Reaproveitar o lixo dos outros - TVI

Reaproveitar o lixo dos outros

Lixo em Lisboa

Uma comunidade que funciona online e o movimento «freegan» são exemplos de uma vida contra dos desperdícios

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Reaproveitar o lixo dos outros pode ser o caminho para poupar dinheiro e para ajudar a preservar o ambiente. A comunidade freecycle, que funciona em fóruns da Internet, e o movimento «freegan» (fusão das palavras «free» gratuito- e vegan -vegetarianos) são exemplos, mostrados numa reportagem, de como se pode viver utilizando o que os outros não querem, refere a Lusa.

A professora universitária Maria Aurindo garante não ser uma «fundamentalista» do anti-consumismo nem da defesa do Ambiente, mas diz que estar associada ao movimento freecycle já lhe possibilitou poupar dinheiro, recursos ecológicos e ajudar os outros. O freecycle serve de ponto de encontro para cibernautas que oferecem e procuram de tudo um pouco, desde consolas de jogos, mesmo avariadas, a roupas, móveis, serradura, caixas de ovos vazias, aquários, sacos de café, material de pesca e sanitas.



Maria Aurindo quer abrir portas e levar a experiência para fora da Net. E vai apelar à Câmara Municipal de Lisboa para que abra periodicamente os armazéns dos «monos» aos reutilizadores do «lixo dos outros». Os monos são objectos de grandes dimensões recolhidos pela autarquia quando alguém o solicita.

A professora encontrou o movimento freecycle numa busca de móveis em segunda mão para mobilar uma casa herdada e percebeu que podia reduzir os custos a. . . zero. A experiência tornou-a também numa intermediária entre os que querem ganhar espaço em casa e desfazer-se de objectos e quem precisa deles.

Freegan: quando o lixo dos outros basta

João e Ana são mais que recicladores, são «freegans». Mobilam a casa, vestem-se e alimentam-se com objectos e produtos recolhidos por todo o lado. Recolhem o «lixo dos outros» não por questões económicas, mas porque não suportam o desperdício. O músico João (nome fictício) diz não comprar roupa nova há anos e que basta uma «visita» semanal a supermercados e mercados de Lisboa para encher a dispensa.

Mas estas visitas não servem para comprar, mas antes para recolher alimentos dos contentores, uma prática que conheceu há oito anos na Holanda. Estando «tudo limpo e bem desinfectado», os alimentos são consumidos e até oferecidos à mãe, que com um salário entre os 300 e os 400 euros agradece toda a ajuda.

«A sociedade e eu não nos entendemos lá muito bem e viver de forma alternativa é sempre possível», garante João, que também se junta a amigos que ocupam casas, uma das actividades incluídas no movimento «freegan» mais «convencional» como o vivido em Nova Iorque.

Já para Ana, a recolha do «lixo dos outros» ultrapassa as questões ecológicas e económicas: «É um prazer e necessidade de prolongar a vida dos objectos, dar-lhes um novo lar, uma nova oportunidade, uma continuidade».

Ana considera-se uma «glaneuse» (respigadora). Recolhe alimentos numa lógica de respigadora, ou seja, aproveita tomate, batatas ou uvas deixados nas máquinas de recolha dos campos e que acabariam por apodrecer. E se num primeiro momento foi criticada pelos mais próximos, esses agora também já seguem o seu exemplo.
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