É português, ex-Benfica e quer ser presidente de câmara na Noruega - TVI

É português, ex-Benfica e quer ser presidente de câmara na Noruega

Nuno Marques (DR)

Nuno Marques ainda nem tem passaporte norueguês

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«Vim para ficar dois ou três anos e estou aqui há quinze! É caso para dizer uma asneira.»

A frase é de Nuno Marques, mas não retrata qualquer desespero por viver na Noruega há tanto tempo. Pelo contrário. O antigo guarda-redes português está tão adaptado ao país que vai ser candidato à liderança da autarquia de Notodden. Mesmo sem ter passaporte norueguês.

Formado no Benfica, Nuno jogou ainda no Estrela da Amadora antes de assinar pelo Lyn, emblema de Oslo, em 2004. Passou depois pelo Tonsberg e Bryne, e em 2008 foi jogar para o Notodden, clube ao qual está vinculado até hoje, que tem 38 anos.

Já arrumada está a carreira de jogador, muito condicionada por lesões (cinco cirurgias aos joelhos), mas o português é agora treinador de guarda-redes. Ao mesmo tempo dá aulas no Hogskolen i Sorost-Norge (Instituto Superior do Sudoeste Norueguês), o ponto de partida da inesperada candidatura à autarquia local.

«Em agosto entrei em contacto com uma deputada que é natural de Notodden, para vir falar aos meus alunos estrangeiros sobre o sistema político norueguês. Falámos um pouco antes e depois da aula, e há três ou quatro semanas ela perguntou-me se eu queria integrar a lista do partido [o “Senterpartiet”, Partido do Centro]. Eu fiquei de pensar, andei a fazer algum estudo sobre o partido e decidi aceitar. Depois realizou-se a reunião do comité que define as listas e fui convidado para ser o número 1», explica o português, em conversa com o Maisfutebol.

Na Noruega há quinze anos, Nuno Marques até foi recentemente incluído num onze de jogadores do Benfica oriundos da Escandinávia, por uma página de facebook dedicada ao futebol na região, mas a verdade é que nem tem nacionalidade norueguesa.

«Para ser candidato à autarquia não é preciso. Para um cargo acima já será necessário. Mas vou avançar com isso, até por recomendação do partido. A questão é que só recentemente a Noruega aprovou a dupla nacionalidade [em dezembro de 2018]. Antes só era possível se abdicasse da nacionalidade portuguesa e isso estava fora de questão», justifica.

As eleições estão marcadas apenas para setembro e Nuno Marques diz que «tudo pode acontecer», tendo em conta o apoio que tem recebido.

«Sou candidato por aquele que é atualmente o terceiro maior partido da Noruega, mas que é também aquele que mais tem crescido nos últimos anos. É mesmo o partido com mais autarquias. Tem estado afastado dos escândalos e das polémicas. A vida tem sido cheia de surpresas e foi tanta a confiança que me passaram que não podia recusar. Vou na desportiva. Já é uma vitória ter sido convidado», afirma.

Depois do bacharelato em Inovação e Empreendedorismo, o antigo internacional sub-16 tirou também um mestrado em Relações Internacionais e está a concluir outro em Direito Internacional, área em que vai avançar também para um doutoramento.

Um percurso virado para uma perspetiva mais ampla e que até tem permitido conhecer algumas pessoas da União Europeia. Na foto principal do artigo está ao lado do embaixador da UE na Noruega, mas para já o antigo internacional sub-16 português quer aplicar esta visão política a um nível local.

Até porque, ainda que inesperada, a candidatura de Nuno Marques segue uma tradição familiar. O pai, Pedro Marques, foi presidente da Câmara Municipal de Tomar durante dois mandatos, o primeiro dos quais iniciado há precisamente trinta anos (1989).

«Ele ficou surpreendido, como quase toda a gente, mas disse-me para ir em frente. Sempre foi uma referência para mim, também em termos políticos. Ficou orgulhoso, ainda mais por este convite surgir no estrangeiro. Em Portugal seria impensável, ainda para mais com um ex-jogador», defende.

Nuno reconhece que o futebol contribuiu bastante para o convite e até espera aplicar alguns princípios moldados pela carreira profissional.

«Levo do futebol o trabalho de equipa e o respeito. Não só pelos colegas, mas também pelos adversários. Recebi mensagens de candidatos de outros partidos. Aqui é diferente, as pessoas querem fazer o melhor pelas pessoas, não concorrem por dinheiro. Eu candidato-me por acreditar que posso ser útil», garante.

«Um dos principais problemas é a centralização dos serviços, que é preciso contrariar. É importante também fixar novas empresas na região, para criar postos de trabalho, e rentabilizar também o turismo. A cidade tem enorme potencial, até pela localização, no meio das montanhas, e por ser património da UNESCO», resume.

Há onze anos instalado em Notodden, Nuno Marques encara a candidatura como uma oportunidade de retribuir a forma como foi acolhido na região e na própria Noruega, onde está desde 2004.

«Neste país, quando és honesto, trabalhador e transparente, as coisas boas acontecem. O futebol ajudou, claro. Podia ter feito uma carreira melhor, mas as lesões também não ajudaram. Apostei nos estudos e a vida tem os seus destinos. Tudo acontece por uma razão», finaliza.

(artigo originalmente criado às 23h52 de 28/03/2019)

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