O dia 28 de maio de 2020 estava marcado no calendário de casa a letras douradas.
Qual final da Liga dos Campeões?! Isso era no dia 27, mas o evento do ano era outro.
O dia 28 é que era o dia mais sonhado do ano. O evento pensado ao detalhe para ser o tal «dia mais feliz» da vida de André Ferreira e Magda Fernandes.
Só que o destino trouxe uma pandemia. E o sonho dos noivos, antigos colegas de escola que andam de mão dada na vida desde os 16 anos, teve de ser adiado por um ano.
Para o guarda-redes do Santa Clara, foi como ver a bola mais importante da vida passar-lhe entre os dedos. Sem qualquer culpa e sem nada poder fazer para o impedir.
Pior. No dia em que era suposto trocarem alianças, André e Magda estavam bem longe um do outro. E a atravessar o maior período afastados desde que iniciaram o namoro.
Mas tal como acontece no campo, o segundo seguinte à desilusão foi para fazer a bola voltar a rolar e ir em busca do objetivo. O «sim, aceito» foi adiado por um ano, mas o sonho ganhou força.
Até porque André e Magda sabem, praticamente desde aquele 23 de março de 2013, quando ele ganhou coragem para (finalmente!) a pedir em namoro, no Cais de Gaia, que a vida é feita de contratempos. E apesar disso, sempre souberam fazer o amor fortalecer nas dificuldades… e à distância.
Mudança para o Benfica 'roubou' o início da paixão
Natural de Gaia, André Ferreira iniciou o percurso futebolístico no Vilanovense, passando depois pelo Pasteleira, pelo Boavista e pelo Nogueirense, clube do qual se transferiu para o Benfica quando tinha 17 anos.
Mas se desportivamente o passo dado pelo jovem guarda-redes foi totalmente positivo, em termos pessoais apanhou-o num limbo, uma vez que tinha acabado de iniciar o namoro com a miúda dos seus sonhos.
Mas há lá distância que trave o amor?
«Ela vinha a Lisboa de vez em quando, ao fim de semana eu conseguia ir a casa e, depois, quando cheguei à equipa B, já tinha um apartamento e era mais fácil», começa por recordar André Ferreira.
«Foi uma boa preparação para a vida. Porque nesta profissão é sempre difícil estar a fazer planos. Além disso, ela quer ser advogada, já se formou e também não deixou de lutar pelo sonho que tinha», realça o guarda-redes, resumindo orgulhoso: «Conseguimos ambos concretizar os nossos sonhos e é assim que deve ser uma relação».
Um helicóptero, a Ponte D. Luís e… «ela disse sim»
Se o início do namoro de André e Magda coincidiu com a chegada do guardião ao Benfica, o pedido de casamento aconteceu no fim da relação dele com as águias, pouco depois de ter assinado pelo Santa Clara.
Logo após terem ficado com o Oceano Atlântico a separá-los, André Ferreira aproveitou um estágio de pré-época no Continente para fazer o pedido.
Para isso, além dos melhores amigos de ambos, o futebolista elaborou um plano que metia um helicóptero e a Ponte D. Luís. Não tinha como dar errado.
«Levei-a a dar um passeio de helicóptero no Porto e os nossos amigos estenderam uma faixa na ponte com o pedido», confidencia, orgulhoso.
Seguiram-se meses de planos para o dia perfeito. A escolha da quinta que enchia as medidas de Magda, encaixar o casamento na pausa da temporada desportiva – mesmo tendo de casar numa quinta-feira - os convites todos entregues… e os planos pelo ar à custa da pandemia.
«Ficou tudo virado do avesso. Quando o campeonato foi interrompido, comecei a ficar apreensivo porque sempre achei que iríamos ter de voltar a jogar. Isso era demasiado importante, sobretudo para os clubes mais pequenos. Fizemos contas de cabeça e percebemos que íamos mesmo ter de adiar o casamento», resume.
Contrariamente ao que se poderia pensar, Magda Fernandes não teve um ataque de nervos com a situação. É a própria que o garante.
«Sempre fui uma noiva muito calma. Claro que custou adiar tudo, depois de tanto tempo a preparar os detalhes todos, mas até fui eu a primeira a dizer que não havia alternativa», revela, justificando com a preocupação com a saúde dos convidados.
«Tínhamos o plano de vida todo articulado e saiu tudo ao lado. Mas por muito que quiséssemos casar já, acima de tudo, queríamos os nossos amigos e familiares em segurança. Se não tivéssemos adiado, não ia ficar com o coração descansado», assume.
Dois meses separados e a emocionante surpresa «no» dia
Como se não bastasse ter impedido o casamento no dia previsto, a covid-19 obrigou André e Magda a passarem mais de dois meses sem se verem, a partir do momento em que ele teve de voltar aos Açores para a quarentena antes de iniciar os treinos.
«Foi péssimo. Péssimo. Nunca tinha estado tanto tempo sem o ver. E foi ainda mais difícil porque já temos a nossa casa, temos três cães e caiu tudo em cima de mim. Ele tenta ajudar-me o mais que pode, mas à distância é muito difícil», lamenta.
De todos os dias de afastamento, houve um mais doloroso do que todos os outros: o 28 de maio, pois claro.
«Foi complicado. Além de não podermos casar, nem sequer poder estar com o André nesse dia foi difícil. Fui passar o dia com a minha melhor amiga, passámos o dia a estudar e depois tivemos uma surpresa dos nossos amigos», revela Magda.
Também André nos tinha falado dessa surpresa. De uma videochamada feita com os amigos mais próximos e durante a qual os noivos foram surpreendidos com vídeos feitos a brincar com o adiamento e com questionários habituais em dia de casamento.
Mas se para ele isso ajudou a atenuar a ansiedade, para Magda foi diferente.
«Eu sei que a intenção era a melhor. Quiseram alegrar o nosso dia e ajudar-nos a passá-lo da melhor forma. Mas acabei por ficar mais triste. Porque era suposto estarmos a fazer aquilo, mas todos juntos, não à distância», explica.
Esta semana, porém, uma boa notícia. André e Magda voltaram, finalmente, a estar juntos. Foi pouco mais do que umas horas, mas deu para atenuar as saudades. O casamento ainda terá de ficar para outras núpcias (17 de junho de 2021), mas isso, já percebemos, não será problema.
E o casal está disposto a agarrar a vida com as duas mãos e sair a jogar.
«Já construímos muita coisa juntos e as dificuldades têm tornado a nossa relação mais forte. Não é por adiarmos o casamento por um ano que vai haver problema. É mais um ano de namoro e depois teremos muitos de casados», defende André Ferreira.
E não são palavras que até ficavam bem nos votos de casamento?
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