Vizela-Benfica: de 1984 a 2019, com Paneira no meio da história - TVI

Vizela-Benfica: de 1984 a 2019, com Paneira no meio da história

Reportagem Vizela-Benfica

Reportagem Maisfutebol em Vizela. Fernando Faria, o capitão de 84, lança o jogo com o Benfica. Receber os encarnados em Vizela é motivo de orgulho.

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Vizela em êxtase. Na altura uma freguesia do concelho de Guimarães, a pacata Vizela via em 1984 o clube da terra subir pela primeira, e única vez, ao escalão maior do futebol português. Já lá vão 35 anos, outros tempos, mas a essência do futebol e da sua envolvência permanece a mesma.

Diogo Godinho, presidente da SAD vizelense, fala em «excitação coletiva» para catalogar a receção do Vizela ao Benfica, este sábado a contar para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. Um paralelismo fácil de fazer quando se viaja no tempo até à primeira jornada da longínqua temporada 1984/1985.

Quis o sorteio que a estreia vizelense fosse precisamente frente ao Benfica, em «casa». Este em casa surge entre aspas porque o jogo com os encarnados, tal como todos dessa época, teve de se realizar no Municipal de Guimarães, devido à falta de condições do antigo campo do Vizela, o Campo Agostinho Lima, que era ainda pelado, por exemplo.

Foi então na tórrida tarde de 26 de agosto de 1984 que o Vizela teve o primeiro grande jogo da sua história, recebendo o Benfica de nomes como Bento, Álvaro Magalhães, Veloso, Shéu, Diamantino ou Carlos Manuel. Uma tarde para a posteridade, portanto, para o Futebol Clube de Vizela.

1987, o ano do advento de Vítor Paneira

Acaba aqui a ligação entre os dois emblemas? Não, nem pensar. Em 1988, o Benfica contrata ao FC Vizela um dos jogadores mais marcantes das águias no final da década de 80/início da década de 90: Vítor Paneira. 

Paneira é descoberto por Peres Bandeira, histórico olheiro do Benfica, ainda em 1987 e chega um ano mais tarde à Luz. Com um ano de atraso, pelo que se percebe. Paneira explica tudo na primeira pessoa. 

«A minha ida para o Benfica tem um pouco de tudo», conta o ex-internacional português ao site das águias.

«Estava no Famalicão, num impasse para renovar e, entretanto, apareceram três/quatro clubes. Apareceu o Felgueiras, o Penafiel, o Vizela… Ainda era jogador do Famalicão quando assinei pelo Vizela. A coisa fez-se num fim de semana. Encontro-me na sexta-feira, assino contrato no sábado e na segunda-feira recebo um telefonema do falecido “tio” Peres Bandeira.»

Dois dias depois de assinar pelo Vizela, Vítor Paneira fica a saber que o Benfica o quer. 

«O senhor Peres disse que vinha da parte do Benfica e que precisavam de falar comigo. No início pensava que estavam a gozar comigo, mas a verdade é que a pessoa se apresentou, disse-me que tinha visto treinos meus e que me queriam contratar. A partir daí disse que sim, mas avisei que tinha assinado pelo Vizela. Disseram-me que não havia problema nenhum, que os clubes tinham boas relações. Fiquei naquele impasse. Entretanto, o telefone nunca mais tocava, até que um dirigente do Vizela me disse que o acordo estava feito. Aí percebi que era a sério.» 

Paneira faz um ano no Vizela (15 golos) e sai para o Benfica em 88. Na Luz os números são brutais: 289 jogos oficiais/44 golos e cinco troféus: três campeonatos, uma taça e uma Supertaça.

«Jogar em casa enche de orgulho os vizelenses»

Emm 84/85, capitaneava a equipa do Vizela o médio Fernando Faria, natural de Vizela e que fez carreira maioritariamente na equipa da terra conhecida pelas suas águas termais. Na altura tinha 25 anos de idade, aos 59 anos continua um apaixonado por futebol e o Maisfutebol encontrou-o precisamente a assistir a um dos treinos de preparação do Vizela para o jogo do próximo sábado.

Comenta na primeira pessoa a sensação de ver o seu Vizela receber verdadeiramente em casa os encarnados. É um facto incontornável. «Felizmente que o Vizela pode, pela primeira vez, receber no seu estádio, na sua casa, um dos três grandes do futebol português, neste caso o Benfica. Já defrontámos o Benfica, como no meu tempo, mas infelizmente não foi no nosso estádio. É altamente representativo para os vizelenses e para o clube poder receber em sua própria casa um dos grandes. Tem condições para isso e acho que enche de orgulho e alegria os vizelenses por receber o Benfica em casa», refere Fernando Faria com um sorriso difícil de esconder.

O Estádio do FC Vizela está pronto para receber o jogo de sábado.

Os 35 anos de diferença entre o primeiro jogo e este levam a que as diferenças sejam mais do que muitas, em vários quadrantes. Mas a tal essência do futebol, essa, mantém-se. O Vizela tem de ter respeito, mas não medo nem receio algum. Aos jogadores aconselha a que desfrutem do momento.

«É muita diferença para o meu tempo, já lá vão muitos anos, neste momento o que os jogadores se devem mentalizar é em desfrutar do prazer de jogar contra uma grande equipa de futebol. Joguem com respeito mas sem receios, sem medos. Sempre com um pensamento positivo em relação ao jogo para que haja margem para sonhar», sustenta o senhor Fernando, como é conhecido.

«Há sempre uma réstia de esperança»

Lançando o jogo deste sábado, Fernando Faria divide-se entre a lucidez das dificuldades anunciadas e a crença, em forma de sonho, de uma noite épica em que de facto haja Taça em Vizela. «Há sempre a réstia de esperança de que pode acontecer um dia muito mau do Benfica e um dia bom do Vizela, o que poderá levar a uma surpresa, o que seria um gosto e uma alegria enorme», atira quase com um brilho nos olhos.

Mas a noção de que a tarefa é hercúlea chama o velho capitão à razão. «O Benfica é, sem dúvida, um clube de uma dimensão enorme. O Vizela vai defrontar um grande do futebol português e da Europa, o campeão português em título», assume. Mas facilmente volta a vertente esperançosa.

Em jeito de remate, o que Fernando Faria espera mesmo é que a sua equipa faça «uma representação diga do clube» e «um jogo de respeito», tal como aconteceu em 1984. A equipa que capitaneou perdeu por duas bolas a uma, o que até nem foi qualquer desastre, depois de sair para o intervalo a perder por duas bolas a zero, golos de Wando e Carlos Manuel.

Na reta final do encontro, mesmo reduzido a dez, o Vizela reduziu por intermédio de Maurício.

Onzes iniciais do jogo disputado em 1984 entre o Vizela e o Benfica, a contar para a 1.ª jornada da edição 84/85 do campeonato português:

VIZELA: António Sérgio, Manuel Correia, Adão Roque, José Carlos, Toni, Russo, António Barbosa, Fernando Faria, Nelito, Fernando Jorge e Maurício.
Treinador: José Romão

BENFICA: Bento, Oliveira, Álvaro Magalhães, Veloso, António Bastos Lopes, Shéu, Diamantino, Carlos Manuel, José Luís, Manniche e Wando.
Treinador: Pál Csernai

RESUMO DO JOGO

No próximo sábado a bola começa a rolar a partir das 20h45 no Estádio do Futebol Clube de Vizela. Um dia que se antecipa histórico para os vizelenses.

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