PJ investiga abusos sexuais na Obra do Ardina - TVI

PJ investiga abusos sexuais na Obra do Ardina

Pedofilia

A Fundação Obra do Ardina, que acolhe crianças e jovens em risco, está a ser investigada pela Polícia Judiciária.

De acordo com o Público, o inquérito envolve o presidente da instituição, Alexandre Martins, sobre quem existem suspeitas de ter abusado sexualmente de menores, mas poderá também implicar outras pessoas, quer internas quer externas à fundação.

Um ex-monitor da fundação contou ao jornal que há muito tempo que se sabe que alguns miúdos frequentavam o Parque Eduardo VII, em Lisboa, para se prostituírem. «Eu próprio cheguei a ir lá buscar um", garantiu, acrescentando que na altura em que lá trabalhou já corriam informações sobre «situações estranhas com o presidente».

Confrontado com esta suspeita, Alexandre Martins, 71 anos, confirmou ter sido ouvido na PJ, em Fevereiro de 2004. Este responsável, há 20 anos à frente da Obra do Ardina, afirmou que as acusações de que foi alvo terão partido de «três ex-funcionárias, que, através de cartas anónimas, acusaram o presidente de abusos sexuais».

Estarão também a ser investigadas alegadas infracções contabilísticas e desvios de fundos, da responsabilidade do presidente da Fundação. Uma das acusações tem a ver com investimentos duvidosos, nomeadamente a construção de uma casa de «48 mil contos», numa altura em que a instituição passava por dificuldades financeiras, alegadamente destinada a colónias de férias.

A moradia situa-se em Martim Joanes, Cadaval, terra onde o presidente da Fundação tem uma residência. Alexandre Martins referiu que esse investimento foi pago com doações destinadas para aquele fim. E que um dos mecenas foi a Nokia, que contribuiu com 50 mil euros, dinheiro gasto na compra de um terreno de eucaliptal, onde a habitação está situada, salientou.

De acordo com o que o Público apurou junto de fonte judicial, os investigadores terão, no entanto, também relevado as ligações antigas entre o médico João Ferreira Dinis, um dos arguidos no processo Casa Pia, e a Fundação Obra do Ardina, onde deu algumas conferências.

Segundo uma informação publicada pelo «Expresso», em Dezembro de 2002, com base num ofício da Casa do Ardina, essas conferências do médico versavam sobre educação sexual. No mesmo ofício citado pelo semanário - assinado pelo presidente da Fundação (alegadamente seu paciente) - pedia-se a continuação da colaboração com a Fundação, «dada a facilidade de comunicação e expressão de que o senhor doutor João Dinis é portador, e ainda pelo bom relacionamento e aceitação por parte dos nossos jovens que já o conhecem».

Alexandre Martins corrobora a ligação de João Ferreira Dinis com a Obra do Ardina, explicando que ela havia decorrido de uma sugestão de uma antiga enfermeira que trabalhara na instituição. «O dr. Dinis fazia palestras na Rádio Renascença. E essa enfermeira, de quem já não tenho o contacto, perguntou se o podia convidar para vir cá fazer uma palestras».

Segundo o presidente da Fundação, o médico acabou por ir fazer duas palestras ao lar da Bela Vista, na Graça, a partir de 1996, sobre vários assuntos, como «tabagismo e doenças sexualmente transmissíveis». Alexandre Martins sublinha que as crianças gostaram muito, até porque Ferreira Dinis fazia as apresentações com material vídeo - e porque trazia o Ferrari, que as deslumbrava.

A mulher do presidente da Obra do Ardina, que assistiu ao desempenho do palestrante - acrescentou ainda o responsável -, também elogiou a sua facilidade de comunicação, razão pela qual Alexandre Martins quis que o médico repetisse as sessões de esclarecimento, em 1998.

Alexandre Martins entendeu também precisar ao Público que Ferreira Dinis, nessas comunicações, se fazia acompanhar pelo seu braço direito, um jovem ex-casapiano chamado Ricardo, também referenciado no processo de pedofilia da Casa Pia.
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