Um trajeto razoalvelmente tuga até ao Euro 2020 - TVI

Um trajeto razoalvelmente tuga até ao Euro 2020

Pulga Maldita

«Pulga maldita»

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Estamos no Euro 2020.

Significa que no Verão afinal vamos ver o Europeu (ufa!), mas a verdade é que esta fase de apuramento soube a pouco. Portugal assentou basicamente o seu jogo na genialidade do Ronaldo e no nosso talento único para usar a calculadora.

Para quê as táticas quando temos a matemática.

De resto, queixamo-nos muito. É sempre assim. Criticámos, por exemplo, o facto termos jogado num batatal, mas não nos esqueçamos que é um batatal tratado por alguém que ganha no mínimo dois mil euros por mês. É um batatal de topo.

Em toda a qualificação, o mister Fernando Santos nunca facilitou. Usou sempre a tática 4-3-3-e-se-não-funcionar-mete-no-Ronado-que-ele-resolve. Por isso é que Portugal é campeão europeu: não há cá facilitismos com o nosso engenheiro.

Rui Patrício foi dono e senhor dos postes. O Beto e o Anthony Lopes iam mais para lhe fazer companhia.

A lateral direita alternou entre Nélson Semedo, João Cancelo e Ricardo Pereira, mas foi este último que terminou a qualificação, e bem: Ricardo Pereira está sempre ligado à corrente. Corre mais do que os adversários, mais do que os colegas, e às vezes, mais do que a bola. Se não o tivessem avisado que os jogos tinham acabado, ainda estaria a correr agora no Luxemburgo.

Na lateral esquerda, consistência defensiva e centros teleguiados. Duas coisas que Raphael Guerreiro e Mário Rui não tiveram porque estão a guardá-las para o Euro. Génios.

Os centrais estiveram sempre em bom nível. Pepe desta vez não bateu em nenhum adversário. Fora isso, não lhe aponto mais nenhuma falha. Rúben Dias está sempre no sítio certo e intimida os adversários só com o olhar. Ainda tem muito a aprender com Pepe. José Fonte é a nossa versão do Robocop. Marque um golo ou seja expulso, a sua única expressão facial é pestanejar, e é porque tem mesmo de ser.

A meio-campo, o Rúben Neves é um William Carvalho, mas sem o bigode sexy. O Danilo Pereira um Rúben Neves, mas sem o futebol inglês. O Pizzi é a regularidade a meio-campo, mas sem um nome português.

Quanto a João Moutinho, tenho para mim que é filho ilegítimo do Fernando Santos e por isso joga sempre. 

Bruno Fernandes esteve um pouco aquém do esperado. Talvez por ter ao seu lado jogadores de qualidade, algo a que não está habituado ultimamente. Quando finalmente se habituou, marcou um golo decisivo no último jogo.

Já Bernardo Silva é um pintor impressionista do século XIX. Qual Claude Monet, para quem a pressa é inimiga da arte, finta 7 adversários só enquanto ajeita a camisola. Depois dá a maior parte dos golos a marcar porque os grandes artistas não gostam de se chatear com coisas banais.

Lá na frente, Cristiano Ronaldo, claro. O que mais há a dizer sobre ele? Vai bater todos os recordes de internacionalizações, golos, e selfies com adeptos que invadem o relvado. O melhor do mundo fala português e é nosso.

Já o Messi e a Argentina, mais uma vez, voltam a falhar a qualificação para um Europeu. Ridículo.

Mas houve mais. Gonçalo Paciência, por exemplo, ameaça ser o goleador da Seleção, quando mudar o nome para Impaciência. André Silva está a tornar-se num excelente contabilista, de tão poupadinho que é nos golos. Fossemos nós assim na eletricidade. Dyego Sousa, por fim... é uma joia de moço. É simpatiquíssimo e tem um belo sorriso.

Garantida a qualificação e em clima de festa, Fernando Santos ficou com a expressão a quem assaltaram a casa e roubaram o carro. Ao sair do campo ainda ficámos com a sensação de que esboçou um sorriso, mas não, era apenas aquele trejeito que ele faz com a boca.

Agora, é fazer o resto da época para estar ao melhor nível em junho do ano que vem. Somos os campeões em título e queremos reconquistar o caneco! Por isso, mister Fernando Santos, faça o favor de convocar o Éder.

«Pulga maldita» é um espaço de humor de Pedro Sepúlveda, copywritter da TVI, que escreve aqui às quintas-feiras. Siga o trabalho criativo dele no Facebook

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