Eurovisão: a reação de Salvador Sobral à vitória - TVI

Eurovisão: a reação de Salvador Sobral à vitória

  • CM
  • 14 mai 2017, 00:32

Cantor português diz que foi uma vitória da música "que significa alguma coisa" e critica a "música descartável"

Salvador Sobral, que venceu o festival da Eurovisão, um feito inédito para Portugal, apelou à mudança.

Vivemos num mundo de música descartável, de música ‘fast-food’ sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa.”

O cantor português falava depois de ter sido anunciada a sua vitória no festival da Eurovisão, e antes de interpretar novamente, desta feita acompanhado pela irmã, Luísa Sobral, autora da música e letra da canção "Amar pelos Dois".

O importante é continuar a fazer música, mas sinto que é um bom passo que as pessoas tenham gostado desta música, que tem tanto conteúdo, emocional, lírico, melódico, acho que isto pode ajudar de alguma maneira, se calhar até nos anos próximos a Europa trazer músicas com um bocadinho mais de significado a todos os níveis.”

Questionado sobre se esta vitória significa a entrada do cantor na história, Sobral disse não querer pensar nisso, recordando a digressão que tem agendada para os próximos meses, com concertos a partir do próximo sábado em Marco de Canavezes, seguindo-se o Cartaxo (26 de maio) e Ovar (27 de maio), antes de prosseguir a 10 de junho em Ílhavo com datas que continuam até agosto.

A minha irmã tem um talento incrível, nunca duvidei e agora toda a Europa pode ver que qualquer canção que ela faça a Europa fica tocada”, disse ainda Salvador Sobral num elogio à irmã.

“Amar pelos Dois” obteve 758 pontos na votação combinada dos júris nacionais e do público, na final do festival disputada por 26 países, em Kiev, na Ucrânia.

VEJA TAMBÉM: Marquês em silêncio para se cantar Salvador Sobral

VEJA TAMBÉM: O Marquês vibrou com o triunfo de Salvador Sobral

Mais tarde, na conferência de imprensa que se seguiu, Salvador Sobral disse que seria estranho pensar em si próprio como um herói nacional, até porque esse herói é Cristiano Ronaldo.

Só quero viver uma vida sossegada. Espero que isso possa acontecer, tenho a certeza que sim. Talvez no princípio seja um pouco agitado. Se pensasse em mim como um herói nacional seria um pouco estranho.”

Face a uma pergunta sobre o apelo que fez de apoio aos refugiados na conferência de imprensa que se seguiu à primeira meia-final, Salvador Sobral disse não pretender acrescentar nada ao que já havia afirmado, mas realçou que transmitiu uma mensagem sobre os refugiados por acreditar ser o maior problema com que a Europa se confronta atualmente, sem querer ser político.

Recebemos um e-mail da organização a dizer que não podia continuar a usar aquela camisola [que dizia 'SOS Refugiados']”, explicou Salvador Sobral, por não serem permitidas mensagens políticas ou comerciais: “Pensei que era estranho. E se vestir uma camisola da Adidas, é uma mensagem comercial? Era apenas humanitária. Já disse tudo o que tinha a dizer, não penso que deva apertar o mesmo botão outra vez..

Sobral, que disse nunca ter escrito uma canção com o propósito de passar na rádio, frisou que a sua vida não vai mudar em nada e que vai prosseguir com a digressão prevista para este verão.

Nunca quis saber dos votos, só quis cantar uma canção bonita como ela é."

Por seu lado, Luísa Sobral, irmã do cantor, disse acreditar que a principal razão para a canção portuguesa ter sido a escolhida talvez se prenda com a sua "simplicidade".

Durante a conferência de imprensa, o supervisor executivo da União Europeia de Radiodifusão, Jon Ola Sand, enalteceu o trabalho da organização local em Kiev e disse que a preparação para 2018, em Portugal, começa “já na segunda-feira”.

As felicitações: de Marcelo ao Benfica

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou hoje Salvador Sobral pela vitória no Festival da Eurovisão da Canção, disse à Lusa fonte da Presidência.

"Quando somos muito bons, somos os melhores dos melhores. Muitos parabéns ao Salvador Sobral", foi a mensagem enviada ao intérprete português.

Também o primeiro-ministro felicitou Salvador Sobral, considerando que se fez história em português.

Do mundo desportivo chegaram mais felicitações.

“É histórico, Salvador Sobral! 10 meses depois, um novo 11 conquista a Europa! Parabéns, Salvador”, lê-se numa mensagem no Twitter da FPF, que compara a conquista do Euro2016 de futebol em julho de 2016 ao triunfo do cantor, que foi o décimo primeiro a atuar na final.

Também o Benfica, que no sábado conquistou o 36.º título de futebol, quarto consecutivo, felicitou Salvador Sobral, que é adepto do clube.

“E não somos os únicos vencedores da noite...! Parabéns, Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão”, escreveram os encarnados na mesma rede social.

Os elogios do mundo da música

A cantora Simone de Oliveira deu os parabéns a Salvador Sobral, afirmando estar "numa felicidade" como se a vitória também fosse sua.

"Estou felicíssima, estou contentíssima por Portugal, pela música ligeira portuguesa. A ver se as pessoas passam a perceber que é preciso haver melodia e que é preciso haver palavras, e que é preciso haver sensibilidade, é preciso cantar bem", afirmou a cantora em declarações à agência Lusa, após a vitória de Salvador Sobral.

"Estou numa felicidade que não há explicação. Até parece que fui eu, pronto", acrescentou a cantora que em 1969 representou Portugal no Festival da Eurovisão, em Madrid, com o tema "Desfolhada Portuguesa", no qual ficou em último lugar, sem votos.

Simone aproveitou também para deixar "um grande abraço ao Salvador, e à irmã e à música ligeira portuguesa".

"Aleluia, aleuia, aleluia, que Portugal, com a nossa língua, venceu lá fora", vincou.

Considerando que a prestação de Salvador Sobral foi "uma beleza", a cantora observou que "foi espantoso que tantos países deram a pontuação máxima a Portugal".

"Eu acho que é assim uma coisa extraordinária, brilhante", adiantou, afirmando que "sempre disse que era possível", mas com um "ponto de interrogação".

Isto, "porque a gente nunca sabe o que é que as pessoas depois na última hora decidem, ou julgam", explicou.

Quanto à realização da próxima edição do Festival Eurovisão da Canção em Portugal, Simone de Oliveira brincou com a situação. 

"Agora quero ver para o ano como é que saímos desta embrulhada. A partir de hoje é que vão ser elas, é capaz de ser na Praça do Comércio."

Igualmente o músico Paulo de Carvalho congratulou-se com a vitória de Salvador Sobral, assinalando que ganhou a "música séria, bem feita, feita com amor", que "faz muito sentido ser ouvida".

Em declarações à Lusa, o cantor e compositor português manifestou-se "feliz pela música portuguesa" e por Salvador Sobral, "um excelente músico".

Segundo Paulo de Carvalho, "faz muito sentido esta música ser ouvida", uma música "séria, bem feita, feita com amor", que "escapa a quem faz o negócio" discográfico.

Paulo de Carvalho foi ao Eurovisão em 1974, com "E depois do adeus", que serviu de senha para a Revolução do 25 de Abril, tendo ficado em último lugar 'ex-aequo' com os intérpretes da Noruega, Alemanha e da Suíça.

O compositor e músico dos Deolinda Pedro Silva Martins considerou que Salvador Sobral teve uma “interpretação arrebatadora” na Eurovisão, da qual saiu vencedora “a canção, não o festival”.

“Foi uma final muito sofrida e fiquei feliz. Ganhou a canção, e não o festival. Era importante que isso acontecesse”, disse à Lusa Pedro Silva Martins, que adiantou que passou o dia “um pouco nervoso com esta final” por ser amigo da autora da canção, Luísa Sobral, e conhecer Salvador.

“É importante voltar ao essencial, e o essencial é a música”, disse o compositor que este ano também participou no Festival da Canção da RTP, compondo a música “Eu nunca me fui embora”, interpretada por Lena D’Água.

Pedro Silva Martins revê-se no “recado” deixado por Salvador Sobral no palco da Eurovisão, depois de ter sido anunciada a sua vitória, ao criticar o mundo de “música descartável” em que vivemos, e afirmando que “a música não é fogo-de-artifício, é sentimento”.

“O Salvador veio baralhar as ideias feitas do que é uma canção ideal para o festival. Acho que às vezes perde-se o essencial com tanto aparato. O Salvador traduz o que penso em relação à música”, disse Pedro Silva Martins, que destacou “a simplicidade de fazer arrepiar com uma canção”.

O compositor revelou que uma das sensações que tinha ao participar no Festival da Canção “era a de que as pessoas em Portugal estão pouco abertas à novidade”.

“O Salvador veio mudar isso. Esta vitória é uma mudança”, defendeu.

Pedro Silva Martins disse que “o país está de parabéns”, que esta é “uma vitória de um esforço conjunto” e que “a música portuguesa já merecia esta distinção”, referindo que a vitória de Salvador Sobral dá continuidade a uma visibilidade internacional que nomes como António Zambujo, Ana Moura, ou os próprios Deolinda têm conquistado nos últimos anos.

“Penso que vão olhar para a música que se faz em Portugal de outra forma”, disse o compositor que se identifica com o posicionamento de Salvador Sobral em relação à música.

Continue a ler esta notícia