Salazar é o «Grande Português» - TVI

Salazar é o «Grande Português»

  • Portugal Diário
  • 26 mar 2007, 01:16
António Oliveira Salazar [arquivo]

Antigo ditador português foi escolhido como o «melhor português de sempre» pelos telespectadores da RTP1, que votaram no concurso. No segundo posto, ficou Álvaro Cunhal, seguido pelo diplomata Aristides de Sousa Mendes

António Oliveira Salazar venceu esta noite o programa da RTP1 «Os Grandes Portugueses», à frente do líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, e do antigo diplomata português Aristides de Sousa Mendes, responsável pela fuga de muitos judeus ao regime Nazi, durante a II Guerra Mundial.

O líder do regime ditatorial, que terminou no dia 25 de Abril de 1974, superou ainda, com 41 por cento dos votos, outros sete finalistas.

No quarto lugar ficou o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, à frente do autor dos Lusíadas, Luís de Camões. D. João II foi o sexto desta lista, que nos restantes lugares contemplou ainda o Infante D. Henrique, Fernando Pessoa, Marquês de Pombal e Vasco da Gama.

«Apenas um concurso»

O professor universitário Jaime Nogueira Pinto, que apresentou o documentário sobre o antigo ditador, recusou que a censura e a polícia política fossem falhas que lhe pudessem ser atribuídas. «Isso não é uma fraqueza de Salazar, é uma fraqueza de um regime que não é um regime democrático», disse, durante o programa conduzido pela apresentadora Maria Elisa.

«A principal fraqueza é talvez uma falta de atenção e até talvez de conhecimento da vida das pessoas comuns. A partir de uma certa altura Salazar está desligado, concentrado em grandes questões, como as de África e as internacionais», afirmou ainda, quando ainda não tinham sido revelados os resultados da votação.

Depois de anunciada a esmagadora vitória de António Oliveira Salazar, que obteve 41 por cento dos votos, o académico reagiu, desdramatizando. «Isto essencialmente é um concurso. Não vamos fazer disto nem uma catástrofe política nem uma grande restauração política», defendeu, explicando que aceitou participar no programar por considerar que «uma parte da história do século XX que está muito mal contada».

«Imagem terrível de Portugal»

Ana Gomes, que apresentou o documentário de Vasco da Gama, lamentou o resultado da votação. «Acho que dá uma imagem terrível de Portugal e dos portugueses e que não corresponde à realidade do país, embora não ponha em causa a realidade da votação», disse, concordando, com Jaime Nogueira Pinto, num aspecto: «Isto é apenas um concurso. Fico triste mas não dramatizo».

«Aceitámos as regras do jogo»

Paulo Porta, que representou o rei D. João II, também desvalorizou o resultado do concurso. «Todos nós aceitámos as regras do jogo de submeter personagens históricos a voto. Não vale a pena estar a criticar o método que obviamente é duvidoso». Uma explicação: «Neste tipo de concursos mobilizam-se sobretudo as pessoas que tem maior empenhamento nalguma ideia»

«Fica disto tudo que os portugueses acham que o século XX português foi bom. Eu, pessoalmente, não acho. Acho que tivemos muito poucos momentos felizes e prósperos», disse ainda Paulo Portas.

«Branqueamento do fascismo»

A voz mais crítica da noite foi a de Odete Santos, que apresentou o documentário de Álvaro Cunhal. «A apologia ao fascismo é proibida pela constituição», disse logo no momento em que a vitória de Salazar foi anunciada.

«Quero dizer que afinal o PCP tinha razão na carta que mandou à RTP, há não muito tempo, sobre este programa e o que iria resultar daqui, que era o branqueamento do fascismo», frisou, apontando: «Isto são sinais dos tempos. A nível mundial eles são muito maus e são no sentido da direita e se, um dia lá poderem chegar, do fascismo, porque o capitalismo aproveita todos os regimes menos um: o comunismo».

Odete Santos lamentou ainda a escolha de «uma pessoa que advogou a pobreza para o país». «O povo vivia à luz das candeias (...), o povo sofria de analfabetismo, porque, para Salazar, um povo culto era ingovernável, a frase é dele. É pena que isto tenha acontecido, mas o mundo não terminou e o fascismo não levará por diante», concluiu.
Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE