FMI avisa: restrições ao crédito vão agravar-se - TVI

FMI avisa: restrições ao crédito vão agravar-se

Dinheiro (arquivo)

Crédito vai continuar a cair em países periféricos como Portugal e Grécia, prevê Relatório de Estabilidade Financeira

Atualizada às 8h15 de 4ª feira com mais informações

O Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipa que o crédito vai continuar a cair em países como Portugal e Grécia e diz que a periferia e o centro da Zona Euro estão cada vez mais distantes nos indicadores financeiros.

«A União Monetária está cada vez mais fragmentada entre a periferia e o núcleo», lê-se no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta terça-feira. O documento, citado pela Lusa, justifica este fosso com o facto de os bancos da zona do euro terem reduzido «significativamente as suas exposições aos países periféricos», assim como com a diferença nas taxas de juro cobradas entre países da periferia e do centro.

O preço dos novos empréstimos aumentou na periferia, enquanto diminuiu nos países do núcleo da Zona Euro, indica a instituição liderada por Christine Lagarde. A possibilidade de um país da periferia (como Grécia ou Portugal) sair da Zona Euro também acentua esta fragmentação financeira na região.

O FMI alerta ainda que, se a confiança financeira da zona euro não for restaurada, deverá haver uma «intensificação» da restrição do crédito na periferia.

De acordo com as estimativas, a oferta de crédito nos países da periferia poderá cair, até final de 2013, entre nove por cento, no cenário base (com melhoria da confiança financeira), e 18 por cento no pior cenário (que implica uma deterioração da confiança).

O FMI considera que a crise na Zona Euro continua a ser a «principal fonte de incertezas dos investidores» e «principal ameaça» à estabilidade financeira mundial.

Apesar das medidas tomadas pela Europa terem «mitigado os receios mais sérios dos investidores», a crise tem levado os mesmo «a procurarem refúgios seguros noutras jurisdições, especialmente nos Estados Unidos e no Japão», que levaram os custos de empréstimos destes Estados «a mínimos históricos».

O FMI referiu-se ainda às reformas regulatórias que foram executadas na sequência da crise para considerar que os mercados e instituições financeiras continuam pouco transparentes e complexas. Com a falta de políticas adequadas «as economias continuam suscetíveis aos efeitos de contágios transfronteiriços prejudiciais», avisa.

Ativos dos bancos vão continuar a cair

O mesmo relatório antecipa que os ativos da banca europeia vão continuar a encolher até final de 2013, entre dois e 3,5 biliões de euros.

Na prática, os principais 58 bancos europeus poderão encolher os seus balanços numa proporção que pode variar entre 7,3% dos ativos no melhor cenário (com melhoria da confiança financeira) e 12% (no pior cenário).

Este cenário é pior do que o estimado pelo FMI em abril, devido às expectativas mais baixas de lucros da banca, ao aumento das perdas, devido à deterioração das condições económicas, e ao aumento das pressões de financiamento sobre os bancos.

Note-se que entre os 58 bancos estudados na análise do FMI há quatro portugueses: Caixa Geral de Depósitos, BCP, Espírito Santo e BPI.

Fuga de capital da periferia para o centro piora cenário

O FMI avisa, também, que a fuga de capital da periferia para o centro da Zona Euro agrava a instabilidade financeira na Europa e realça o «precário» equilíbrio da moeda única.

E deu o exemplo de países como Itália e Espanha e os seus altos spreads de dívida soberana como reflexo das tensões financeiras e aversão ao risco.

O relatório destaca que Espanha sofreu saídas de capital entre junho de 2011 e junho deste ano de 296 mil milhões de euros (27% do Produto Interno Bruto de 2011), enquanto Itália registou saídas de 235 mil milhões de euros ou 15% do PIB do ano passado.

Por detrás dos altos spreads da dívida soberana destes países estão, segundo o FMI, a perda de confiança nos responsáveis políticos, as fortes ligações entre a banca e os títulos da dívida e a retirada dos investidores transfronteiriços.
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