Os produtos das cadeias de distribuição estão a roubar terreno às marcas na preferência dos portugueses, que vêm aqui uma oportunidade para poupar. Mas a Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca (CentroMarca) acusa os hipermercados de concorrência desleal e diz que são as marcas que pagam as novas lojas abertas.
A CentroMarca considera que esta nova preferência pelos produtos da distribuição é «artificial» e reflecte as condições de «concorrência desleal» que existem no sector. A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) tem uma opinião contrária.
Em declarações à Agência Financeira, o presidente da CentroMarca, Duarte Raposo Magalhães admite que «as marcas próprias da distribuição cresceram muito nos últimos tempos», sendo que só no último semestre de 2008 aumentaram 30%, mas lembra que «os portugueses sempre preferiram, historicamente, produtos de marca. Esta inversão repentina de tendência é um pouco artificial. Admito que estes produtos possam ser uma opção válida para os consumidores que, neste tempo de crise, procuram preços mais baixos, mas isto não é espontâneo, trata-se de um crescimento que é influenciado por uma atitude pensada por parte da distribuição».
A atitude em causa constitui uma das principais queixas que a CentroMarca tem contra as cadeias de distribuição, que acusa de estarem «a retirar as marcas dos lineares (prateleiras) ou a colocá-las em lugares pouco visíveis. A distribuição aluga espaços (nas suas prateleiras) e os seus produtos próprios concorrem com os de marca. Parece-nos que há aqui um problema de concorrência. Estamos a ser extremamente maltratados, pressionados, comprimidos a nível de localização», desabafa.
A associação das marcas diz que existe um «desequilíbrio muito grande, em termos de poder negocial entre as marcas e a distribuição», mas a APED sublinha que «isso só acontece com os pequenos produtores, que têm pouca expressão no mercado. Cabe a esses produtores organizarem-se para terem mais poder de negociação».
«Por exemplo, uma marca como a Coca-Cola ou até mesmo uma marca nacional que acaba por ser líder de mercado, como a Super Bock ou a Sagres, têm muito poder de negociação», explicou o secretário-geral da associação, José António Rousseau, em declarações à Agência Financeira.
Quanto às comissões cobradas às marcas para colocar os produtos nos lineares, o mesmo responsável garante que apenas são cobrados «aos produtos novos», embora não refira valores.
Sector debate necessidade de novo regulador
A CentroMarca diz que as empresas não conseguem concorrer em termos de preços com a distribuição, alegando que «a formação de preços dos dois produtos é completamente diferente. Nós temos o custo da inovação (que implica investigação), custo de fabricação, custo de transporte e stockagem, temos de pagar à distribuição para referenciar o produto e colocá-lo no linear, temos custo de reposição, custo de colocar os produtos no catálogo, e não se sabe se os produtos da distribuição pagam o mesmo».
De acordo com Duarte Raposo Magalhães, «são valores extremamente elevados. Para se ter uma ideia, as novas lojas abertas pela distribuição são pagas por nós».
O que a associação exige é «uma regulação independente, que imponha obrigações iguais para todos». Para isso, as queixas foram já levadas à Autoridade da Concorrência (AdC), que anunciou recentemente que irá investigar o sector. De resto, também o Parlamento vai «olhar para a situação».
Mais uma vez, a APED discorda e não vê necessidade de se criar uma nova entidade reguladora, e lembra que «não é a indústria nem a distribuição que determinam os preços, é o mercado, ou seja, são os consumidores».
«Nós é que pagamos as novas lojas abertas pela distribuição»
- Paula Martins
- 30 mar 2009, 06:00
Marcas querem novo regulador, mas associação não
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