Um ano para o Mundial, as Confederações como teste e as sombras - TVI

Um ano para o Mundial, as Confederações como teste e as sombras

Logotipo do Campeonato do Munde de 2018 na Russia

A bola vai rolar já nos únicos quatro estádios que estão operacionais, dos 12 que irão receber a competição no próximo ano. Um primeiro teste à Rússia, com a FIFA a tomar por estes dias posição sobre temas que inquietam em relação à organização russa e a Alemanha a avisar que vai usar as Confederações para passar uma mensagem «sociopolítica»

A Rússia começou a contagem decrescente, falta exatamente um ano para o Mundial 2018, e está aí a Taça das Confederações como ensaio geral. A bola vai rolar já nos únicos quatro estádios que estão operacionais, dos 12 que irão receber o Campeonato do Mundo no próximo ano. Para lá da competição, onde Portugal se estreia, este é um primeiro teste à Rússia, sob sombras que persistem. Ainda nesta quarta-feira, enquanto assinalava a contagem descrescente para o Campeonato do Mundo, a FIFA emitia dois comunicados sobre temas que inquietam em relação à organização russa: as condições de construção dos estádios e o respeito pelas liberdades e direitos universais. E a Alemanha avisava que vai usar as Confederações para passar uma mensagem «sociopolítica».

A Rússia como anfitriã do Mundial levantou desde sempre muitas questões. A começar, claro, pelo próprio processo de atribuição da organização, investigado por suspeitas de corrupção, tal como a vitória do Qatar para 2022.

São muitas as questões sociais, e por arrastamento políticas, em torno da Rússia. Que se têm traduzido em debate e preocupação sobre questões como a legislação restritiva da homossexualidade, as revelações de doping generalizado promovido pelo Estado russo ou o hooliganismo que assomou no Euro 2016. E ainda o racismo. Recorrente nos estádios russos, como têm assumido muitos jogadores que por lá passaram. O português Manuel Fernandes, por exemplo, falou sobre isso mesmo numa entrevista recente ao Maisfutebol.

O presidente da Federação alemã (DFB), Reinhard Grindel, deu o tom numa conferência de imprensa nesta quarta-feira em que abordou várias destas questões, dizendo que a comitiva dos campeões do mundo vai querer envolver-se em «atividades sociopolíticas» e ele próprio vai fazer num encontro com o embaixador alemão na Rússia um discurso sobre a responsabilidade social do futebol. «Queremos usar o poder do futebol para desenvolver contacto com a população civil. Não se trata apenas da elite com poder, trata-se de pessoas normais a conviver e a conhecerem-se», afirmou, defendendo de caminho que os jornalistas estrangeiros em trabalho na Taça das Confederações não tenham quaisquer restrições ao seu trabalho: «Queremos deixar claro que liberdade de expressão, liberdade de imprensa e direto de reunião são coisas com que a Rússia se comprometeu.»

Disse também que as Confederações serão um teste para o Mundial no que diz respeito à segurança, depois dos incidentes de Marselha no Euro 2016, quando grupos organizados de hooligans russos espalharam o terror antes do jogo com a Inglaterra: «O ambiente na Taça das Confederações vai determinar se os nossos adeptos vão viajar para a Rússia. As imagens que vimos em França dão-nos razões para nos preocuparmos.»

FIFA anuncia medidas contra comportamentos anti-discriminatórios

Também a FIFA sentiu necessidade de abordar diretamente algumas destas questões em vésperas da Taça das Confederações. Nesta quarta-feira o organismo que tutela o futebol mundial anunciou para a Taça das Confederações poderes reforçados para os árbitros em situações de comportamento discriminatório, naquele a que chama um procedimento em três passos. O árbitro pode começar por pedir que seja feito um aviso pela instalação sonora, mas tem também poder para suspender o jogo «até que o comportamento pare» e, por último, «se o comportamento persistir», decidir suspender o jogo».

Haverá ainda nos estádios «observadores anti-discriminação», que poderão ajudar a lidar com incidentes, bem como a reunir dados para os reportar às instâncias disciplinares da FIFA.

No mesmo dia, a FIFA veio tomar posição sobre outro assunto, as condições de construção dos estádios. O tema voltou a ser levantado pela organização Human Rights Watch, que acusou a FIFA de ter falhado na proteção dos direitos dos trabalhadores, sobretudo migrantes. Num relatório de 34 páginas, a ONG fala em situações como «salários não pagos ou com atrasos de vários meses», ausência de contratos legais ou operários forçados a trabalhar com «temperaturas inferiores a 25 graus negativos sem proteção suficiente». E cita dados do Sindicato Internacional de Trabalhadores da Construção que falam em pelo menos 17 mortes de operários nas obras dos estádios russos.

Denúncias que se juntam a várias outras, nomeadamente aquela que falou na existência de trabalhadores norte-coreanos no estádio de São Petersburgo em situação de quase escravatura.

A FIFA emitiu agora um comunicado a defender que instituiu há um ano um sistema de controlo e monitorização das obras, por uma «entidade independente». Relata que têm sido feitas inspeções regulares aos estádios e que os problemas encontrados têm vindo a diminuir. «Os resultados da quarta e quinta série de inspeções mostram que as empresas de construção retificaram cerca de 80 por cento das questões encontradas em visitas prévias», diz o comunicado da FIFA.

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