FCK Portugiesen: coração luso do Kaiserslautern não perde há 19 jogos - TVI

FCK Portugiesen: coração luso do Kaiserslautern não perde há 19 jogos

FCK Portugiesen

Protocolo com o gigante alemão colocou o clube da comunidade portuguesa em destaque no futebol germânico. Treinador é algarvio e entrega medicamentos e peças de automóveis. Até John Aldridge, Carlos Mozer e José Dominguez se juntaram a esta caminhada

O FC Kaiserslautern é um dos grandes clubes alemães. Monstruoso, orgulhoso, mítico. Foi quatro vezes campeão nacional, teve alguns dos maiores nomes do país no elenco – Brehme, Ballack, Klose, Briegel, Basler, até o eterno Fritz Walter – e nem na III Bundesliga perde o respeito dos oponentes e o amor dos fiéis adeptos.

A dimensão do Kaiserslautern é tão expressiva que nesta altura permite à instituição ter três equipas seniores. A principal joga no terceiro escalão, a de sub21 compete na 5ª divisão e a terceira cresce na 9ª divisão [Kreisliga – DO Sud].

O que torna tudo mais espantoso, pelo menos na perspetiva dos portugueses, é que esta terceira formação é a representação desportiva da comunidade lusófona de Kaiserslautern. Chama-se FC Kaiserslautern Portugiesen, é treinada pelo algarvio Rui Clemente e formada, «em 90 por cento», por jogadores lusitanos.

Na 9ª divisão, as condições de trabalho do FCK são invejáveis

«O clube foi fundado em 1966. O nome original era Portuguesa dos Desportos e foi criado pela comunidade portuguesa de Kaiserslautern», explica ao Maisfutebol o responsável na área de imagem e marketing, e responsável pela 'ponte' entre Portugal e Alemanha, Tiago Clemente, também filho do treinador.

«Os portugueses sempre tiveram uma boa imagem junto dos alemães nesta cidade. Há alguns anos, essa boa imagem acabou por aproximar a Portuguesa do FC Kaiserslautern. Foi estabelecido um acordo entre ambos, nascendo assim o FC Kaiserslautern Portugiesen. Passámos a ser a terceira equipa deles», conta Tiago Clemente.

Esse apoio do Kaiserslautern envolve «oferta de material desportivo e a cedência do campo de treinos», como acrescenta Tiago. «Estamos a falar de instalações de topo. O complexo do Kaiserslautern tem quatro campos relvados, dois sintéticos, um campo de basquetebol, um campo de futebol de praia, uma coisa enorme. É esse o nosso ‘estádio’.»

É treinador de futebol e entrega medicamentos e peças de automóveis

Rui Clemente, 50 anos, é pai de Tiago e treinador do FCK Portugiesen. Está há oito anos na Alemanha, é responsável pela entrega de medicamentos e peças de automóveis em empresas da região e está pela segunda temporada no clube representativo da diáspora lusa.

«Treinei várias equipas na AF Algarve, como o Alvorense e o Guia. Nunca estive desempregado, mas a minha mulher é alemã e em 2012 decidimos emigrar e dar uma vida melhor aos nossos filhos», contextualiza o treinador que conseguiu dar ao FCK um ciclo de 19 jogos sem derrotas.

«O campeonato está parado há três semanas, por culpa da pandemia. Nos últimos 19 jogos oficiais temos 18 vitórias e um empate. Estamos a falar de jogos do campeonato e da taça regional. Temos uma média de quase seis golos marcados por jogo este ano», completa o filho, Tiago, que a partir do Algarve trabalha toda a comunicação do emblema e procura novos futebolistas para o clube do pai.

«Até há dois anos, o clube passou a ser mais ambicioso desportivamente», diz Tiago, antes de revelar a estratégia que coloca jovens portugueses «do Campeonato de Portugal e dos distritais» à procura de um lugar nas ligas germânicas.

«Levámos, por exemplo, um guarda-redes português que estava a jogar em França, o Artur Santos. Pusemos um anúncio no facebook, dizíamos que oferecíamos um posto de trabalho e dávamos a hipótese de acumular esse emprego com o futebol. O Artur respondeu e está connosco. Estamos a falar de um rapaz que fez formação no Desp. Chaves e no Nacional da Madeira, com muito valor.»

As condições de trabalho são, de facto, muito interessantes. O FCK Portugiesen garante um emprego fora do futebol e, aos que se destacarem no campo, uma projeção que dificilmente teriam em Portugal.

«A hipótese de dar o salto e ser profissional na Alemanha é muito grande. Até à quinta divisão, praticamente todos os clubes têm esse estatuto. Na quarta divisão há 96 equipas e todas são profissionais. O Artur e outros portugueses que estão connosco têm grandes possibilidades de saltar para esse nível.»

Rui Clemente, o treinador do FCK Portugiesen, diz que na 4ª divisão há clubes a pagar remunerações «superiores às da II Liga portuguesa» e que mesmo na 5ª divisão alemã é possível auferir «à volta de 2500 euros».

Aldridge, Mozer e Dominguez juntaram-se aos portugueses do FCK

«Temos a ambição de colocar os nossos atletas em plano de destaque, chamar a atenção de clubes de dimensão superior e transferi-los.»

De uma forma simples, Tiago Clemente resume os objetivos da instituição que está ligada ao grande Kaiserslautern. Tiago continua em Portugal, está a terminar a Licenciatura em Ciências do Desporto na Universidade do Algarve e é treinador adjunto no Lagoa – I Divisão Distrital da AF Algarve. Futebol por todo o lado. E muita criatividade.

«Temos conseguido ter um vídeo antes de cada jogo enviado por grandes figuras do futebol. O John Aldridge, que vive aqui perto do mim no Algarve, o Carlos Mozer, o José Dominguez, o treinador Quim Machado, e muitos outros, já contribuíram. Precisamos de mais patrocínios para lutar por coisas mais ambiciosas.»

Para que esta ambição tenha resultados objetivos, o treinador Rui Clemente instituiu um rigoroso plano de trabalho. O plantel trabalha junto três vezes por semana e, nos outros dias, o treinador e os assistentes trabalham com os jogadores que entendem ter condições especiais.

«Há muitos atletas portugueses com qualidade nas ligas inferiores do nosso país. Se tiverem ambição e humildade, a Alemanha é um bom lugar para eles. O nosso clube ajuda com as burocracias, com a procura de emprego e habitação. Saio de casa todos os dias às oito da manhã e chego às dez da noite, mas vale bem a pena.»

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