Viver com um adolescente fá-lo sentir que tem um chimpanzé em casa? Este estudo mostra que pode não estar assim tão errado - TVI

Viver com um adolescente fá-lo sentir que tem um chimpanzé em casa? Este estudo mostra que pode não estar assim tão errado

  • CNN
  • Madeline Holcombe
  • 4 fev 2023, 09:00
Chimpanzés. Foto: Anup Shah/Stone RF/Getty Images

Tal como os jovens humanos, os chimpanzés adolescentes passam por mudanças hormonais rápidas, a criação de novos laços sociais, uma maior agressividade e uma competição pelo estatuto social

Os chimpanzés adolescentes podem não ser assim tão diferentes daqueles que vivem nas nossas casas, diz um novo estudo. 

Tirando o facto de o seu adolescente poder ser mais impulsivo.  

Os investigadores trabalharam com 40 chimpanzés selvagens num santuário na República do Congo, jogando jogos que testaram a orientação dos animais adolescentes para correr riscos e a sua impulsividade, de acordo com o estudo publicado a 23 de Janeiro no Jornal de Psicologia Experimental da Associação Americana de Psicologia.

"Os adolescentes humanos estão a lutar com os corpos e cérebros em mudança, e tendem a ser mais impulsivos, procuram correr mais riscos e são menos capazes de regular as emoções do que os adultos", diz, por e-mail, a autora principal do estudo, Alexandra Rosati, professora associada de psicologia e antropologia na Universidade do Michigan. "Os chimpanzés enfrentam muitos dos mesmos tipos de desafios que os humanos à medida que crescem."

O estudo descreveu a adolescência dos chimpanzés como um período que vai dos 8 aos 15 anos numa vida com 50 anos. Tal como os jovens humanos, eles passam por mudanças hormonais rápidas, a criação de novos laços sociais, uma maior agressividade e uma competição pelo estatuto social.

Os chimpanzés adolescentes são negligenciados nos estudos em comparação com as crianças e os adultos, diz Aaron Sandel, professor assistente de antropologia na Universidade do Texas em Austin, que não esteve envolvido no estudo atual.

"Durante algum tempo houve uma grande lacuna na literatura sobre [chimpanzés] adolescentes", diz Aaron, salientando que os investigadores muitas vezes não se concentram nesta faixa etária. Os cientistas podem evitar estudar os chimpanzés adolescentes porque as suas próprias experiências humanas com a adolescência são complicadas, argumenta.

O novo estudo descobriu que os chimpanzés adolescentes eram mais propensos a correr riscos nos seus jogos do que os seus homólogos adultos, mas também que esperavam da mesma forma por uma recompensa mais relevante mais tarde.

Mas os adolescentes humanos são mais propensos a aceitar uma recompensa menor e mais imediata, revela o estudo.

As decisões dos chimpanzés

Os chimpanzés foram submetidos a dois testes com recompensas alimentares. Estes animais tendiam a não gostar de pepinos enquanto gostavam um pouco de amendoins e adoravam bananas.  

O primeiro teste envolveu um pouco de risco. Tanto os chimpanzés adultos como os adolescentes foram convidados a escolher entre dois recipientes: um que tinha sempre amendoins e outro que tinha ou o temido pepino ou a desejada banana.

Os chimpanzés adolescentes tinham mais probabilidades de arriscar e de optar pelo contentor do pepino ou da banana do que os adultos, mostrou o estudo. Ambos os grupos apresentaram reacções negativas semelhantes - tais como gemidos, lamúrias, gritos e pancadas sobre a mesa - quando acabaram por receber um pepino.

O segundo teste assemelhou-se a um bem conhecido que costuma ser realizado com crianças humanas. Os chimpanzés tinham de optar entre ter um bocado de banana imediatamente ou esperar um minuto e depois receber três bocados.

Tanto os adultos como os adolescentes esperavam pelos três bocados a um ritmo semelhante, mas os adolescentes tinham mais probabilidades de se zangar enquanto esperavam um minuto, concluiu o estudo.

Num teste semelhante, os adolescentes humanos revelaram ser mais propensos a escolher a recompensa imediata e mais pequena.

"Estudos anteriores indicam que os chimpanzés são bastante pacientes em comparação com outros animais, e este estudo mostra que a sua capacidade de retardar a gratificação já está madura numa idade bastante jovem, ao contrário do que acontece nos humanos", explica Alexandra Rosati.

Aaron Sandel observou que é importante ter cuidado ao comparar a experiência dos seres humanos com a de outros animais. Embora os primatas sejam os nossos parentes mais próximos, somos espécies diferentes, salienta.

Como pensam os adolescentes

Então como pode um parente lidar com um adolescente que escolhe comportamentos de risco e odeia esperar por uma recompensa?

O primeiro passo é compreender o que se passa nos seus cérebros em desenvolvimento, diz Hina Talib, especialista em medicina adolescente e professora associada de pediatria no Colégio de Medicina Albert Einstein, em Nova Iorque.

"Acho que os adolescentes têm uma má reputação", diz. "Pensamos muitas vezes neles como diabinhos perigosos. Isto é, em parte, verdadeiro."

Os anos da adolescência humana são uma época de crescimento e desenvolvimento explosivos, acrescenta.  

Os seus cérebros estão ligados à procura de novas experiências e informações, o que muitas vezes significa correr riscos, diz Hina Talib.

Nesta altura, podem experimentar coisas novas, construir as suas ideias sobre quem são e experimentar identidades diferentes, diz Tina Bryson, terapeuta e autora de “O Poder de Estar Presente: Como a presença dos pais molda os nossos Filhos e a forma como os cérebros deles funcionam” (tradução livre de "The Power of Showing Up": How Parental Presence Shapes Who Our Kids Become and How Their Brains Get Wired") de Pasadena, na Califórnia.

Eles aprendem com a informação que obtêm, que os pode ajudar a gerir melhor o seu comportamento – mais cedo ou mais tarde, sublinha Hina Talib.

As famílias podem encorajá-los a experimentar coisas novas, diz ela, enquanto fornecem regras básicas e apoio que os ajudarão a manterem-se seguros.

"Queremos que vão a qualquer lugar e façam tudo... Neste ponto é onde podemos ter de intervir ou onde temos regras sobre alguma coisa", recomenda que os pais digam. As conversas devem "vir de uma perspetiva de estarmos aqui como o chão, como uma rede de segurança, enquanto vocês vão e têm estas espantosas experiências no trapézio."

E, embora os cérebros deles estejam a crescer muito, nem todas as áreas são capazes de ser utilizadas de forma plena e otimizada ao mesmo tempo.

Os estudantes mais velhos do ensino básico e secundário podem estar a confiar nas partes do cérebro que lidam com a emoção e a reatividade, acrescenta, enquanto as suas partes de decisão e raciocínio estão ocupadas a crescer.

Como ajudá-los a aprender a tomar de decisões

Isto não significa que os adolescentes não são capazes de tomar boas decisões e de planear a longo prazo, diz a especialista - só é preciso ajudá-los a prepararem-se para o sucesso.

"Quando as coisas estão calmas, eles são capazes de resolver problemas tão bem como os adultos", diz Hina Talib. Ajude-os a permanecer calmos quando estão com problemas e precisam de resolver um problema e guarde as conversas difíceis para quando já não estiverem stressados, acrescenta.  

Em vez de se preocupar em livrar-se da impulsividade deles, Tina Bryson recomenda encontrar formas de reforçar a tomada de decisões empáticas, ponderadas e fundamentadas.  

Encorajá-los a fazer uma pausa antes de agir e acompanhar o raciocínio com eles, aconselha. Também pode falar sobre como pensa quando está a tomar as suas próprias decisões, diz Tina Bryson.  

E enquanto os seus cérebros podem estar a sofrer mudanças, não se esqueça de chamar a atenção para as coisas que estão a fazer bem, acrescenta Hina Talib.

"Quanto mais fizer isso, mais os ajuda a verem-se a si próprios de uma forma positiva, mais isso se torna enraizado neles", diz, "e eles ficam mais capazes de enfrentar o mundo que os rodeia".

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