patriarca do cinema português, teve sempre como objectivo primordial oferecer momentos de «prazer visual e espiritual» ao público.

Foi pela mão do pai, Francisco José Oliveira, que conheceu os filmes de Charles Chaplin e Max Linder, nas sessões de cinema da Praça dos Poveiros, no Porto, cidade onde nasceu, a 11 de Dezembro de 1908, numa família da burguesia industrial.

Os primeiros estudos decorreram no Colégio Universal e, posteriormente, no Colégio Jesuíta de La Guardia, na Galiza. O gosto pelo desporto levou-o a conjugar a prática de ginástica, natação e remo, chegando a ser campeão nacional de salto à vara pelo Sport Clube do Porto.

Ainda jovem, com fama de galã e boémio, sonha tornar-se actor, e aos 20 anos inscreve-se na Escola de Actores de Cinema, chegando a participar em filmes como figurante, nomeadamente «A Canção de Lisboa», em 1933, e também mais tarde, no filme de João Botelho «Conversa Acabada», onde fez de padre.

O pai oferece-lhe uma máquina de filmar e Manoel fica fascinado com a criação cinematográfica. Com apenas 22 anos filma a curta- metragem «Douro - Faina Fluvial», revelando um grande talento para a sétima arte, mas é pateado na primeira apresentação pública do filme.

O mesmo acontece com «Aniki Bobó», a primeira longa-metragem, que estreia em Lisboa em 1942, mais tarde considerado um dos seus melhores filmes pelo grande público.

«Acto de Primavera» foi o primeiro filme a ser premiado, no Festival de Cinema de Siena, em 1963, ano que fica marcado também pela detenção de Manoel de Oliveira pela PIDE durante uma sessão pública do filme, em Lisboa, tendo depois sido detido na prisão de Aljube, em Lisboa.

É a partir dos anos 80 que começa a crescer o reconhecimento no estrangeiro, nomeadamente nos festivais de Veneza, Cannes, Locarno, Pesaro e Montreal, onde exibem os seus filmes em estreias ou retrospectivas.

Depois da consagração com um Leão de Ouro pelo conjunto da obra, recebido em Itália, o autor de «Amor de Perdição» é feito comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo então presidente da República, Mário Soares.

Entre outros prémios, recebeu uma menção especial do júri de Cannes para o filme «Non ou a vã Glória de Mandar», em 1990, uma das obras com que mais se identifica.

Há 15 anos que cria um filme anualmente, perfazendo já meia centena de obras, entre as quais «Sapatos de Cetim», «Party», «A Carta», «Vale Abraão», «O Convento», «Vou para Casa», e «A Caixa».

Para homenagear a sua vida e obra, a Câmara Municipal do Porto construiu uma Casa do Cinema que acolherá o espólio do cineasta. O projecto é da autoria do arquitecto Souto Moura e deverá integrar uma biblioteca, um auditório polivalente e um centro de documentação, desconhecendo-se ainda a data da inauguração.
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