Ele queria nadar, os pais fizeram uma piscina de chapa, troncos e amor - TVI

Ele queria nadar, os pais fizeram uma piscina de chapa, troncos e amor

A história de Sebastián Galleguillo, um nadador argentino surdo que graças à dedicação dos pais pôde treinar durante o confinamento

Sebastián Galleguillo teve problemas auditivos desde muito novo. Os médicos perceberam que a acumulação de muco na zona dos tímpanos obstruía-lhe a audição, razão pela qual lhe sugeriram a prática de natação, aos 10 anos.

E se é verdade que Sebastián nunca recuperou totalmente a audição, a sugestão dos médicos mudou-lhe a vida. É o próprio que o garante, em declarações ao Maisfutebol.

«Quando comecei tinha enormes problemas de congestionamento nasal, que me fizeram perder parte da audição. Foi para melhorar a saúde que os médicos me mandaram para a natação», começa por dizer.

Mas além disso, o tempo passado na piscina passou a ser aquele que ele mais gostava e além das melhorias auditivas, Seba desenvolveu a capacidade de socialização também graças à natação.

«A natação abriu-me muitos caminhos. Ajudou-me muito. Devo tudo à natação», assegura o jovem argentino.

A confiança que foi ganhando fê-lo avançar para a natação de competição, onde rapidamente começou a ter resultados. Campeão de natação adaptada em Buenos Aires e campeão dos jogos nacionais foram apenas os títulos mais emblemáticos.

No início deste ano, passou a integrar a seleção argentina de nadadores surdos e procura assegurar a presença nas Surdolimpíadas do Brasil, em 2021.

«Esse é o meu sonho. Ir aos jogos Surdolímpicos e conseguir chegar ao pódio, mas para isso preciso de treinar», sublinha, para início da conversa em que partilhou connosco a sua históra.

Covid-19 combatida com o amor dos pais e o apoio dos vizinhos

E é de uma história de amor que falamos. Do amor de Edmundo e Marta, pais de Sebastián, que não mediram esforços para que o filho pudesse continuar a treinar, mesmo com as piscinas fechadas devido à pandemia da Covid-19.

De escassos recursos, a família do jovem nadador de 18 anos escutou o apelo do filho.

«Estava há 77 dias a fazer apenas trabalho físico. Precisava de me meter na água. Isso é crucial para um nadador. Iria demorar muito tempo a recuperar o ritmo, se continuasse fora de água», explica.

Perante tal necessidade, os pais decidiram meter mãos à obra… com muita imaginação.

Com espaço no terreno da casa onde moram, os pais avançaram para a construção de uma piscina. O problema era os custos que isso implicaria. A menos que a fizessem com o que tinham à mão.

E aquilo que havia à mão eram chapas velhas, troncos de árvores e plásticos. 

Que seja!, pensaram. Juntaram-lhe o amor pelo filho e lançaram-se com tudo.

Em três dias, Seba e os pais dedicaram-se a materializar o sonho. «Três dias, a trabalhar das 8 da manhã às 8 da noite», sublinha Sebastián.

Com a preciosa colaboração de alguns vizinhos do bairro La Capilla de Florencio Varela, a Sul de Buenos Aires, Edmundo e Marta reuniram alguns materiais em falta. Alguns vizinhos deram portões, por exemplo, e toda a piscina foi feita pelo jovem, o pai, construtor de profissão, e a mãe, que é costureira.

«A única forma de agradecer é ajudar quem precisa»

E é nessa piscina de 12,5 metros de comprimento, dois metros de largura e um de profundidade que Sebastián se treina há duas semanas, sem saber quanto tempo mais as piscinas públicas vão continuar encerradas.

Também por essa incerteza, e porque o inverno começou há dois dias em Buenos Aires, a piscina, além de coberta, tem água quente, graças a uma caldeira também ela de fabrico artesanal.

«Eu nem me importava de treinar em água fria, precisava era de voltar à água», diz quando questionado sobre essa comodidade.

E quando lhe perguntamos de que forma pensa agradecer pelo gesto que os pais tiveram para com ele, a resposta mostra que falamos com alguém com os valores certos.

«Só há uma forma de agradecer-lhes: fazer a outras pessoas que precisem, aquilo que eles fizeram comigo. Ajudar o próximo. Ser para quem precise, aquilo que os meus pais foram para mim. Essa será a melhor forma de lhes agradecer», aponta, garantindo que os pais não lhe colocam qualquer tipo de pressão.

«Eles apenas me apoiam. Mas eu coloco pressão em mim mesmo. Sou muito competitivo e quero sempre ter resultados para agradecer aos meus pais e treinadores. E se antes já corria por eles, agora ainda o vou fazer mais», promete.

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