A lenda de Cantona ganha novas escrituras... no Damaiense - TVI

A lenda de Cantona ganha novas escrituras... no Damaiense

Martin Cantona é sobrinho da glória francesa e joga nos juniores da equipa da Damaia

Eusébio da Silva Ferreira.

Mal se chega à casa do Sport Futebol Damaiense, há um nome que nos aviva a memória futebolística. O rosto do Pantera Negra surge gravado a tinta num dos muros do exterior do Campo do Damaiense e sabemos na hora que é futebol que acontece para lá daqueles muros.

Contudo, é em busca de outra glória do futebol internacional que chegamos ali. Um nome muito mais improvável por estas bandas: Cantona.

Não Eric, mas Martin. Martin Cantona.

O sobrinho do jogador que se imortalizou pelas épocas de sucesso que viveu no Manchester United, entre 1992 e 1997, cresce ali na Amadora enquanto futebolista.

Mas se Eric Le Roi Cantona se notabilizou a tornar num inferno a vida de defesas e guarda-redes, o sobrinho escolheu outra via. Calçou as luvas e dentro de campo é a última barreira que os adversários encontram na busca dos golos.

«Oh Cantona, não te vires às pessoas na bancada!»

Ao ter conhecimento da história, o Maisfutebol não resistiu e foi em busca da história deste herdeiro de um dos nomes mais emblemáticos do futebol mundial na década de 90.

Entrámos no balneário da equipa de juniores B do Damaiense e invadimos o treino para perceber como é carregar o nome Cantona nos relvados da 2.ª divisão do campeonato de juniores da AF Lisboa.

Perante tamanha atenção, as provocações ao guarda-redes de 17 não param, enquanto esperamos que Martin se equipe para falar com a nossa reportagem

«Olhem-me só para este craque.»

«Agora vai meter a fita, molha o cabelo e lá vem ele, pronto para treinar. Ah, bonitão!»

«Martin, manda beijinho para o tio, que ele está a ver.»

Nem sempre é assim, garante-nos Rúben Silva. Apesar de haver sempre lugar a uma brincadeira ou outra, são poucas as vezes que o Cantona de quem se fala naquele balneário é Eric e não Martin.

«Ninguém liga ao nome, olhamos é para a qualidade do senhor. Acima de tudo, é humilde e trabalhador», assegura o capitão, elogiando o companheiro que chegou à equipa apenas esta época.

«Veio trazer muita qualidade à equipa. Passa bastante confiança a todos nós. Quando os defesas falham, sabemos que temos um bom guarda-redes que nos pode compensar esses erros», descreve, apontando aquele que entende ser o ponto forte do colega: «uma das maiores qualidades dele é o jogo com os pés.»

E será que Martin fala muito sobre o tio?

«Nãããã. Nós bem nos metemos com ele, mas ele não responde, é um cortes!», continua Rúben Silva, que garante saber o jogador que foi Eric Cantona, ainda que o lance que mais depressa lhe vem à memória nem sequer envolva bola.

«Ah, é o pontapé a um adepto na bancada. Às vezes, quando os jogos estão mais quentes até lhe dizemos na brincadeira: ‘oh Cantona não te vires às pessoas na bancada», atira numa gargalhada.

«No início falam muito do nome Cantona, mas depois passa»

Há três anos em Portugal, Martin explica que não a sua vinda para o nosso país nada teve a ver com a presença do tio. O jovem mudou-se de Marselha para acompanhar o pai, Jean-Marie Cantona, que chegou a Portugal por motivos profissionais.

Mas já que estava cá, o jovem quis dar continuidade ao futebol que já praticava na cidade do sul de França onde nasceu.

Após duas épocas a guardar as balizas do CIF, Martin Cantona mudou-se no início desta época para o Damaiense e garante que não podia estar mais contente com a opção.

«Estou em Portugal há três anos, e acho que aqui, em dois meses, fiz mais amigos do que em três anos no país. Fui muito bem recebido», assegura, num português já bastante aceitável.

«A equipa é muito compreensiva comigo. Como sou francês, há algumas dificuldades, mas todos eles me ajudam», elogia.

E como é que alguém com o sobrenome Cantona vai parar a uma baliza?

«Ah, é a melhor posição. Para mim, ser guarda-redes é quase como fazer outro desporto. Podemos jogar com as mãos e os pés, é outro jogo», explica.

Mas quando tentamos trazer para a conversa o tio… percebemos aquilo que nos dissera o capitão de equipa: «Ele é um cortes!»

«Como é ser sobrinho de uma lenda do futebol? Para mim não faz diferença. Eu falo com ele, mas como meu tio, não como o jogador Eric Cantona. Por isso, mesmo quando alguns colegas falam do meu tio, eu não ligo muito», desvaloriza.

Mesmo no dia-a-dia, Martin reconhece que o apelido apela à curiosidade de muita gente, mas isso passa depressa.

«No início, na escola e assim, há muita gente a falar disso, mas passados dois ou três meses, isso passa e já não falam mais», garante.

Contudo, isso não acontece com toda a gente. «Para as pessoas que seguem o futebol, é normal o meu nome chamar a atenção, mas também há muita gente que não conhece o nome.»

O único momento em que conseguimos arrancar uma reação mais efusiva a Martin na conversa sobre o tio é quando o questionamos sobre um momento de Cantona que o tenha marcado.

Ele que, recorde-se, nunca teve oportunidade de ver o tio jogar.

«Ah, aquele golo que ele faz um Panenka depois de fintar uns quantos adversários. É lindo!», desfaz-se.

Martin fala de um dos melhores golos da carreira de Eric Cantona. Um golo apontado pelo então jogador do Man. Utd ao Sunderland, em dezembro de 1996. E que é um tratado. Talento em estado puro.

Quanto a Martin, vai continuar a crescer no Damaiense. Sempre a jogar à defesa.

 

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