Football Manager 2020: «’Wonderkid’? O Fábio Silva, claro» - TVI

Football Manager 2020: «’Wonderkid’? O Fábio Silva, claro»

Carlos Bessa (Football Manager)

«Não podemos correr o risco de ter mais Tó Madeiras», diz Carlos Bessa, um dos responsáveis máximos pelo jogo em Portugal. Lançamento agendado para 8 de novembro

Chegou aquela altura do ano. Que clube escolher? Quanto dinheiro teremos para investir no mercado de transferências? Qual a tática acertada para levar a nossa equipa à glória? Quantas horas ainda posso dormir antes de ir trabalhar? É só mais um jogo, é só mais um jogo.

Está a chegar o Football Manager 2020, a edição revista e atualizada do simulador de gestão de futebol mais famoso e bem sucedido do planeta dos videojogos. O lançamento oficial está marcado para 8 de novembro, mas já é possível experimentar a versão beta.

Para por tudo em pratos limpos e perceber o que aí vem e o que foi feito nos últimos meses, o Maisfutebol convidou Carlos Bessa, um dos dois Head Researchers e responsáveis máximos para o mercado português, a uma visita aos bastidores do jogo que nos acompanha há 26 anos.

Avisem família e amigos: o vício de ser treinador de futebol voltou e tem encontro marcado com milhões de fieis em todo o mundo. 

Carlos Bessa visitou o Maisfutebol para apresentar o FM2020

Maisfutebol – Faltam poucos dias para o lançamento oficial do FM2020. Ainda há trabalho por fazer?

Carlos Bessa - Nesta fase já está tudo feito da nossa parte. Entregámos a base de dados no final de setembro. Depois disso trabalhámos na versão beta. Testámos o jogo para identificar eventuais erros.

MF – Qual é a fase mais dramática para a vossa equipa de trabalho?

CB - A fase mais dura é o mercado de transferências de verão. Estamos constantemente a fazer atualizações nos plantéis e no staff técnico. Não é fácil saber quem são os médicos, os fisioterapeutas, os nomes mais anónimos. Os clubes, infelizmente, não cooperam. 70 por cento dos clubes portugueses ignoram as nossas solicitações.

MF – Como é que dão a volta a isso?

CB – Através dos nossos colaboradores, muitas vezes por linhas travessas. Só pedimos os nomes das pessoas para ter uma informação fidedigna, mas não é fácil. Aproveito para apelar aos clubes nacionais para nos facilitarem esse trabalho no futuro. São informações inofensivas e que podem projetar os clubes num jogo de dimensão mundial.  

MF – Qual é a estrutura da vossa empresa cá em Portugal?

CB – Há dois Head Researchers, eu e o Bruno Gens Luís. Somos nós que organizamos o trabalho de mais de 40 elementos. Nesse lote há dois tipos de colaboradores: há o colaborador que trata de um clube em específico, o Portimonense, por exemplo; esse colaborador é do Algarve e conhece tudo o que rodeia o emblema; e depois há o colaborador geral, que não analisa um clube em particular, mas colabora na criação das bases de dados. Este segundo tipo pode seguir uma série do Campeonato do Portugal, eventualmente.

MF – São esses colaboradores, que acompanham os clubes de perto, os responsáveis pela definição dos atributos a cada um dos futebolistas no jogo?

CB – Numa primeira fase, sim, mas depois tudo tem de ser validado por mim e pelo Bruno. Não podemos correr o risco de haver mais Tó Madeiras (risos). Há mais ferramentas para fazer esse controlo, mesmo dentro da Sports Interactive. Mas, ainda assim, de vez em quando ainda identificamos um ou outro jogador cujos atributos são manifestamente exagerados.

MF – Pode dar alguma exemplo recente de um caso desses?

CB – No FM 2018 percebemos que um miúdo da formação do Desp. Chaves tinha um potencial irreal. Tanto assim é que nem sequer passou dos juniores aos seniores, acho mesmo que já nem joga.

MF – Isso aconteceu por algum motivo concreto?

CB – Sim, o analista responsável pelo Chaves era familiar desse miúdo. E aumentou o nível dos atributos dele (risos). Corrigimos isso rapidamente, não foi complicado perceber tudo.

MF – Como é que alguém se pode tornar colaborador da equipa portuguesa do FM?

CB – É só ir ao nosso site (www.fmportugal.net), clicar na zona das candidaturas, preencher os dados pedidos e submeter a ficha pessoal. Depois avaliaremos esse pedido. Abrimos este período de candidaturas duas vezes por ano, mas possivelmente vamos passar a fazer apenas na altura do verão. Há muita gente a querer colaborar connosco, mesmo que tudo isto seja completamente pro bono. As pessoas gostam de sentir que participaram na criação do jogo.

 

Há 14 anos o jogo tinha este aspeto

MF – Fazer este tipo de trabalho implica ver muito futebol.

CB – Muito, muito futebol. Conhecemos bem todos os jogadores das ligas profissionais. No Campeonato de Portugal já não é a mesma coisa. Há maior rigor, a base de dados está bastante melhor, mas é impossível seguir esse campeonato da mesma forma que seguimos as ligas profissionais.

MF – Como é que criam a base de dados para esses clubes de ligas não profissionais?

CB – Depende de muitos fatores. Um exemplo: temos um colaborador que vive na zona da Amora e vê todos os jogos do clube; ou seja, esse clube terá atributos bastante rigorosos. Outro exemplo: não temos ninguém na Câmara de Lobos? Como fazemos? Contactamos alguém da zona ou procuramos informação num jogo que passe no Canal 11 – uma novidade. Outra hipótese é adquirir uma ferramenta de scouting, como o Wyscout ou o InStat. Isso já implica um investimento financeiro.

MF – Quantos futebolistas existem na base de dados dos campeonatos portugueses?

CB – Entre futebolistas e staff já temos mais de 23 mil perfis. Em 2015 só havia nove mil. Conseguimos mais do que duplicar o número, a nossa equipa é fantástica.

MF – Falemos sobre o Carlos. Tem outro emprego além deste?

CB – Sim, tem de ser. A minha colaboração com a Sports Interactive é em part-time, apesar de me tomar muito tempo, e não contempla um salário. Não recebemos qualquer contrapartida financeira, a não ser a oferta do jogo (risos). Por isso mantenho o meu emprego como administrativo numa outra empresa. Mas vou passar a investir na área da informática.

MF – Alguma vez esteve ligado ao futebol real?

CB – Sempre fui mau futebolista e nunca joguei federado. Mas sempre adorei ver futebol e analisar os jogadores. Desde miúdo. Via os jogos todos e transpunha o que via para a gestão das minhas equipas no Championship Manager [antecessor do FM]. Viciei-me na análise do futebol, por volta dos meus 14 anos. A partir do FM2009 comecei a tentar colaborar com o jogo porque identificava algumas lacunas. Foi aí que contactei o José Chieira, atual scout do Sporting, que na altura ocupava a minha atual posição. Enviei-lhe as minhas sugestões e certo dia pedi-lhe para ficar com a observação e tratamento de algumas equipas. Mais tarde, em 2015, ele afastou-se por falta de tempo e passou esta função a mim e ao Bruno.

MF – O FM2020 é lançado no dia 8 de novembro. Quais são as maiores novidades?

CB – No nosso site oficial podem ver a lista completa, mas destaco aqui algumas: as melhorias gráficas, o departamento de desenvolvimento individual do jogador, a discussão com a direção sobre as ambições do clube treinado e a ligação completamente renovada com o nosso treinador adjunto. Mas há muito, muito mais.

MF – Nunca pensou trabalhar em full-time para a Sports Interactive ou entrar no mundo do futebol real?

CB – Já pensei nas duas coisas (risos). Não depende só de mim, pode ser que aconteça no futuro, até porque já tenho alguns anos de casa. Sobre o futebol profissional… as portas têm-se fechado. Adorava estar ligado a um clube profissional, mas é um mundo complicado. Não aconteceu até agora. Imagino-me num departamento de scouting e sei que quem faz o FM tem todas as capacidades para isso.

MF – O ano passado assistimos ao «boom» do João Félix. Para vocês foi uma surpresa?

CB – Zero. Basta jogar o jogo e ver que estava perfeitamente identificado e era um dos «wonderkids» dessa edição. Muito antes de chegar ao plantel sénior do Benfica.

MF – E agora quem é o «wonderkid» a contratar no FM 2020?  

CB – O Fábio Silva, claro. Aliás, ele já na época passada estava identificado. Estou convicto de que vai ser um jogador tremendo e que vai dar muito dinheiro ao FC Porto.

MF – Quais são os clubes mais interessantes para treinar no FM 2020?

CB – Sugiro cinco hipóteses: o FC Andorra (ótimo para quem gosta de subir de escalões), o Sporting (pela instabilidade, crise de títulos e a ambição de bater FC Porto e Benfica), o Paris FC (para subir de divisão e lutar contra o PSG), o Kaiserslautern (um antigo campeão alemão, agora no terceiro escalão) e, para mim, o mais difícil: o Bolton Wanderers (começa a liga com 12 pontos negativos e sem dinheiro para comprar jogadores).



 

 

 

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