Católico, ortodoxo ou muçulmano: o Natal é quando o futebol quiser - TVI

Católico, ortodoxo ou muçulmano: o Natal é quando o futebol quiser

Desp. Chaves-Santa Clara - foto Facebook Desp. Chaves

Uma viagem pela forma como jogadores estrangeiros a jogar em Portugal vivem a quadra. Separados por continentes e religiões, há um presente que todos querem receber nesta altura: a família

As prendas que Avto recebia no Natal eram quase sempre relacionadas com futebol. Bolas, camisolas – sobretudo do ídolo, Batistuta –, chuteiras e outros presentes que os miúdos normalmente pedem.

Ainda assim, o primeiro presente natalício que lhe invade a memória quando lhe perguntamos por uma recordação de Natal nada tem a ver com bola.

«Lembro-me de receber um carro telecomandado que queria muito. Era um jipe 4x4 preto que até andava na neve. Sempre tive boas prendas, mas aquela foi a melhor. Mais ninguém tinha e eu era o maior», recorda com um sorriso quase infantil que se percebe mesmo que a conversa seja feita por telefone.

Convém apenas dizer que Avto é cristão ortodoxo e o Natal da religião dele (já) não se celebra no dia 25 de dezembro do Ocidente, mas no dia 25 de dezembro do calendário ortodoxo, que calha no dia 7 de janeiro do calendário gregoriano.

Ah, e que a troca de prendas dos ortodoxos acontece na passagem de ano e não na noite de Natal. De resto, porém, não difere muito.

«Antigamente, celebrava-se o Natal no mesmo dia, mas com a mudança do calendário agora calha em dias diferentes. Como eu estou em Portugal há dez anos, costumo celebrar com os meus pais no dia 25, que é quando o futebol permite.»

O Natal em casa de Ferro salvo pelas rabanadas

Família. Esse é o principal presente que Avto recebe no Natal. E já que o calendário do país onde mora há uma década não costuma facilitar a tarefa de celebrar a data que desde miúdo aprendeu a dar significado, o jogador georgiano lida bem com a alternativa.

«Nesta altura aproveito sempre para ir ao Algarve ter com os meus pais, que moram em Lagos. Como é raro estar com eles, aproveito os dois dias de folga do Natal para ir, porque no nosso Natal quase nunca posso ir, e o importante do Natal é estar com a família e recarregar baterias. Nisso, o significado é o mesmo», resume Avto.

Desde que é profissional de futebol, o jogador que já representou clubes como a Oliveirense, o Gil Vicente ou o Ac. Viseu, antes de chegar a Chaves, apenas se lembra de ter passado um Natal longe da família.

«Quando jogava em Oliveira de Azeméis passei um Natal em casa do Ferro, o central do Benfica. Eu era amigo do irmão dele e de toda a família e passei com eles, foi giro», assegura.

Dessa noite, guarda memórias… gastronómicas. Boas e menos boas. «Eu adoro bacalhau, mas não gosto muito de como o fazem no Natal, prefiro bacalhau com natas ou outros. Mas é isso que se come cá no Natal e eu também comi, claro. Mas depois a parte dos doces já foi boa, com as rabanadas e outros doces», confidência entre gargalhadas.

Ki quer é juntar os amigos e a família

Há sensivelmente um ano, o Maisfutebol cruzou-se com dois jogadores sul-coreanos que confidenciaram que o Natal seria passado em casa de Ki, amigo e jogador da Académica.

Na altura foi complicado perceber mais sobre como seria a festa, devido à comunicação. E essa barreira foi encontrada agora, desta feita com o jogador da briosa.

Ainda assim, o essencial ficou claro: «no natal gosto de juntar os amigos e a família. A minha mãe está cá é ela que vai cozinhar», explica o médio, de 22 anos.

Oriundo do país asiático onde a comemoração do Natal é mais expressiva – cerca de 40 por cento dos sul-coreanos são cristãos -, Ki refere que a maior diferença para a tradição encontra-se com a troca de presentes.

«Aqui, as pessoas dão prendas aos familiares e na Coreia do Sul, é mais aos amigos», resume.

Foto cedida pela Académica

Osama cresceu com o Natal e adora «a atmosfera»

Mudando de país e de religião, mas mantendo-nos no continente asiático, viajamos rapidamente até ao Iraque.

O Maisfutebol contou a história de Osama Rashid, jogador internacional por aquele país do Médio Oriente, que teve de abandonar a pátria com apenas três anos, refugiando-se com os pais na Holanda.

Ora, e é precisamente rumo aos Países Baixos que o médio do Santa Clara vai seguir, logo depois dos insulares defrontarem o V. Setúbal. Quando o futebol lhe voltar a permitir estar com a família.

«Vou passar o Natal na Holanda com os meus pais. Em Portugal quase não há pausa de Inverno, por isso, esta é uma boa altura para aproveitar para estar com eles. Já não os vejo há quatro meses e mesmo sendo apenas dois dias vai ser bom para afastar um pouco e refrescar as ideias», confessa.

Tendo crescido na Holanda, o Natal é uma tradição que conhece bem, que respeita e, mais do que isso, aprecia.

«Na Holanda celebrava-se sempre o Natal na escola. Eu cresci com aquela tradição e mesmo não a celebrando, respeitava e vivia o espírito. Lembro-me que os nossos vizinhos davam-nos doces e os meus pais também enfeitavam a casa com iluminações de Natal por uma questão de respeito», recorda.

Não sendo uma tradição da sua religião, o islão, quisemos saber o que o faz gostar tanto do Natal.

«Adoro a atmosfera que se cria, com as ruas todas iluminadas. E acho que é uma altura do ano muito acolhedora e emocional, em que as famílias se juntam e há muito convívio entre todos», explica, comparando com o que acontece, por exemplo, no Ramadão.

«No Islão também temos festas semelhantes. Uma delas acontece depois do Ramadão e é muito parecida. São três dias, vamos à mesquita como se vai à igreja no Natal e também se juntam as famílias para celebrar», resume.

Todos juntos para celebrar. Imbuído do espírito natalício, foi isso que o Maisfutebol tentou fazer: juntar o futebol nacional à mesa. A ideia era fazer uma espécie de bacalhau com todos. Um texto recheado das visões e opiniões de jogadores de vários clubes, credos e continentes.

Entre compreensíveis reticências e vontades que se perderam pelo caminho, o rol de presentes que temos para desembrulhar não é tão rico como a ideia pretendia. Mas é oferecido com toda a intenção.

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