A Covid-19 deixou Peter em coma, o amor ao clube fê-lo acordar - TVI

A Covid-19 deixou Peter em coma, o amor ao clube fê-lo acordar

A incrível história de um adepto do West Bromwich Albion, contada ao Maisfutebol por ele e pela esposa... que teve a ideia da receita

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Enquanto não se descobre a vacina para a Covid-19, há outras receitas que, amiúde, lá vão funcionando.

Coisas mais tradicionais. Sem necessidade de grande explicação científica.

O amor, por exemplo.

E é o amor que é um dos principais protagonistas desta história. O relato da forma como Peter George, um inglês de 65 anos, residente nos arredores de Birmingham, se curou da doença, contra todas as expectativas, depois de ter estado mais de duas semanas em coma.

Ou melhor. Se nos é permitido, vamos dizer que não foi o amor que o curou. Vamos utilizar o plural. Se é que pode existir plural de amor.

Nesse caso, foram dois amores que fizeram Peter erguer-se da cama: o amor da esposa, Teresa, em primeiro lugar; conjugado com o amor de Peter ao clube do coração, o West Bromwich Albion.

Esses dois amores, ligados com grande imaginação por Teresa George, resultaram numa fórmula que salvou o sexagenário, a quem os próprios médicos disseram que a recuperação foi um milagre.

Coração a bater ao ritmo do WBA

O início desta história é tão antigo quanto a descoberta de Peter George pelo futebol. Foi quando se apaixonou pelo WBA, ainda bem novinho. Mas o princípio do capítulo da Covid-19 é mais fácil de encontrar.

Os primeiros sintomas da doença manifestaram-se em Peter George precisamente no dia do último jogo caseiro do Baggies, antes da interrupção do Championship, devido à pandemia.

No dia 3 de março, no final de um jogo diante do Newcastle, a contar para a Taça de Inglaterra, o adepto começou a sentir-se mal.

Com o passar do tempo, a saúde do sexagenário foi-se degradando, o que levou ao internamento, no dia 21 de março.

O caso de Peter já era grave. E por isso mesmo, teve de ser ligado ao ventilador e os médicos optaram por induzir-lhe o coma, de forma a minorar o sofrimento do paciente.

O cenário, porém, era delicado. Muito delicado, conforme Teresa George explica ao Maisfutebol, ao telefone desde Redditch, Worcestershire.

«Alguns órgãos vitais começaram a falhar, e o Pete sofreu uma trombose venosa profunda, algo que está muito associado à doença. Por isso, os médicos disseram-nos que as hipóteses de ele recuperar eram escassas», refere a esposa do adepto.

Mas ela não desistiu, apesar da dureza do prognóstico.

Após onze dias com o marido em coma, e sem grande reação aos tratamentos, Teresa lembrou-se de algo que o marido lhe tinha dito a dada altura: que quando ouvia a música que acompanha a entrada dos jogadores do WBA em campo, todo o corpo parecia reagir de forma espontânea.

«Foi por isso que me lembrei de pedir para fazerem tocar as músicas que cantam no estádio do Albion. E ele, que antes não reagia a nada, nem às mensagens de voz que a família lhe enviava, mexeu-se ligeiramente», recorda Teresa.

Os sinais foram de tal forma positivos que, Teresa contactou a fundação do clube, explicou a situação e perguntou se o WBA podia ajudar de alguma forma, por exemplo com o envio de mensagens dos jogadores.

Entretanto, continuou a ‘terapia’ através de músicas do clube e as reações corporais de Peter começaram a intensificar-se.

«Ao ouvir as músicas, as pernas dele começaram a tremer. Depois passámos a mensagem do treinador, Slaven Bilic, que lhe dizia que o clube precisava dele de volta ao estádio. Então ele começou a mexer os braços também, talvez sentisse que estava a ver um jogo», nota.

Peter George com o filho e o neto, ambos adeptos do WBA também

Essa reação fez com que os médicos o tentassem tirar do coma no dia seguinte. Mas segundo explica a esposa, o corpo de Peter não estava ainda preparado para esse passo, razão pela qual voltaram a induzir-lhe o coma, optando por ir reduzindo a sedação aos poucos.

«O que fizemos foi, todos os dias, além das músicas, fazíamo-lo escutar as mensagens que o clube enviava, de forma a tentar mantê-lo consciente do que estava a acontecer. E quando ele voltou a ter noção do que estava a acontecer, voltámos ao início das mensagens para ele ouvir todas novamente», explica, Teresa, quando é interrompida pelo marido.

«Isso fez-me sentir mesmo muito bem, teve um impacto tremendo», assegura Peter George.

«Eu estava a caminhar para a morte, o Albion salvou-me a vida»

Apesar de a chamada ser feita com o casal, é Teresa que conduz a conversa na maior parte do tempo. Primeiro, porque só ela conhece todo o processo da fase em que Pete, como carinhosamente se refere ao marido, esteve em coma.

E depois, porque o próprio Peter explica que a sua memória e a fala ressentiram-se um pouco das mais de duas semanas que passou «do outro lado».

Só Teresa sabe, por exemplo, que se passaram 23 dias desde o momento em que os médicos induziram o coma a Peter até ele voltar a proferir as primeiras palavras.

Já quanto à importância do gesto e esforço do clube de que é adepto, Peter não tem dúvidas. E sublinha-o a viva voz.

«Sinto que o Albion ajudou a salvar-me a vida. Todas as mensagens dos jogadores… Não esperava uma coisa assim, mas ajudou-me muito na reabilitação. Foram todos absolutamente fantásticos», declara o adepto que tem lugar cativo no estádio do clube desde 1994.

Esse amor incondicional, de resto, foi reconhecido pelos jogadores que lhe enviaram mensagens.

«O Albion é um clube familiar que me faz sentir fazer parte de algo. Nas suas mensagens, alguns jogadores disseram-me: ‘o Peter tem apoiado o clube ao longo de tantos anos, agora é a nossa vez de o apoiarmos’. E isso é bonito», enaltece.

Antes de tudo mais, porém, valeu a Pete o amor de uma mulher que o conhece como ninguém. E que por isso percebeu qual o caminho a seguir, quando os próprios médicos achavam que tinham chegado a um beco sem saída.

«Agora até brincamos. Porque ele não reagiu à minha voz, nem à da filha ou do filho, mas assim que ouviu as músicas do Albion, começou a tentar reagir», provoca, mostrando-se orgulhosa da ideia que teve.

«Ele ama verdadeiramente o clube. E aquilo estimulou-o e ajudou-o a recuperar. Honestamente, é tudo o que me importa», conclui.

«Um médico disse-me que eu ter sobrevivido foi um milagre, porque eu estava a caminhar para a morte. E por isso, estou muito agradecido por tudo o que o clube fez por mim, foi um apoio incrível», reforça Peter, estendendo os agradecimentos serviço nacional de saúde britânico.

«Krovinovic e Matheus Pereira são fantásticos, espero que fiquem»

Apesar de o futebol inglês ainda não estar de volta, e de nem haver data para a retoma, os dias de Peter George têm sido preenchidos pelo WBA. Isto, porque mesmo depois de ter tido alta, o acompanhamento do clube continua a ser diário.

«Ainda ontem esteve a falar ao telefone com o Don Goodman [antigo avançado inglês e figura histórica do WBA], no sábado conversou com o Bob Taylor [ex-médio que é outra das figuras do clube]. Os jogadores continuam a telefonar-lhe e a mostrar preocupação com ele, o que tem sido fantástico», define Teresa.

A importância dos jogadores mais antigos do clube neste momento da vida de Peter George é fácil de perceber quando o ouvimos dizer quais os jogadores que mais gostou de ouvir.

«Gostei de todas as mensagens, claro. Mas ouvir os antigos jogadores do clube foi absolutamente incrível. E também a mensagem do Slaven Bilic foi verdadeiramente surpreendente e deu-me muita força», confessa.

Aproveitamos o embalo, e questionamos o adepto por dois jogadores dos Baggies, com ligação a Portugal: Krovinovic, emprestado pelo Benfica e Matheus Pereira, cedido pelo Sporting.

«São ambos jogadores fantásticos, deram muita força à equipa. De qual gosto mais? Talvez do Matheus. Mas gostava que os ficassem para a próxima época», clarifica.

De resto, é também para a próxima época que Peter aponta o seu próprio regresso a Hawthorns, palco dos episódios de amor de fim de semana.

«Espero poder voltar ao estádio na próxima época. Ainda tenho de melhorar um pouco a minha saúde e ficar mais forte, mas depois quero voltar. Sem dúvida, que quero voltar», garante.

E verdade seja dita: apesar de ainda não haver data para esse regresso, dá para imaginar a emoção do reencontro, não dá?

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