De Dost a Bruno Jordão: o olho clínico dos «scouts» - TVI

De Dost a Bruno Jordão: o olho clínico dos «scouts»

Bruno Jordão

Gabinetes de prospeção de jogadores ocupam papel cada vez mais relevante nos clubes. André Geraldes, do Sporting, e Pedro Alves, do Sp. Braga, destacam a importância dos olheiros desde os talentos da formação até aos futebolistas profissionais

Acertar cada vez mais cedo, errar cada vez menos: bem pode ser este o lema do scouting, uma atividade cada vez mais valorizada no futebol atual.

A ideia perpassa entre os diferentes painéis do World Scouting Congress, que esta segunda-feira decorreu em Vila Nova de Gaia, e é transmitida em termos práticos ao Maisfutebol por Pedro Alves, responsável máximo pelo departamento de observação (scouting) do Sp. Braga.

«Estou há três anos no clube e nesse período mudou muita coisa. Hoje existe uma base de dados cada vez mais fiável, mapas sombra de dez países (ou seja, uma relação dos melhores jogadores de cada país)… Somos cinco pessoas para o futebol profissional, cada uma dedicada a determinado mercado. Cada decisão sobre ver um jogador ao vivo sou eu que tomo e vou lá. Hoje, nenhum jogador entra no Sp. Braga sem ser pelo menos uma vez visto ao vivo a jogar», explica ao Maisfutebol o chief scout dos bracarenses.

André Geraldes, team manager e diretor do Sporting, sublinha a ideia de uma peneira cada vez mais ajustada, não só na formação, mas também no futebol sénior.

«Não vendemos Bas Dost pelo triplo do que custou porque não é o momento»

«No Sporting existe um trabalho de equipa. Além do presidente, que é quem decide, é feito um trabalho conjunto também com o treinador Jorge Jesus, comigo, com o departamento de scouting e com os parceiros que temos. No fim, tomamos as decisões. Trabalhamos em equipa e tentamos falhar cada vez menos. É um ponto de honra no Sporting falharmos cada vez menos», salienta André Geraldes, dando o exemplo concreto da substituição de Slimani por Bas Dost:

«Para substituir o Slimani, não podíamos falhar e não tendo margem para falhar tivemos de fazer outro nível de investimento. Foi isso que nos obrigou a contratá-lo por 10 milhões de euros. Em boa hora: ele já leva 50 golos. Aliás, só não o vendemos por mais do triplo do que custou porque achámos que não era o momento nem o preço adequado para o real valor desportivo dele. Mas no futuro acredito que iremos ter um retorno financeiro muito superior. Ou então não e ele ficará por cá até ao final da vida dele a marcar trinta golos por época...»

Team Manager do Sporting garante que já podia ter recebido o triplo do investimento por Dost 

André Geraldes salienta a crescente importância dos departamentos de scouting nos clubes. A competição é de tal forma acirrada e a informação tão detalhada que em boa parte dos casos vários clubes têm o mesmo alvo e há que vencer o contrarrelógio.

«A nível do futebol de formação acontece muito esta corrida permanente com os nossos rivais. Por vezes, os três grandes acabam a disputar o mesmo jogador. No futebol profissional acontece aqui e ali, porque nesse caso o mercado é mais largo. Mesmo assim, às vezes acontece e cruzarmo-nos atrás do mesmo jogador», revela o team manager leonino.

«Atravessei-me pelo miúdo e agora ele foi vendido por oito milhões»

Sem os argumentos dos grandes, o Sp. Braga joga na antecipação e num contacto permanente entre o chief scout e o presidente António Salvador.

«Já me aconteceu estar em casa com o fim de semana planeado para ver jogos em Portugal e o presidente ligar-me e a dizer para fazer as malas de imediato e ir para o Chile dez dias», conta Pedro Alves, que revelou ter recentemente numa das suas muitas viagens descoberto numa prospeção num país africano um «futuro Pogba». Uma pérola que, naturalmente, quis manter em segredo.

Futebol em debate no World Scouting Congress, em Vila Nova de Gaia

O segredo pode mesmo ser a alma do negócio e Pedro Alves recorda um episódio recente em que o Sp. Braga acabou por perder um craque para o Borussia Dortmund: Emre Mor, avançado turco de 20 anos que tem também nacionalidade dinamarquesa.

«Fui à Dinamarca ver um jogo do Nordsjaelland por causa de um defesa-central internacional dinamarquês e apareceu-me à frente o Emre Mor. Ao fim de dez minutos, quis logo aquele miúdo (então com 18 anos). Vi-o em abril do ano passado, mandei contratá-lo nesse mesmo dia. Mas no momento em que tentámos chegar a acordo para consumar a transferência ele foi convocado para o Euro 2016 e jogou pela Turquia. Foi vendido por mais de nove milhões de euros ao Borussia Dortmund… Hoje está no Celta de Vigo», revela Pedro Alves, acrescentando: «Às vezes, temos um alvo fixo e acabamos por descobrir outros. O Emre Mor foi o jogador mais talentoso que me apareceu assim de surpresa, sem nunca o ter visto antes em vídeo ou ter tido referências sobre ele.»

Há também casos bem sucedidos, naturalmente. Melhor exemplo? «Em termos de potencial e qualidade o jogador com que mais me impressionou e que o Sp. Braga acabou por contratar foi o Bruno Jordão (na foto principal), que agora joga na Lazio de Roma», conta Pedro Alves, que recorda a forma como caçou este talentoso médio agora com 19 anos: «Vi-o num Loures-União de Leiria em juniores – ele jogava já nesse escalão do União apesar de ser juvenil – e atravessei-me por ele. O clube pagou uma verba alta por um miúdo de 16 anos, mas valeu a pena: foi vendido neste defeso por oito milhões…»

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