Euro 2020: Sérvia-Portugal, 2-4 (crónica) - TVI

Euro 2020: Sérvia-Portugal, 2-4 (crónica)

A primeira foi mais difícil do que pareceu

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Um olhar a nu aos números da vitória expressiva de Portugal (4-2) sobre a Sérvia em Belgrado até podem levar o leitor a pensar que a equipa das quinas voltou às noites de encanto, mas foi tudo mais difícil do que pareceu.

Na conferência de imprensa na véspera do jogo, Fernando Santos disse esperar uma Sérvia mais arrojada do que no jogo da Luz (1-1) há seis meses. Mas, se os segundos 45 minutos lhe deram razão, a primeira meia hora do jogo esteve longe de corresponder ao que tinha projetado: 4x2x3x1 conservador, linhas recuadas e juntas, a convidar Portugal ao engodo.

Também montado num 4x2x3x1, mas com William mais solto do que Danilo no eixo do meio-campo, a equipa das quinas sentiu muitas dificuldades para fazer mossa junto do setor mais recuado dos sérvios.

FILME E FICHA DE JOGO

A lenta circulação de bola não é uma novidade na equipa das quinas, mas cedo se percebeu que era preciso muito mais do que isso para que Ronaldo e companhia saíssem dos Balcãs com a primeira vitória na fase de apuramento para o Euro 2020.

A estratégia da Sérvia era simples: postura expectante, aliada a transições rápidas com a bola a cair invariavelmente nos flancos, onde Kostic e Lazovic faziam a diferença com cruzamentos para uma área povoada por Mitrovic e o astuto Tadic nas costas. Com Semedo e Guerreiro várias vezes ainda em transição defensiva e José Fonte e Rúben Dias nem sempre a evidenciarem o melhor entendimento, Patrício ainda passou por um ou outro calafrio até ao golo quase acidental de Portugal.

Aos 42 minutos, Bruno Fernandes despejou para a área uma bola aparentemente inofensiva, mas a saída com os punhos de Dmitrovic foi abortada por Milenkovic, que atingiu o companheiro e entregou o primeiro do jogo a William Carvalho.

Em desvantagem no marcador e com a estratégia inicial a ir por água abaixo, a Sérvia abdicou de conservadorismos. Como quem diz: preocupou-se mais em atacar do que em defender.

A abordagem distinta tornou-se evidente no que restou da primeira parte e acentuou-se na etapa complementar. E não apenas do lado da equipa da casa.

A partir daqui, esqueça a primeira parte pastelã. Qualquer semelhança com os 45 minutos iniciais é pura coincidência.

Com os jogadores da seleção dos Balcãs mais estendidos no retângulo de jogo, sobrou espaço para Portugal, sobretudo à frente de Danilo e William.

Em dois minutos, Ronaldo ameaçou por duas vezes. Primeiro numa diagonal da esquerda para dentro; depois na cobrança de um livre em zona frontal.

O golo surgiria pouco depois, antes da hora de jogo pelo pé esquerdo de Guedes. Bernardo, Ronaldo, Bruno Fernandes e o avançado do Valência a concluir na área depois de tirar um adversário do caminho. O carrossel ofensivo nacional a funcionar pela primeira vez em todo o jogo ao minuto 58.

Coletivo e individual.

Portugal tinha o jogo na mão. Apesar da baixa de Nélson Semedo (voltou a lesionar-se na Sérvia), eram os anfitriões quem estavam de rastos, mas uma desatenção gritante de Danilo – perdeu as referências a Milenkovic – relançou o jogo.

Os níveis cardíacos subiram para índices perigosos. No minuto seguinte, Patrício negou o golo a Ljajic, mas, tirando isso, a alma dos sérvios foi mais sentida no ruído vindo das bancadas do que dentro das quatro linhas.

Assobiado sempre que tocava na bola, Ronaldo gelou o Marakana após assistência soberba de Bernardo Silva, o melhor da noite.

Nessa altura, o jogo já dava sinais de estar perigosamente descontrolado. Numa altura em que procurava segurar a possa de bola, Bruno Fernandes fez um passe sem nexo para trás e abriu uma autoestrada a Tadic, que entregou o segundo dos sérvios a Mitrovic.

No minuto seguinte, xeque-mate (agora sim) por Bernardo Silva, na conclusão eficaz após transição rápida iniciada por William Carvalho.

Ao terceiro jogo da fase de apuramento, Portugal conquista o primeiro triunfo e assume a vice-liderança do Grupo B. A equipa de Fernando Santos depende de si própria, mas continua sem praticar um futebol apelativo e desta vez nem o processo defensivo esteve ao nível habitual. Se a segunda parte foi descontrolada, a primeira não foi mais do que mediana e a falta de criatividade chegou a ser confrangedora.

Exige-se mais de quem tem tremendos intérpretes.

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