Rosa Cruz: 52 anos, apaixonada pelo futebol e o trator do pai - TVI

Rosa Cruz: 52 anos, apaixonada pelo futebol e o trator do pai

Rosa Cruz (Facebook)

Foi avançada, tornou-se guarda-redes e veste a camisola do Casa Povo Martim há 15 épocas. É a mais velha futebolista federada em Portugal

Estão preparados? Estamos perante a mulher mais velha a jogar futebol em Portugal. Nasceu a 10 de outubro de 1962 e, aos 52 anos, é verdade, ainda joga. 

Rosa Cruz, natural de Cabreiros, em Braga, começou a jogar futebol a sério aos 16 anos, numa equipa da terra «que não chegou a ir a avante», mas foi com os irmãos, bem cedo, que deu os primeiros toques na bola.

«Tenho quatro irmãos então o futebol introduziu-se na minha vida de forma natural. Íamos sempre os cinco jogar à bola para a escola aqui ao lado de casa. Sempre gostei mais de fazer coisas de rapazes: também adorava andar de trator com o meu pai», revelou em entrevista ao Maisfutebol.

E estas paixões comandam-lhe a vida, ainda hoje. Rosa nunca deixou o futebol – nem quer – e trabalhou muitos anos numa oficina de automóveis, limpava as instalações, mas também os carros: «E as pessoas gostavam muito de como os limpava.»

Mas, por «já não fazer falta», foi despedida e está desempregada há três anos.

Ao longo da vida já muitas coisas terminaram, mas Rosa continua: «Depois do Cabreiros fui para o Nogueirense, acabou; a seguir fui para o Santa Maria de Barcelos, estive lá uma época, acabou; cheguei ao Esposende, acabou.»

Até que em 1999 chegou ao Casa do Povo de Martim. E aí tudo mudou.



Se antes jogava como avançada, passou a ser guarda-redes. «Era a posição onde fazia falta e disse logo: eu vou», atirou, para acrescentar: «Gosto das duas posições. Ainda marquei muitos golos como avançada e até fui a melhor marcadora numa época, já não sei com quantos golos, mas também gosto de estar na baliza.»

Assim, admite de forma bem-disposta: «Também não sei quantos golos já sofri, mas é melhor nem saber! Sou pequenina, então de vez em quando… lá entra mais um.»

Rosa gosta mesmo de futebol, mas na temporada passada, depois de 15 anos com a camisola do Povo Martim, tinha decidido terminar a carreira: «Só que no início da época as duas guarda-redes lesionaram-se e tive de me inscrever numa quinta-feira para jogar no sábado seguinte.»

Ainda bem! É que a guardiã não se arrepende, mas pelas limitações normais da idade diz que «agora é mesmo para acabar». «Termino este ano. Os jogos não cansam tanto, mas os treinos de guarda-redes são muitos intensos», justificou.

Mesmo assim, só não entrará em campo para jogar: «Neste momento também sou treinadora de guarda-redes e se me lá quiserem, continuo. Se não vou ver os treinos e os jogos.»

Até porque mantém aquilo que o futebol lhe deu: «Tenho amigos por todo o lado. Tratam-me com muito respeito e admiração. Sempre que precisam, lá vêm ter com a Rosa e eu gosto de me sentir útil.»

Mas também se ganham títulos: «Tenho alguns, o mais importante foi o Nacional da Segunda Divisão, sem derrotas e sem empates… só com vitórias.»

«O Artur quando sai dos postes... que desgraça!»

Assim, apesar de nunca ter chegado à Seleção Nacional, o que a deixa com «muita pena», está satisfeita com a sua carreira: «Não se divulgava tanto o futebol na minha altura, mas correu tudo bem. Gostava de ter feito outras coisas, mas estou contente, não me arrependo de nada no meu percurso.»

Ainda hoje a viver na casa dos pais, com o campo de futebol da escola ao lado, os progenitores estão conformados: «Se sábado há jogo ou algum que queira ver, não podem contar comigo. É a minha vida! Não casei, como os meus irmãos, mas eles têm lá as suas vidas e eu tenho o meu futebol.»

Só há uma coisinha: «Os meus pais não se metem, nem têm de reclamar. Para o meu pai, desde que faça tudo direitinho em casa, está tudo bem. E não falho: quando assumo um compromisso gosto de o levar direitinho. Os meus irmãos, uns dizem para parar, outros dizem para continuar porque assim estou entretida.»

E o futebol é mesmo o seu maior entretenimento. Benfiquista por convicção, não perde os jogos dos encarnados e ao Maisfutebol avaliou os dois guardiões mais utilizados por Jorge Jesus: «Os dois são bons. Gosto muito do Artur e dentro dos postes é bom. Pior é quando sai… que desgraça! O Júlio César, também é bom, mas ainda não deu pra ver tudo.»

«Há mulheres a jogar bem melhor do que os homens»

E Rosa gosta de ver mesmo tudo: «Estou sempre a ver futebol na televisão. E quando o Martim não joga, há outras equipas femininas que jogam fora e vou lá ver. Desde que seja perto e possa, vou lá.»

Assim, confessa: «Há mulheres a jogar bem melhor do que os homens. Valha-me Deus, se há! Ainda outro dia a ver o Belenenses-P. Ferreira pensei nisso e são da I Liga. Muito mau, muito mau. Também há pouco tempo, enquanto não eram horas do nosso jogo espreitei o de homens que estava a jogar-se… vim embora! Coisa tão fraca… pontapé para a frente e toca a correr.»

Por isso não tem dúvidas: «Em Portugal há jogadoras muito boas, mas o futebol feminino está pouco divulgado e carece de algumas ajudas. Mas as miúdas são boas!»

As suas preferidas são a guarda-redes Patrícia Morais e a defesa, formada no Martim, Carol Costa. Mas, garante o Maisfutebol, quem também merece admiração, pela sua história e porque não teve «tempo» de vestir a camisola das Quinas, é a Rosa.
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