Euro 2016: a maior mensagem que França enviou ao mundo - TVI

Euro 2016: a maior mensagem que França enviou ao mundo

Euro 2016 (Lusa)

Acabou o maior Campeonato da Europa de sempre.

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Acabou o Europeu. De 10 de junho a 10 de julho, a França acolheu a maior prova continental de seleções. Foi sobretudo uma mensagem importante do país para o mundo, política e humana, até mais do que desportiva. Esteve longe de ser um torneio perfeito e bem jogado, houve muitos obstáculos para ultrapassar, mas terminou em apoteose para Portugal.

O Euro 2016 é uma vitória para França na luta contra o terrorismo. O país resistiu ao medo e foi para a frente na realização da prova em dez estádios de dez cidades (contando com Saint Denis).

Reforçou a segurança, passou por alguns sustos – como a situação de pânico vivida na fanzone da Torre Eiffel, provocada pelo rebentamento de um petardo – teve de voltar a lidar com o hooliganismo, desta vez o russo, e com adeptos mais difíceis como os croatas e os polacos, e chegou ao fim sem grandes sobressaltos.

Uma facção radical de adeptos polacos provocou distúrbios antes do jogo com Portugal

Claro que o aparato notou-se – sobretudo nos jogos no Stade de France, em que alguns veículos mal estacionados pagaram por excesso pela infração – no contingente que no final de todos os jogos desembocava no meio de um trânsito infernal, fosse qual fosse a hora. Mesmo no dia da final, uma mochila abandonada perto do hotel da seleção gaulesa obrigou a que o local fosse evacuado e a presença da brigada de minas e armadilhas, confirmando-se posteriormente apenas tratar-se de um objeto esquecido. A memória do que aconteceu no Bataclan, em Paris, e depois no aeroporto de Bruxelas ainda está bem fresca em todos.

O Campeonato realizou-se também num momento conturbado a nível social, em plena crise económica, e com muitas greves a atravessar os primeiros dias da prova. Lixo nas ruas, metropolitano parado, trânsito caótico e esplanadas desertas marcaram os primeiros dias de competição. Com o tempo, o futebol passou a ser o principal tema nas conversas.

As 24 equipas, e Portugal apurado com empates

Se a primeira batalha foi ganha, a segunda, em nome de um futebol de ataque, perdeu-se à partida, com a presença, pela primeira vez, de 24 equipas. O apuramento dos quatro melhores terceiros classificados terá aberto a caça ao empate e fechado um pouco mais os encontros. Portugal tornou-se a primeira equipa da história dos Euros a qualificar-se para jogos a eliminar apenas com empates, embora seja importante realçar que apenas se tenha sido confortável com a situação nos minutos finais da partida frente à Hungria, com o apuramento garantido.

Claro que mais equipa significa mais jogos, mais receitas, com os direitos televisivos no topo, e mais dinheiro distribuído pelas federações. No entanto, a fórmula esteve longe de contribuir para a melhoria do espetáculo.

Uma das grandes imagens do Euro

A comunhão entre jogadores e adeptos

O Euro 2016, que falhou um pouco nas primeiras semanas no arrastar de algumas cidades para o turbilhão de festa de uma fase final, mostrou por outro lado a aproximação entre jogadores e as suas gentes, comunhão simbolizada pelo haka islandês e pela retribuição feita pelos jogadores nórdicos no triunfo histórico frente à Inglaterra e, posteriormente, após a eliminação no Stade de France.

O cântico passou cedo a ecoar por todos os estádios do Campeonato, tendo sido plagiado por outras claques, inclusive a portuguesa, e usada sem pudor pelos franceses desde o embate com a equipa de Lars Lagerback.

Gales, a outra surpresa

As surpresas

A Islândia teve como companhia no lote das grandes surpresas o País de Gales. O estreante caiu apenas nas meias-finais frente a Portugal, depois de Gareth Bale e Aaron Ramsey, grandes figuras do conjunto de Chris Coleman, terem arquitetado uma campanha memorável, recheada de golos e com um grande feito: a eliminação da Bélgica na ronda anterior.

On fire, mas no banco

Uma história, também muito britânica, prolongou-se para lá dos limites do terreno de jogo, a de Will Grigg, o avançado do terceiro escalão inglês que não esteve um minuto em campo durante o torneio, mas que se tornou famoso por um refrão cantado incansavelmente pelos adeptos da Irlanda do Norte.

O ponta de lança tinha marcado 28 golos em 43 jogos pelo Wigan, conquistou o direito de estar na fase final e o «Will Grigg’s on fire, your defence is terrified» a fazer vibrar as bancadas.

Três desilusões

No capítulo das desilusões, há três principais figurantes. A Inglaterra, em primeiro lugar. Considerada um dos candidatos ao triunfo no dia 10 de julho, não chegou aos quartos, tendo sido derrotada pelo passado: o estilo ainda mais direto, simples e objetivo dos islandeses. Roy Hodgson demitiu-se logo depois e em Terras de Sua Majestade continuaram em negação durantes vários dias. As manchetes dos tabloides britânicos refletiram a ideia de desastre, vingando-se com o posterior triunfo dos Bleus: «França, 5-Equipa que eliminou Inglaterra, 2».

A Inglaterra colocou o país em estado de negação

A Espanha, campeã da Europa em título, caiu perante uma Itália organizada e extremamente competente e mais do que a eliminação foi a forma como foi eliminada que dá o tom de desilusão. La Roja foi completamente destroçada pelo conjunto transalpino, sobretudo com rápidos contra-ataques, e perdeu por 2-0. No plano individual, salvou-se Iniesta. O médio do Barcelona foi dos que menos mereceram sair tão cedo do Europeu, com grandes exibições nos primeiros jogos, mas foi penalizado por aquilo que parece ser uma fase de transição do futebol da seleção espanhol, e que entrará em novo ciclo também devido à saída consumada de Vicente del Bosque.

Também a Bélgica, que assim que passou De Bruyne para uma posição mais central melhorou e muito o seu rendimento coletivo, tornando-se favorita à presença na final assim que ficou conhecido o alinhamento dos oitavos, peca pela eliminação, de forma estrondosa, frente ao País de Gales. Fragilizada pelas muitas lesões no setor defensivo e depois de ter inaugurado cedo o marcador, os belgas deixaram que o jogo virado e perderam por 3-1.

Portugal, o patinho-feio

O futebol-arte, o apelido de Brasil da Europa, deixou de estar associado a Portugal. Não foram só os franceses que criticaram desde o início, as conversas iniciais com jornalistas de outros países traziam invariavelmente o franzir do sobrolho associado. O estilo português não cativava. Com dificuldades na construção e um jogo muito pouco fluido, demasiado mastigado e excessivamente controlado, ao que se associaram empate atrás de empate, a Seleção não ganhava o partido de ninguém. Muitas vezes também do seu próprio país chegavam essas críticas, o que deixava Portugal só com os seus emigrantes. Esses sim mantiveram-se fiéis ao um sonho de vitória, que não se apoiava em aspetos técnicos do jogo, mas sim num patriotismo desmedido e embebido de expetativa. Mereceram tanto como o grupo de jogadores, técnicos e staff da federação a apoteose de St. Denis.

O relvado de Lille foi substituído antes do Alemanha-Eslováquia

Relvados com problemas

A UEFA só conseguiu controlar o problema em definitivo quando passou a impedir as equipas de realizar os habituais treinos de adaptação ao relvado. Lyon e Marselha chegaram a ter problemas evidentes, sobretudo o tapete do Vélodrome, que se apresentou algo irregular inclusive para o jogo dos quartos de final com a Polónia. O de Lille foi mesmo substituído já no decorrer da prova.

Arbitragens sem grandes casos

Casos e queixas existem sempre, mas o Euro 2016 passou ao lado de grandes polémicas. Um sinal de boas escolhas por parte de Pierluigi Collina, o responsável da UEFA para a arbitragem. Houve uma elevada percentagem de acerto (94,2%) nas decisões de fora da jogo (dados da UEFA), não houve necessidade da utilização da tecnologia da linha de golo e os jogadores souberam comportar-se na maior parte das vezes: três vermelhos tal como 2012, mas com um maior número de encontros, e 195 amarelos, uma média (3,9) que fica entre 2012 (3,8) e 2008 (3,93). Na final, Mark Clattenburg teve um critério disciplinar caseiro, mas nem aí se pode falar de um desfecho decidido pelos homens do apito.

As cerimónias

Se aquelas intros entre os jogos foram até interessantes a verdade é tanto as cerimónias de abertura como a de encerramento foram um falhanço visual tremendo, sobretudo para quem assistiu no local. Um fracasso, se acham graça à coisa.

A cerimónia de abertura deixou a desejar
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