Manafá: de filho do roupeiro no Oliveira do Bairro ao FC Porto - TVI

Manafá: de filho do roupeiro no Oliveira do Bairro ao FC Porto

Wilson Manafá - Oliveira do Bairro

Já foi leão e cresceu nos Falcões do Cértima. Uma viagem às origens do menino «franzino» que reforçou os campeões nacionais

«Só vinha atrás da linha do meio campo para pegar na bola e deixá-la na baliza. O nosso treinador [Carlos Freitas] dizia que ele, taticamente, era zero. E que, tecnicamente, era 100 por cento. Nessa altura, ele já estava a treinar no Sporting, mas jogava connosco. O treinador chegou a metê-lo no banco de suplentes por não treinar connosco durante a semana, mas certo é que ele sabia que iríamos precisar dele. Chegava lá dentro e fazia a diferença».

Assim era Wilson Manafá nos tempos de teenager, no Oliveira do Bairro. Descreve-o Ricardo Oliveira, seu colega nos juniores durante uma época.

De cabelo robusto e velocidade de ponta já reconhecida, o menino luso-guineense que despertou para o futebol nos Falcões do Cértima chegou ao topo do futebol português aos 24 anos. Do Campo de São Sebastião ao Dragão, para o FC Porto, garante quem com ele partilhou balneário: um menino tranquilo. Extremo com olhos na baliza dentro de campo, brincalhão fora deste.

Manafá jogou 11 épocas no Oliveira do Bairro, onde fez a estreia como sénior. Seguiu-se o Sporting, onde ainda jogou como júnior, até à equipa B. Sairia do leão – até com uma cláusula anti-rivais – para descer um degrau e subir a escadaria, de 2014 até hoje: Beira-Mar, Anadia, Varzim, Portimonense. FC Porto, por fim.

«Já conheço o Manafá quase desde criança. Crescemos a jogar futebol no Campo de São Sebastião. Nos escalões de formação, ele estava sempre um abaixo, é mais novo. Cruzámo-nos no meu primeiro ano de sénior, ainda ele era júnior. Curiosamente, ele jogava a extremo de um lado e eu do outro. Já era muito rápido, apesar de franzino», descreve Aranha, que jogou com Manafá no Oliveira do Bairro, em 2011/2012, reencontrando-o no Anadia, em 2015/2016.

                  Manafá nos tempos do Oliveira do Bairro, clube onde começou 

«O Manafá fazia a diferença e sabia disso»

Aranha e Ricardo Oliveira concordam que Manafá já tinha timbre para decidir jogos nessa altura. Sobressaía entre os demais, sempre a extremo. A polivalência e a adaptação a lateral surgiram mais tarde.

«Na altura era muito mais talhado para atacar do que para defender», nota Aranha. «Encarava sempre os jogos na “brincadeira”, pois sabia da sua qualidade e da qualidade que a equipa tinha. O Manafá fazia a diferença e sabia disso», frisa Ricardo Oliveira.

No Oliveira do Bairro, entre a formação e o arranque entre os adultos, Manafá nutria gosto pelos flancos. Era ali que se sentia bem para ajudar a equipa e fazer o que sabia. «O treinador dava-lhe a liberdade para mostrar o que ele valia. Tinha muita velocidade e era muito forte tecnicamente», insiste Ricardo.

O Sporting descobri-lo-ia e Manafá seria leão de 2012 a 2014. Ali, enquanto júnior, teve as primeiras adaptações a lateral, mas foi a extremo que se destacou. Palavra de um ex-colega, que na altura também sobressaia na equipa B verde e branca: Betinho.

«Como jogador, sempre foi interessante, com características especiais, principalmente a velocidade. Tem evoluído e, neste momento, é um excelente jogador. Na altura era mais extremo», nota o avançado, hoje no Lusitânia Lourosa. Mas por que é que a ascensão no Sporting não resultou?

«Na equipa B havia muita qualidade na altura. Tinha jogadores como o Daniel Podence e um ou outro que, se calhar, não “deixavam” tanto brilhar ou jogar o Manafá. Foi quando ele tomou a iniciativa de sair do Sporting», conta Betinho, que se cruzou cinco meses em Alcochete com o agora dragão.

E foi após essa primeira passagem por um dos ditos grandes que Manafá recuou para progredir até ao topo. Seguiu-se o Beira-Mar, na II Liga. Depois, uma passagem fugaz mas decisiva no Anadia. Em meia época, resolveu jogos e ajudou a equipa a ir a uma inédita luta pela subida à II Liga. Ali reencontrou Aranha, que atesta: «quando ele regressa, já formado, as características continuavam intactas. A velocidade, o poder de desequilíbrio. Foi uma grande ajuda», recorda.

Wilson Manafá jogou 11 épocas no Oliveira do Bairro

«O pai dele era o roupeiro e a mãe ajudava quando era possível»

Manafá cresceu em Oliveira do Bairro e a família nunca ficou dissociada nem longe do percurso dele. Os pais ajudavam o clube local. «Era muito apoiado e adorado por todos. O pai dele era o roupeiro da equipa sénior do clube e a mãe ajudava quando possível», conta Ricardo.

Aliás, Mussa Manafá, o pai, é ainda o roupeiro do clube. Joni Manafá, o irmão de 15 anos, também joga. Passou pelo Oliveira do Bairro e está agora no Fermentelos.

Da família à personalidade fora de campo, uma pessoa de bem com os outros e com a vida. Ricardo nota-o, na primeira abordagem do Maisfutebol para falar do colega. «Sobre o Manafá? Claro, ele merece», atira. «Era brincalhão, criava bom ambiente no balneário, tínhamos boa equipa e costumávamos combinar jantaradas juntos», acrescenta.

Aranha pertence a um grupo de amigos comum com Manafá e fala de «uma pessoa pacífica, tranquila e humilde». Já Betinho, que não vivenciou tanto com o reforço dos dragões, lembra alguém «tranquilo». «Ele tinha um grupo mais restrito, estava mais vezes com o Mauro Riquicho e o Ricardo Esgaio. Mas tenho boas recordações», ilustra.

«FC Porto? Não surpreende, as capacidades estavam lá»

De Oliveira do Bairro para a ribalta nacional no FC Porto, a qualidade e a ascensão de Manafá não surpreende antigos colegas. À capacidade individual no percurso de outrora, era juntar maturidade e coesão tática.

«Não me surpreende, as capacidades estavam lá. Foi uma questão de ganhar um bocadinho de maturidade como jogador. Na passagem pelo Anadia, veio um jogador mais maduro. Quando ele chegou foi quase como um balão de oxigénio, resolveu muitos jogos», nota Aranha.

«Se há quatro ou cinco anos me dissessem isso, via um trajeto difícil, mas se visse a época que ele está a fazer este ano, tanto podia ir para um FC Porto, Benfica ou Sporting», defende Betinho.

Entre palavras sãs, recordações e elogios, uma certeza: o falcão franzino de Oliveira do Bairro cresceu. Agora, vai tentar mostrar-se num dos maiores palcos de Portugal.

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